Quer entender a Bíblia?

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

SOMENTE A DEUS TODA A GLÓRIA

(Soli Deo Gloria)
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“Não a nós, SENHOR, não a nós, mas ao Teu nome dá glória, por amor da Tua misericórdia e da Tua fidelidade” (Salmo 115.1).
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Somente Deus é perfeito. Isso significa que nós somos imperfeitos.
Somente Deus é puro. Isso significa que nós somos impuros.
Somente Deus é justo. Isso significa que nós somos injustos.
Somente Deus é onipotente. Isso significa que nossa capacidade é limitada.
Somente Deus é onisciente. Isso significa que nós não sabemos tudo.
Somente Deus é onipresente. Isso significa que nós não estamos presentes a tudo.
Somente Deus é bom (Mc 10:18). Isso significa que nós somos maus.
Somente Deus é santo (Ap 15:4). Isso significa que nós somos pecadores.
Somente Deus é o Legislador (Tg 4:12). Isso significa que nós não podemos julgar os outros.
Somente Deus é imortal (1Tm 6:16). Isso significa que nós somos mortais.
Somente Deus está sobre todos (Ef 4:6). Isso significa que nós não estamos acima dos outros.
Somente Deus é por todos (Ef 4:6). Isso significa que nós não podemos ajudar a todos.
Somente Deus é em todos (Ef 4:6). Isso significa que nós não podemos influenciar todas as pessoas.
Somente há um Deus (1Co 8:4). Isso significa que nós não somos deuses, apenas criaturas.
Somente Deus é dono de tudo (1Co 8:6). Isso significa que nós não somos donos de nada.
Somente para Deus nós vivemos (1Co 8:6). Isso significa que nós não podemos viver para nós mesmos, para outras coisas, causas ou pessoas. E também que as pessoas não podem viver para nós.
Somente de Deus vem a honra que merece ser buscada (Jo 5:44). Isso significa que nós não podemos receber a honra que vem dos homens.
Somente a Deus devemos adorar. Isso significa que nós não devemos adorar a mais nada, nem ninguém (Lc 4:8).
Somente um é nosso Pai, o que está nos céus (Mt 23:9). Isso significa que nós não podemos dar reverência total a qualquer pessoa da terra.
Somente a Deus pertence o temor (Jr 10:7). Isso significa que nós não podemos temer a mais ninguém.
Somente o Senhor é Deus de todos os reinos da terra (Is 37:16). Isso significa que nós não dominamos em nada o destino das nações.
Somente o Senhor será exaltado (Is 2:17). Isso significa que nós não podemos ser exaltados; nossa arrogância deve ser humilhada e nossa altivez deve ser abatida.
Somente o nome do Senhor é exaltado (Sl 148:13). Isso significa que o nosso nome não deve ser exaltado.
Somente o Senhor Deus faz maravilhas (Sl 72:18). Isso significa que nós não podemos fazer maravilhas.
Somente o Senhor nos faz habitar em segurança (Sl 4:8). Isso significa que nós não podemos garantir nossa segurança.
Somente o Senhor conhece os corações dos homens (2Cr 6:30). Isso significa que nós não podemos saber o que há nos corações das pessoas.
Somente para Deus são todas as coisas (Rm 11:36). Isso significa que nada é para nós.
Somente por conhecer a Deus e ao Cristo que Ele enviou é que as pessoas receberão vida eterna (Jo 17:3). Isso significa que as pessoas não precisam nos conhecer para receberem a vida eterna.
Somente Cristo é o Senhor (1Co 8:6). Isso significa que nós não dominamos nada.
Somente por Cristo são todas as coisas (1Co 8:6). Isso significa que nada é por nós.
Somente Cristo é Mediador (1Tm 2:5). Isso significa que nós não podemos fazer a ligação entre Deus e os homens.
Somente há um corpo de Cristo (1Co 12:12). Isso significa que somos membros uns dos outros, e todos membros de Cristo.
Somente um ato de justiça de Cristo trouxe a Graça da Salvação (Rm 5:18). Isso significa que nenhum ato de nossa justiça pode trazer a Graça da Salvação sobre nós.
Somente a obediência de Cristo pôde nos fazer justos (Rm 5:19). Isso significa que a nossa obediência não pode nos fazer justos.
Somente por Cristo o dom da Graça abundou sobre muitos (Rm 5:15). Isso significa que nós não podemos providenciar a salvação dos outros.
Somente por Cristo reinaremos em vida (Rm 5:17). Isso significa que o Reino de Deus é o único reino que nos interessa.
Somente o Cristo é nosso Mestre (Mt 23:10). Isso significa que nós não devemos nos considerar mestres uns aos outros.
Somente em Cristo podemos dar fruto (Jo 15:4,5). Isso significa que sem Ele nada podemos fazer.
Somente há um Espírito Santo (1Co 12:11).Isso significa que todos os nossos dons são repartidos por Ele.
Somente o Espírito Santo opera todas as coisas (1Co 12:11).Isso significa que nós não operamos nada.
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SOMENTE A DEUS TODA A GLÓRIA.
ISSO SIGNIFICA QUE NENHUMA GLÓRIA DEVE SER DADA A NÓS.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Somente por Cristo chegamos a Deus (3a parte)

"Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de Deus;" (Hb 9:24)

O que mais deveremos fazer ao confiar que somente por Cristo chegamos a Deus?

3 – Cristo, em Sua obra a nosso favor, terá que ser a base de nossos atos de culto.
Nosso louvor, nossas orações, nossas pregações, nossa leitura da Palavra, em tudo que se faz para adorar a Deus deverá ter como base a obra sacrificial de Cristo a nosso favor.
Não devemos nos aproximar de Deus em nossos próprios termos. Mencionemos sempre no culto que tudo é feito “em nome de Jesus”, pois por causa dEle que pudemos ser aceitos como povo de Deus.
“Ninguém vem ao Pai senão por mim” – não fala apenas da salvação mas também da adoração. Nosso culto não poderia ser prestado sem o sacrifício de Cristo. Nossas orações não merecem ser ouvidas, nosso louvores não merecem ser recebidos, nossas obras a favor de Deus e de Seu Reino, tudo só pode ser ofertado porque a Oferta Perfeita está em Cristo por nós.
Sendo assim, não deve haver culto em que não se mencione a Cruz e a Ressurreição. Ele próprio, o Senhor Jesus, estabeleceu a Ceia para que Sua obra fosse sempre lembrada.
Dentro deste raciocínio, é equivocado cantar louvores, fazer orações e pregações nos termos das cerimônias do Antigo Testamento, tais como templo, altar, Arca, incenso, tabernáculo, sacrifícios, e etc, se não houver uma explicação ou entendimento dessas realidades segundo a obra de Cristo por nós.
Pois todas elas apontavam para O que havia de vir: Cristo; eram sombras das coisas futuras (Cl 2:17), ou seja, eram precursoras das bençãos atuais da salvação em Cristo. Deve-se explicar corretamente como as antigas cerimônias correspondem à nossa vida em Cristo hoje.
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Este é aquele Moisés que disse aos filhos de Israel: O Senhor vosso Deus vos levantará dentre vossos irmãos um profeta como eu; a ele ouvireis. (At 7:37)
Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão. (Hb 4:14)
Haverá um justo que domine sobre os homens. (2Sm 23:3)

O que mais deveremos fazer ao confiar que somente por Cristo chegamos a Deus?

4 – Devemos reconhecer Cristo plenamente nos seus ofícios de profeta, sacerdote e rei.

Como nosso Profeta, reconhecemos que Ele é a revelação completa de Deus, não faltando nada para ser revelado, que toda a Escritura existe para falar dEle, que tudo que Ele fez, tudo que Ele ensinou, são a vontade perfeita de Deus para nós. Que Ele é a Luz, a Verdade e a Vida, o Mestre perfeito, que devemos reconhecer Seus mandamentos e ordenanças como justos, retos e verdadeiros, que qualquer dúvida sobre a vontade de Deus para nós se resolve olhando para a vida dEle, colocada como exemplo para que sigamos os Seus passos.

Como nosso Sacerdote, reconhecemos que só por Ele temos perdão dos pecados, que ainda hoje Ele intercede por nós quando pecamos, que Ele é nosso Advogado, Salvador perfeito, nossa proteção, o que nos livra da ira futura, o que nos comprou a salvação eterna e perfeita, nos reconcilia com o Pai, que Ele é o único que apaga as nossas transgressões.

Como nosso Rei, reconhecemos que só Ele governa nossa vida, que Ele deve ter prioridade em nossos pensamentos, que devemos nos submeter à Sua vontade, que Ele está assentado à direita do Pai, reinando, até que os Seus inimigos sejam postos debaixo dos Seus pés. Que não era possível que a morte Lhe segurasse, porque Ele é o Príncipe da Vida, e só dEle dizer "Eu Sou", Seus inimigos caem para trás.
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Ao nome de Jesus se dobre todo o joelho, dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra.
(Fp 2:10).

O que mais deveremos fazer ao confiar que somente por Cristo chegamos a Deus?

5 - Afirmamos que só Cristo é o Senhor da nossa consciência.
Foi Ele quem derramou o Seu sangue, Ele que nos comprou com o Seu sacrifício, somos dEle e de mais ninguém. Só Ele revelou plenamente a vontade de Deus. A Escritura toda existe para falar dEle. Portanto nossa lealdade última é devida somente a Ele. Só Cristo é nosso Senhor.
Desta forma, nenhuma igreja, pastor, líder, declaração doutrinária ou qualquer coisa ou pessoa pode se colocar no meio desta relação pessoal entre Cristo e o crente. Rejeitamos que qualquer instituição ou pessoa que não seja Cristo, tenha o direito de mover a nossa consciência, por ordem ou decreto, para obedecermos à vontade de Deus. Menos ainda que atos como passar por uma cerimônia, participar de um grupo, ser leal a uma instituição ou pessoa, vão mediar nosso contato com Deus.
Assim deve ser questionada, por exemplo, a usurpação da posição de Cristo como único mediador, que alguns líderes cristãos fazem, ao agirem como se a igreja ou os crentes dependessem deles para servir a Deus, ou saber a vontade divina. “Deus dá a visão para o pastor e o pastor dá a visão para a igreja” é uma frase comum, mas profundamente antibíblica. Ela dá poder demais aos homens, sobre a base fraquíssima e instável da experiência interior.
Só Cristo é o Cabeça. E a igreja é Seu corpo. Num corpo, cada membro liga-se diretamente à cabeça, sendo controlado por ela, recebendo ordens diretamente dela. Ou seja, cada crente está ligado diretamente a Deus por meio de Cristo, devendo obediência final somente a Ele, por meio do Espírito Santo, que nos fala na Escritura e move nossa consciência.
O que também justifica o governo congregacional: a igreja é uma aliança de servos de Cristo, que têm, cada um, uma relação direta com o Senhor, não mediada por ninguém além do Espírito Santo. Portanto, seus trabalhos e decisões devem consultar todos os membros, que são, todos eles, reis e sacerdotes (Ap 1:6) e contam, sempre, com a presença do seu Senhor quando se reúnem (Mt 18:20).
Sobre isso a Palavra é clara: cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de TODAS as juntas, segundo a justa operação de CADA parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor Ef 4:15,16.
Ou seja, para que o corpo de Cristo cresça, cada parte, cada membro, cada crente, precisam operar, agir e atuar sobre os outros. No corpo que cresce por igual, todos edificam uns aos outros, aconselham uns aos outros, cuidam uns dos outros, servem uns aos outros e submetem-se uns aos outros.
Pois só Cristo é nosso Senhor.
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E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor dos senhores.(Ap 19:16)
O que mais deveremos fazer ao confiar que somente por Cristo chegamos a Deus?

6 - Não devemos pregar a nós mesmos, nem as nossas experiências.
Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor (2Co 4:5).
Pregamos a Cristo, e Cristo crucificado. Mas a gente tem falado muito de nós, do que aconteceu conosco.
Porém a nossa história não é o Evangelho. Nossa experiência não salvará ninguém. Nossa história não ligará ninguém a Deus.
O Evangelho é a história de Cristo:
Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado (...) Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras,e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.(1Co 15:1,3,4)
Não que dar testemunho não seja importante, mas que no testemunho fique claro que só Cristo é nossa esperança. A obra passada de Cristo na Cruz, não os nossos exemplos e experiências atuais, é que pode salvar as pessoas.
A nossa esperança do Evangelho não está ancorada na nossa vida interior, está ancorada nos eventos históricos da Cruz e da Ressurreição.
Aquilo que aconteceu em Jerusalém a dois mil anos atrás, não o que acontece hoje na minha vida, é que traz esperança segura de salvação aos outros.


7 - Precisamos rejeitar a atual busca de poder fora de Cristo.

A mais perigosa conseqüência atual de se omitir a centralidade de Cristo é a de deturpar a obra do Espírito Santo, como se Ele fosse independente do sacrifício do Senhor e do Evangelho da Cruz, como se Ele tivesse outra coisa a fazer por nós além de nos conduzir a Cristo.
E esta deturpação tem se manifestado em doutrinas estranhas que esperam do Espírito uma assistência infinita as nossos desejos de experiências dramáticas, fantásticas, milagrosas, sobrenaturais, extremas, emocionais, catárticas, extáticas, que nos exaltem, nos elevem acima dos outros meros mortais, que dispensem a fé no invisível, que substituam a confiança na fidelidade de Deus por experiências emocionalistas de confirmação.
Assim esses evangelhos de poder, que proclamam soluções instantâneas para todos os problemas da vida, de perspectiva de bem-estar inabalável, eterno êxtase experimental, realização de sonhos materialistas, cura de todas as doenças, fim de todas as infelicidades, fim dos sofrimentos e dificuldades, vitória completa e definitiva em todas as áreas, devem ser tratados com a máxima cautela.

Esse estilo de Cristianismo simplesmente não é realista!

Fecha os olhos para a realidade. Transforma a fé numa ilusão pretensiosa. Recusa-se a carregar a cruz, e a identificar-se com Cristo no Seu sofrimento pelo Reino, e suportar a rejeição do mundo. O evangelho de poder nada tem a ver com Aquele que era manso e humilde de coração.
O evangelho de poder avança numericamente pelos meios mais sórdidos possíveis, apelando à ganância, à vaidade e enganando os sofredores e necessitados.
Tem se demonstrado grosseiramente negligente quanto ao ensino da nossa luta contínua pelo arrependimento dos pecados, da confiança no sacrifício e santidade substitutos de Cristo para sermos aceitos por Deus e do mandamento de imitar Cristo em nossa vida, na verdade, totalmente omisso quanto a estas doutrinas básicas do Cristianismo bíblico.
Nunca esqueçamos que o Evangelho bíblico não está sendo pregado se a obra substitutiva de Cristo não estiver sendo declarada.
E isso nunca acontece se distorcemos a real missão do Espírito Santo em nós.
Pois o poder do Espírito Santo não está a serviço da nossa vaidade, curiosidade, desejos, menos ainda das pretensões de sermos admirados e elogiados pelos outros, por meio de uma religião exibicionista, nem na megalomania doentia que tem se manifestado nesses discursos triunfalistas dos evangélicos de hoje.

Sobre o Espírito Santo, Cristo disse que Ele não falará de si mesmo (Jo 16:13). O Espírito veio para falar de Cristo. O Espírito Santo tem um ministério de ‘holofote’ apontando só para Cristo. Ele mesmo aparece pouco. Pois foi Cristo que executou o plano de salvação.
Mesmo o poder do Espírito Santo sobre nós é dado com um propósito específico: nos capacitar a TESTEMUNHAR DE CRISTO – At 1:8 - recebereis poder... e sereis minhas testemunhas.
Assim, o Espírito Santo não está presente onde Ele for a figura central. Ele só está presente onde Jesus for a figura central. Esse é o Seu trabalho: tornar Cristo o centro de tudo.
O poder do Espírito Santo se manifesta na aplicação da Palavra que Cristo deixou - as palavras que eu vos disse são Espírito e vida (Jo 6:63).
O poder do Espírito Santo se manifesta no evangelho que reconcilia o homem com Deus - Não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê – Rm 1:16.
O poder do Espírito Santo se manifesta na conversão e santificação dos pecadores, não na solução dos problemas da vida - o nosso evangelho não foi a vós somente em palavras, mas também em poder... e vós fostes feitos nossos imitadores, e do Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação, com gozo do Espírito Santo (1Ts 1:5,6).
O Espírito Santo não veio para nos tornar poderosos. Ele veio para nos converter e nos santificar. E isto requer que sejamos cada vez mais enfraquecidos e humilhados, e não que sejamos exaltados com demonstrações de poder. Lembremos que a maior demonstração de poder de Cristo foi entregar a Sua vida pelos nossos pecados.
E a demonstração do Seu poder em nós está em conformar a nossa vida à dEle: vida de renúncia, fraqueza, sacrifício e martírio pelo avanço do Reino de Deus. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo (2Co 12:9).

Portanto, NÃO DEVEMOS PROCLAMAR UM EVANGELHO DE PODER, MAS CONFIAR NO PODER DO EVANGELHO.

Pois só o Evangelho do sacrifício de Cristo pode dar sentido à vida, quando todas as nossas pretensões espirituais forem frustradas e nossos castelos de cartas caírem pela realidade dos nossos fracassos, imperfeições e instabilidades.
Quando os planos que nós, em criativa fantasia, imaginamos para Deus, e divulgamos em alta voz como se fossem revelações dEle, se mostrarem as tolas ilusões que são, o Plano Eterno da Salvação continuará sendo a última e suficiente Palavra verdadeira de Deus.
Quando falhar toda pretensão de poder, nossos projetos forem frustrados, quando a doença tirar a vida, e a falência tirar a prosperidade, a Cruz ainda permanecerá de pé. E quem confiar nela também.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O desejado 5o passo - A restauração

Se a pessoa se arrepender, ela pode ser recobrada e recebida novamente como membro da igreja.
Em 2Co 2:1-11 Paulo diz que no caso bastou a repreensão feita por muitos, ele exorta a igreja a não exagerar na dose. Ele entrevê que o ofensor já está apto a voltar à comunhão plena.
Devemos sempre procurar recobrar e recuperar essas pessoas. Jesus bem que poderia dizer à igreja. “Será que Eu morri por essas pessoas e vocês não vão cuidar delas?” “Eu derramei Meu sangue e vocês não vão trabalhar por elas?”

Vede, não desprezeis algum destes pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus sempre vêem a face de meu Pai que está nos céus.
Porque o Filho do homem veio salvar o que se tinha perdido.
Que vos parece? Se algum homem tiver cem ovelhas, e uma delas se desgarrar, não irá pelos montes, deixando as noventa e nove, em busca da que se desgarrou?E, se porventura achá-la, em verdade vos digo que maior prazer tem por aquela do que pelas noventa e nove que se não desgarraram. Assim, também, não é vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca. (Mt 18:10-14)

4º PASSO – O NECESSÁRIO AFASTAMENTO

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Não participes dos pecados alheios (1Tm 5:22).

O terceiro passo da disciplina deveria ser suficiente para promover o arrependimento no irmão que vimos pecar, principalmente se a igreja repetir a abordagem várias vezes. Mas é possível que nosso irmão não demonstre nenhum arrependimento pelo pecado, nem reconheça o pecado, nem se disponha a mudar o seu comportamento.
Se o terceiro passo for infrutífero, e o irmão ou irmã não der ouvidos à abordagem prescrita anteriormente, o próximo passo é considerá-lo como não-crente. Mt 18:17 diz: "se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano".

Por quê? Porque nós não sabemos se ele é crente ou não. Um crente deveria ter se arrependido após repetidas exortações. Um crente tem consciência do pecado. Ama a Deus, ama a seus irmãos, ama a igreja. Como não se arrependeria? Se a igreja não estiver sendo injusta, não se concebe um crente deixar de se arrepender. O arrependimento é o requisito mínimo para ser considerado cristão, é a porta de entrada para o Reino. Se não acontece, o estado deste crente deve ser questionado.

A igreja é formada por aqueles que se arrependem dos seus pecados e crêem em Cristo. quem não cumpre estes requisitos não pode ser membro da igreja de Cristo.

A exclusão não é por causa de nenhum pecado, mas por causa da falta de arrependimento.

O que é interrompido? O não crente não tem privilégios na igreja de cargos e opiniões, nem ministérios. Não participa da Ceia. Com o tal nem ainda comais 1Co 5:11. Não se dá muita intimidade a essa pessoa.

O que continua ou reinicia? O não-crente não pode ser considerado membro, mas deve ser visitado, aconselhado, e principalmente, assistir o culto. Ele deve ser re-evangelizado.

O que significa “entregar a Satanás”?
A expressão “entregar a Satanás” aparece em 1Co 5 e 1Tm 1:20. O propósito não é vingança ou condenação, mas simplesmente ensino: ver 1Tm 1:20 – para que aprendam a não blasfemar. E diz que isto vai salvar a alma do adúltero de 1Co 5.
Jó também foi entregue a Satanás, mas isso teve um efeito em Jó e um efeito diferente na esposa de Jó. Jó conhecia Deus de vista, mas passou a ter intimidade com Ele por causa do seu sofrimento.
Pedro foi entregue a Satanás, e nisto foi aumentada a sua fé (Lc 22:31,32).
Paulo mesmo foi entregue a Satanás: 2Co 12:7-10, e isto para que fosse santificado e permanecesse humilde.
Paulo sabia como Deus usa Satanás, é para disciplina e para reforçar a humildade nos crentes, pois quando os crentes são mais fortes quando são fracos.
Satanás é inimigo de Deus? Uma gota pode apagar um incêndio? Uma faísca pode evaporar o oceano? Deus não tem rivais. Até mesmo os ataques de Satanás são usados por Deus para santificação dos Seus filhos. Nosso Deus está no controle. Ponto final.
As vacinas são como doenças induzidas, são vírus atenuados, ou só a capa dos vírus, para que o corpo crie anticorpos. Assim é a exclusão, o expor a pessoa a Satanás, tirar a proteção da igreja, deixar que ela sinta o gosto do mundo, perder a comunhão com Deus. Isso fará com que o crente afastado odeie o pecado.
Se ele for crente certamente voltará horrorizado. Com o tempo terá nojo do estilo de vida mundano. Não aguentará ficar muito tempo fora da comunhão e das bençãos da igreja. O Espírito Santo irá incomodá-lo até não poder mais aguentar.
A exclusão é um remédio amargo para o cristão que se afastou da santidade. Mas cremos na perseverança dos santos. Um cristão confrontado biblicamente haverá de se arrepender. A igreja trata a pessoa como um incrédulo a ser evangelizado. Não deve se afastar da freqüência á igreja. Mas sem comunhão dos privilégios de crente.

A exclusão também revela os incrédulos. Os quais estavam na igreja. É triste. Mas estamos fazendo um favor a essa pessoa, dizendo a ela que não nos parece salva. Isto com o único objetivo que esta chegue a uma verdadeira experiência de conversão e salvação. Não vamos deixá-lo se enganar.

Convoca-se a igreja para que lamente e chore. Em 1Co 5:11 Paulo pergunta: “nem ao menos vos entristecestes?” A igreja deve se auto-analisar para ver se acabou falhando de alguma forma com esse indivíduo. É um processo que rasga nosso coração. Mas se amamos nosso Deus, obedecemos aos Seus mandamentos.

INTENSIFICA-SE o acompanhamento e visitação. Afinal esta é a pessoa que mais precisa.

Até quando? Enquanto há vida, a igreja continua. Deveremos cuidar dele para sempre, até que volte.

3º PASSO – A AJUDA DA IGREJA.

Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos (2Co 2:6).

O segundo passo da disciplina deveria ser suficiente para promover o arrependimento no irmão que vimos pecar, principalmente se a comissão de dois ou três repetir a abordagem várias vezes. Mas é possível que nosso irmão não demonstre nenhum arrependimento pelo pecado, nem reconheça o pecado, nem se disponha a mudar o seu comportamento.
Se o segundo passo for infrutífero, e o irmão ou irmã não der ouvidos à abordagem prescrita anteriormente, o próximo passo é convocar a igreja. Mt 18:17 diz: "e, se não as escutar, dize-o à igreja.
Quando é a hora certa de passar de passo, e avançar ao 3o e a outros? Varia muito de caso a caso. Devemos pedir a Deus discernimento e sabedoria para ver quando não há mais progresso no contato e está caracterizado que a parte ofensora não "quer ouvir".
Por quê pedir ajuda à igreja? Porque a igreja é um corpo do qual os dois são membros. A igreja é a comunhão organizada onde os dois são membros. E quando a reconciliação falha tem que ser levada à igreja.
Temos dificuldade em entender isso porque fazemos uma leitura individualista da Bíblia. Mas o pecado de Acã era o pecado de Israel inteiro. O pecado de Adão foi o pecado da humanidade inteira. 1Co 12:26 De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele.
O ofensor deve ter sido avisado desde o começo do processo que isso poderá acontecer, a igreja poderá ter que intervir. Geralmente isto o incentiva a voltar atrás na sua posição.
E é necessário redobrar as orações, agora não só do ofendido, mas dele com as testemunhas junto, para decidir se chegou o momento de levar o caso de levar à igreja.
Em que reunião se deve abordar o assunto? Não temos a prescrição do texto bíblico, mas uma sugestão é que esta seja uma reunião especial, convocada somente para este fim, podendo ser chamada de reunião pastoral.
Quem deve ter acesso a esta reunião? Todos os membros da igreja, devendo-se considerar a inconveniência do acesso de não-crentes e não-membros. É uma reunião pública para igreja, mas fechada para os de fora, pois é para resolver um assunto interno. A não ser no caso de se convidar um crente de fora que seja mais experiente para aconselhar, ou no caso de alguma das testemunhas já ser um crente de fora da igreja.
As assembléias são momentos administrativos, nelas pode não ser conveniente o detalhamento do processo. Talvez o melhor é que na assembléia seja feito apenas o ato burocrático de desligar o membro, se chegar a tanto o processo.
Falar sobre o processo ou executar o terceiro passo no meio de um culto ou de outra reunião que tinha um objetivo diferente é um ato totalmente errado, que deve ser interrompido imediatamente pelo dirigente da reunião, explicando como é o devido processo de disciplina.

Vigiar a tendência à hierarquia. Talvez aqui seja o momento em que mais se terá a tendência de entregar tudo nas mãos de um dos pastores ou de outros líderes. Mas não é esta a orientação bíblica.
Os pastores devem ser consultados, sim, para marcar a reunião pastoral onde acontecerá o terceiro passo. E certamente é importante a presença deles nessa reunião. Se o ofendido não convocou um dos pastores para ser uma das testemunhas (e não há problema nenhum nisso), certamente nesta reunião do terceiro passo os pastores poderão dar seus conselhos sobre o caso.

Quanto maior o problema, maior o acompanhamento. A cada passo que se prossegue, do um ao dois, ao três, etc. aumentam a insistência, a perseverança da igreja e a urgência das conversas. O número de visitas e conversas deve ser proporcional ao passo em que a pessoa está: quanto mais grave, mais visitas e conversas. Pois esta é a pessoa que precisa mais. Quanto mais difícil a situação da pessoa, mais ela deve ser procurada pelos seus irmãos.

Devemos suprimir juízo preliminares. O processo conforme ensinado por Jesus faz com que o peso da questão vá aumentando no coração do ofensor. De forma que a pessoa possa ser recobrada.

O que acontece na conversação do terceiro passo?
Primeiramente, o ofendido volta a falar basicamente o mesmo que falou no primeiro e segundo estágio da disciplina, agora diante dos seus irmãos reunidos.
Em segundo lugar, ofensor naturalmente irá querer falar aos irmãos, e deve fazê-lo.
Em terceiro lugar, as testemunhas confirmam os fatos, confirmam como foi executado o primeiro e segundo passo, relatam a parte delas, como prosseguiu a conversa e o processo. Aqui, elas têm um papel fundamental. É para que toda palavra se estabeleça. As testemunhas devem confirmar que não houve arrependimento por parte do ofensor. É absolutamente necessário que haja CERTEZA dos fatos do caso. Nada pode ser investigado até que haja pelo menos duas testemunhas (Mt 18:16; I Tm 5:19). Geralmente as aparências são enganosas (Jo 7:24) e não podemos agir em disciplina sem que haja fatos concretos sobre os pecados cometidos.
Em quarto lugar, o ofensor poderá falar novamente.
Em quinto lugar, os outros irmãos presentes darão seus conselhos, e a conversa prossegue.
Os pastores da igreja devem mediar esta conversa, garantindo a ordem, decência, respeito e o direito de cada um falar o seu ponto de vista.
Os irmãos em geral (igreja que se reuniu) exercem as mesmas funções que as testemunhas no segundo passo (conselheiros, pacificadores, mediadores, árbitros se forem convocados).
Tudo deve ocorrer envolvido pela oração sincera que busca em Deus a solução para o problema. A igreja que se reuniu com este objetivo deve buscar a sabedoria para encontrar uma solução específica, que pode variar de caso a caso.


ROTEIRO DO 3º PASSO

1 - Que fazemos com o SEGREDO, nesse passo? O segredo deve ser mantido ao máximo. Certamente que o tipo de pecado e outros detalhes não devem ser contados para todas as pessoas de fora e todos os membros que não comparecerem a esta reunião pastoral. Só quando estiverem o ofendido, o ofensor e as testemunhas reunidos com os outros irmãos é que os detalhes devem ser colocados, porque aí é justo para as duas partes.
Às vezes o processo já começa com a igreja sabendo tudo, o pecado já é público e conhecido por todos. Nesse caso, pode-se divulgar também quem são as pessoas que estão tratando do caso, no primeiro e segundo passo, e pedir que a igreja espere que estas a convoquem.
Mas nada impede que mais de um irmão tome a iniciativa de falar em particular com o ofensor (primeiro passo). A princípio, é o que se faz, assim que se sabe de um pecado. De forma natural, os processos serão unificados numa reunião só, quando esta for convocada.

2 – Considerar a possibilidade de manter segredo mesmo para com a igreja. Em geral, pecados secretos devem permanecer secretos. Avalie-se o impacto da divulgação do pecado tratado. Se for assim, não se dará detalhes específicos, apenas se falará de como se desenrolou o primeiro e segundo passo. A divulgação pode acontecer pelo próprio ofensor, ao se defender.

3 - NUNCA se fala mal de um irmão à igreja. Nem agora, nem nunca. Isto é ordem bíblica: Irmãos, não faleis mal uns dos outros (Tg 4:11). Ora, o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz (Tg 3:18) .

4 – A intenção do ofendido e das testemunhas é convocar todos os presentes a orar pela pessoa, a lutar por ela, a buscá-la e recuperá-la. Não para acusá-la ou condená-la. Deve-se ter muito cuidado para deixar claro que este é objetivo da reunião: a cura, não a condenação. Não a fofoca. Apenas chamamos a igreja a orar por ele e aconselha-lo. Pecado não é para ser tratado como carniça para urubus, pecado é para ser lamentado, orado e conversado, com sensibilidade, sabedoria, dignidade, amor e sobretudo TRISTEZA.
5 – Os membros presentes a esta reunião devem tomar a iniciativa de confessar seus pecados. A ordem de Jesus, de tirarmos a trave primeiro de nossos olhos para poder tirar o argueiro do irmão, vale também para a igreja. Que fique claro que a disciplina é uma
conversa de pecador para pecador. Deve-se averiguar e pedir perdão ao ofensor pelas falhas da igreja em não ensinar e acompanhar seus membros tão bem como deveria.

6 – Os presentes à reunião devem fazer um apelo de arrependimento ao ofensor. Se for realmente o caso, pois a igreja ainda tem que corrigir eventuais erros das testemunhas. Havendo certeza de pecado não arrependido, todo o esforço de argumentação mansa, paciente e amorosa deve ser feito nesta reunião.
A igreja deve insistir com esta pessoa de uma forma intensa, e chegar ao ponto de IMPLORAR que ela se arrependa, para que o afastamento não se torne necessário. Este procedimento geralmente atrai o pecador ao arrependimento. Devemos ter o mesmo sentimento de amor que Paulo teve: não cessei, noite e dia, de admoestar com lágrimas a cada um de vós (At 20:31).

7 - A igreja não deve criar leis. A igreja não foi chamada para criar novas regras de conduta. A lei não pode salvar. Pela lei apenas vem o conhecimento do pecado. A lei de Deus já é alta demais, não a aumentemos. É um equívoco muito comum.
A disciplina deve ser aplicada caso a caso, a vontade de Deus deve ser discernida em cada situação particular.

8 – Pode haver casos em que uma correção pública e imediata é necessária, pulando os dois passos anteriores. Especialmente quando o coração do Evangelho é atacado por comportamento ou doutrina herética. Exemplos bíblicos: Gl 2:11-14; Tt 1:10,11.

9 – Até quando? Enquanto há esperança de arrependimento, a igreja continua. Vários irmãos devem conversar com a pessoa várias vezes, e orar muitas vezes. E de novo, e de novo. E continuar tentando convencer a pessoa a se arrepender. Até quando? Até que ele não os ouça. isto é, que diga: “não fale mais disso comigo”. Até que o irmão não os permita mais. O que os levará ao quarto passo da disciplina.

2º PASSO – A AJUDA DE UM OU DOIS IRMÃOS

Por boca de duas ou três testemunhas será confirmada toda a palavra. (2Co 13:1b)

O primeiro passo da disciplina deveria ser suficiente para promover o arrependimento no irmão que vimos pecar, principalmente se repetirmos a abordagem várias vezes. Mas é possível que nosso irmão não demonstre nenhum arrependimento pelo pecado, nem reconheça o pecado, nem se disponha a mudar o seu comportamento.
Se o primeiro passo for infrutífero, e o irmão ou irmã não der ouvidos à abordagem prescrita anteriormente, o próximo passo é chamar uma ou duas testemunhas. Mt 18:16 diz: "Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça".

Por quê pedir ajuda? Para dar maior discernimento a quem está exortando. Ele precisa se certificar que não está fazendo tempestade em copo d´água. Ele precisa do conselho e da perspectiva de outras pessoas. Que o ajudem a entender a situação, a confirmar os fatos e procedimento abordado. Podem ajudar a discernir se houve ou não arrependimento genuíno.
Quando é a hora certa de passar do passo 1 ao passo 2? Varia muito de caso a caso. Devemos pedir a Deus discernimento e sabedoria para ver quando não há mais progresso no contato individual e está caracterizado que a parte ofensora não "quer ouvir".
O que acontece na conversação do segundo passo? Primeiramente, o ofendido volta a falar basicamente o mesmo que falou no primeiro estágio da disciplina, agora diante da(s) testemunha(s). Em segundo lugar, ofensor naturalmente irá querer falar à(s) testemunha(s), e deve fazê-lo. Em terceiro lugar, as testemunhas darão seus conselhos, e a conversa prossegue. Tudo deve ocorrer envolvido pela oração sincera que busca em Deus a solução para o problema.



ROTEIRO DO 2º PASSO
1 – No segundo passo, o SEGREDO do processo deve ser mantido. Nesta hora não é para sair contando para as testemunhas que você chamar qual o pecado e os detalhes do problema, é para chamá-los para serem testemunhas da conversa, os detalhes serão conhecidos SOMENTE SE ELES PARTICIPAREM DA CONVERSA. Só quando estiverem o ofendido, o ofensor e as testemunhas reunidas entre si é que os detalhes devem ser colocados, porque aí é justo para as duas partes.
Todo o processo se dará em conversas particulares (sem a audição de terceiros), inclusive o convite para alguém ser testemunha.

2 – Observe o número de pessoas a serem chamadas para ajudar: UMA, ou no máximo DUAS (Mt 15:16). As duas ou três desse versículo se refere à soma das testemunhas com o ofendido. Não se deve envolver um número maior de pessoas.

3 – Recomendações na hora de chamar a(s) pessoa(s) que vai ajudar no processo:
a) Chame obrigatoriamente:
- Crentes sábios, confiáveis e discretos que sejam capazes de manter segredo sobre o assunto.
- Crentes maduros, respeitados e reconhecidos como pessoas espirituais por vocês dois. Pessoas que já têm a capacidade para lidar com esse tipo de problema.
- Crentes IMPARCIAIS, e isso é essencial.
b) Chame preferencialmente:
- Membros da mesma igreja dos litigantes.
- Crentes com mais tempo de vida cristã que você e o ofensor.
- Crentes que trabalham num ministério pastoral ou de aconselhamento.

4 – As funções da(s) testemunha(s):
a) Avaliar se o primeiro passo da disciplina foi executado corretamente.
b) Avaliarem se realmente há pecado, da parte de quem, e se tem havido arrependimento do pecado.
c) Ouvir com consideração as alegações do ofensor.
d) Atuarem como pacificadores, se for um caso de ofensa pessoal. Serem moderadores da conversa, reparar as atitudes erradas de ambos.
e) Garantir o clima de cortesia, respeito e, principalmente, oração.
f) Aconselhar o procedimento a seguir, de acordo com a situação. NÃO IMPOR UMA SOLUÇÃO ESPECÍFICA, mas compartilhar princípios bíblicos. A não ser no caso em que o ofensor e o ofendido concordam em dar a eles a autoridade para dizer a eles o que fazer no caso. Se eles delegarem esta autoridade para as testemunhas, estas poderão arbitrar, e sua recomendação deverá ser seguida.

5 - O pronunciamento das testemunhas: Após ouvirem aos dois, as testemunhas participam do encaminhamento do processo de disciplina, da exortação, do aconselhamento, Não são testemunhas silentes. Mt 18:17 fala do "depoimento" delas, que também pode ser ouvido ou não pelo ofensor.
Sendo o caso, devem as testemunhas promover o arrependimento com argumentação mansa e amorosa, até mesmo com seus próprios reconhecimentos de pecado.
6 – Mudança possível de rumo. Pode acontecer que as testemunhas, uma vez ouvindo a explicação do ofensor, não concordem inteiramente com todas as alegações do ofendido. Neste caso as testemunhas devem aconselhar aos dois o procedimento a seguir, segundo cada situação específica.
7 – Reconhecendo-se o pecado, convida-se ao arrependimento. Se as testemunhas entendem que permanece o pecado, devem recomendar ao ofensor o arrependimento do pecado e a fé em Cristo para perdão dos pecados. Todos, incluindo o ofensor, devem recorrer à Bíblia para o esclarecimento da situação.
Tanto agora, como no primeiro passo, havendo arrependimento e confissão, deve-se exaltar o Senhor Jesus como o Salvador que nos providencia o perdão dos pecados. Assegurar ao ofensor que não há mancha que o sangue de Jesus não possa lavar. Convidá-lo a confiar plenamente na sua salvação.
Avaliando a disposição do ofensor em se arrepender ou não, em mudar ou não, a comissão formada pelas testemunhas e pelo ofendido devem também avisá-lo dos próximos passos da disciplina, que poderão ser tomados caso não haja mudança.
8 – Até quando? Enquanto há esperança de arrependimento, você e as testemunhas continuam. A comissão recém formada para tratar do problema deve conversar com a pessoa várias vezes, e orar várias vezes. E de novo, e de novo. E continuar tentando convencer a pessoa a se arrepender. Até quando? Até que ele não os ouça. isto é, que diga: “não fale mais disso comigo”. Até que o irmão não os permita mais. O que os levará ao terceiro passo da disciplina.

1º PASSO – AJUDANDO EM PARTICULAR

Não deixarás de repreender o teu próximo, e nele não sofrerás pecado (Lv 19:17).
Não existe crente solitário. A vida da igreja é comunitária. Os crentes vivem juntos. É necessário e essencial que mostremos uns aos outros quando estamos errando.
a) Porque muitas vezes não percebemos o pecado que cometemos;
b) Para desfazer mal-entendidos;
c) Para não deixar o indivíduo sozinho para descobrir a vontade de Deus. Na igreja ajudamos uns aos outros neste discernimento.

Mas antes de abordar alguém devemos ter em mente o seguinte:

1 - Não devemos disciplinar por falsas culpas.
Culpas falsas são aquelas que as pessoas colocam sobre nós, ou que são usadas para manipular as pessoas, ou para livrar alguém de suas próprias responsabilidades, ou ainda repassando culpas que a própria pessoa sente, ou disfarçar os verdadeiros motivos, nem sempre de forma consciente. Por ex.: “Já vai? Mas acabou de chegar! Ah... Não é justo você ir embora tão cedo!!!” (manipulação para constranger a pessoa a ficar).
Culpas verdadeiras são as culpas que temos por desobedecer à vontade de Deus. Ex. quando mentimos, roubamos, não cumprimos nossos compromissos, ou quando fazemos qualquer mal proibido na Palavra.
Examinemos cuidadosamente nossa questão, nos colocando no lugar do outro, afim de saber se realmente estamos falando de um pecado contra Deus, ou se apenas estamos julgando injustamente a pessoa, nos deixando levar pela emoção.

2 - Não disciplinemos em questões simples, superficiais ou indiferentes. O amor cobre uma multidão de pecados (1Pe 4:8). Há certas coisas que podemos deixar passar. Talvez não vá valer a pena falar com a pessoa, e a oração secreta a Deus será sempre a melhor oportunidade de colocar todos os defeitos e erros do nosso próximo.
Quanto a coisas que são duvidosas se são pecado ou não, menos ainda deveríamos incomodar os outros. São questões indiferentes, onde cabe a cada um estar seguro de sua posição (Rm 14:5).
Só devemos abordar o irmão por aquilo que for claramente e inegavelmente pecaminoso.


ROTEIRO PASSO-A-PASSO

1 – A disciplina é requerida quando a consciência é ofendida. Devia a própria pessoa corrigir-se do seus pecados, mas se não parece ser assim, e você está cônscio do pecado de alguém, esta consciência é o chamado para ajudarmos nosso irmão, nem que seja apenas pela oração. Mas devemos considerar nesse momento, em oração diante de Deus, a decisão de ir ao encontro de nosso irmão para o bem dele. Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão (Gl 6:1).

2 – Ainda que seja você o ofendido, deve procurar o irmão para reconciliação. Se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só (Mt 18:15). Certamente que o outro irmão também deveria lhe procurar, segundo Mt 5:23; no caso ideal, ambos vão se encontrar no meio do caminho.

3 - Seja amistosos, mansos, humildes em todo falar e proceder. (Gl 6:1).

4 - Renunciemos ao espírito de julgamento. Não julgueis para que não sejais julgados. Porque com a medida que julgardes sereis julgados (Mt 7:1,2). Como já dissemos, nossa posição é de médico, não de juiz.
Devemos avaliar com cuidado e abordar motivados pelo amor que se preocupa, lembrando que estamos todos no banco de réus. Que fique claro desde o início que a disciplina cristã é uma conversa de pecador para pecador.


5 – Devemos, antes de falar do pecado do irmão, começar confessando nossos próprios pecados. Por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu?Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão (Mt 7:3-5).
Se o objetivo da disciplina é conduzir nosso irmão ao arrependimento, certamente devemos fazer isso dando exemplo em nós mesmos. A confissão verbal de uma falta específica e concreta durante a conversa vai criar o ambiente propício ao arrependimento. Será a prova de que estamos indo ao encontro desarmados. É a atitude coerente para quem quer sinceramente o bem do seu irmão. E, Deus querendo, poderá ser um incentivo para a confissão do irmão a quem abordamos.

6 - Conciliação – Se ele te ouvir, ganhaste teu irmão. Ter sempre em mente que o objetivo da conversa é reconciliação, contigo, com o próximo e com Deus. Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos (Zc 4:6).

7 - Não é para falar apenas uma única vez. Enquanto há esperança de arrependimento, você continua. Significa que devemos fazer isso várias vezes, e orar várias vezes. E de novo, e de novo. E continuar tentando falar com a pessoa. Até quando? ATÉ QUE ELE NÃO NOS OUÇA. Isto é, que diga: “não fale mais disso comigo”. ATÉ QUE O IRMÃO NÃO NOS PERMITA MAIS.

A auto disciplina

A Disciplina começa conosco mesmo.

1 - Lutando contra nossos próprios pecados. Um dos aspectos do fruto do Espírito em Gl 5:23 é o domínio próprio, que significa, apropriadamente, a disciplina exercida pela própria pessoa, quer pelo estabelecimento de limites próprios, que não devem ser ultrapassados, quer na avaliação dos próprios pensamentos e atitudes que, se concretizados, prejudicariam alguém e desagradariam a Deus. Certamente o exercício coerente da autodisciplina, na vida dos membros da igreja, reduzirá a necessidade da disciplina eclesiástica.

2 – Submetendo-se à disciplina dos seus irmãos e da igreja. Não devemos justificar nossos pecados. Enquanto estivermos justificando nossos pecados, não poderemos nos arrepender, não poderemos perdoar nem sermos perdoados. Ao contrário, ao recebermos a exortação, deveríamos dizer: fira-me o justo, será isso uma benignidade; e repreenda-me, será um excelente óleo (Sl 141:5a). E crer que melhor é a repreensão aberta do que o amor encoberto. Fiéis são as feridas feitas pelo que ama, mas os beijos do que aborrece são enganosos (Pv 27:5,6).

3 - Procurando a quem fizemos mal. Se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão (Mt 5:23,25).
Se nós fizemos mal a alguém devemos ir até ele. Quem comete o ato contra o irmão devia em primeiro lugar, buscá-lo para pedir perdão a ele. Nós temos essa necessidade, nós temos essa responsabilidade, de buscar prontamente o perdão daqueles a quem fizemos mal, antes que soframos as conseqüências, pela reclamação deles aos homens (ou a Deus).

4 - Perdoando quem nos fez mal. Tendo a disposição de se reconciliar. Dizendo a si mesmo: não vou relembrar esse incidente; não vou falar a outros sobre este incidente; não vou permitir que este incidente seja uma barreira ao nosso relacionamento. Se alguém tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também (Cl 3:13).

Introdução à Disciplina na Igreja

O QUE É A DISCIPLINA DA IGREJA:
Quando aceitamos o convite da igreja de nos tornarmos discípulos de Jesus Cristo, nos submetemos a Ele como nosso Senhor. Porém nossa obediência a Cristo nunca é perfeita em nossa vida. Precisamos da disciplina de nossa igreja (nossos irmãos) para sermos ajudados a melhor obedecer a Cristo.
A disciplina consiste basicamente numa conversação fraterna entre os crentes que vise estimular o arrependimento dos pecados cometidos. É uma confissão de que precisamos de ajuda, para a nossa santidade pessoal, para a santidade da igreja e para a glória de Deus em nós.
Entendida desta forma, a disciplina é um dos meios ordenados por Deus para a nossa santificação.

OS MOTIVOS PARA A PRÁTICA DA DISCIPLINA NA IGREJA:
1 - Para que a santidade de Deus seja honrada. Santos sereis, porque eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo (Lv 19:2).
2 - Para evitar a disseminação do pecado. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa?(1Co 5:6b)
3 - Porque vivemos dentro de uma aliança de irmãos. Tenham os membros igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele (1Co 12:25b,26a).


ALGUNS ESCLARECIMENTOS SOBRE A DISCIPLINA:

1 - Há perigos e distorções na prática da disciplina, mas isso não deve nos impedí-la de praticá-la.
A disciplina foi ordenada na Palavra, e é boa para ensinar sobre a necessidade de santificação, sobre a seriedade do pecado e sobre a possibilidade sempre presente de perdão, libertação, reconciliação e restauração. Nenhum perigo da disciplina é maior que o perigo da letargia espiritual, e da falta de santidade nos crentes. É bom receber disciplina, tal como é bom para as crianças serem disciplinadas pelos pais, para nosso crescimento e edificação. Esta deve ser desejada, não evitada por nós.

2 – A autoridade de Cristo é que ordena a disciplina e o Espírito Santo foi dado à igreja também para guiá-la nessa prática.
O conhecido texto de Mt 18:20, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles, fala primeiramente das decisões que dois ou três crentes têm que tomar em nome de Cristo no processo de disciplina, no qual, Cristo garante, Ele se faz presente.
Por outro lado, Jo 20:22,23 também diz: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos, ou seja, o envio do Espírito Santo está ligado à capacitação e autorização da igreja para que lide com os pecados das pessoas, dentro da vivência do Evangelho.

3 - A disciplina é de todos para todos: todos os crentes devem disciplinar todos os crentes.
Em Mt 18:15-20, não vemos nenhum tipo de distinção entre os membros, nem em parte alguma do Novo Testamento. A única hierarquia que temos na igreja é a hierarquia numérica: a opinião de dois ou três irmãos é mais influente que a opinião de um só irmão; e a opinião de toda a igreja é mais influente que a opinião de dois ou três irmãos. Devemos portanto evitar estruturas de igreja que impeçam isso, por uma hierarquia que torne inatingível o pastor-presidente, ou o “super-apóstolo” no topo da pirâmide, mas sim ter uma estrutura igualitária. Mesmo os pastores devem se submeter à disciplina da igreja, porque todos disciplinam a todos.

4 – A atitude do crente e da igreja na disciplina é de curar, não de julgar. A melhor comparação do trabalho de disciplina não é com o trabalho de um juiz, nem o de um policial, ou promotor, ou jurado, ou carrasco. O crente que vai disciplinar outro atua como médico. O médico não julga, apenas se oferece para ajudar. O seu coração deve estar regado de amor pelo irmão. E no processo fica bem claro para o ofensor que enquanto ele está lutando interiormente contra o pecado, estamos lutando junto com ele.

5 - O objetivo da disciplina é simplesmente o arrependimento do disciplinado. Não é julgar, nem condenar, nem punir, nem castigar ou retaliar a pessoa pelo pecado. Nenhum pecado é castigado na disciplina cristã, a não ser o pecado da falta de arrependimento. Mesmo no último caso, o da exclusão, esta não acontece por causa do pecado cometido, mesmo que seja grave, mas por causa da insistência do membro em não se arrepender do seu pecado.

6 – DEVEMOS GUARDAR SEGREDO, e estamos PROIBIDOS de falar mal de nossos irmãos[1]. Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; e, se tu julgas a lei, já não és observador da lei, mas juiz (Tg 4:11). Nem podemos fazer qualquer crítica a respeito deles, se não tivermos falado com ele sobre o assunto ainda. A chave de todo este processo é a CONFIDÊNCIA. Nenhuma palavra falamos a respeito dos pecados e erros de nosso irmão a não ser com ele em primeiro lugar.

Só falamos com outra pessoa sobre o erro de um irmão se:
1) Já cumprimos todo o processo do 1º Passo (“entre ti e ele só”).
2) Ele demonstrou irremediável falta de arrependimento.
3) Estamos falando para chamar a pessoa a ajudar a resolver o problema (para executar o 2º Passo).

O motivo principal de estarmos proibidos de falar mal de nossos irmãos é a própria mensagem do Evangelho: quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica! (Rm 8:33). É trágico que Paulo tenha escrito este hino de vitória contra os inimigos da Igreja, e o que mais vemos é os irmãos comportando-se como se eles fossem inimigos uns dos outros. Cristo riscou a cédula que era contra nós nas Suas ordenanças... e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz (Cl 2:14). Desde então nenhuma condenação há para quem está em Cristo Jesus (Rm 8:1).
Ousaremos desmentir esta Palavra? Cristo pagou todas as dívidas ou não? Se sim, porque ainda cobramos as dívidas dos outros? Porque não sofremos, antes, o dano (1Co 6:7)? O perdão dos pecados conquistado na Cruz não deve ser considerado só de mim para Deus, mas também que, por causa do sangue de Cristo, toda a culpa dos meus irmãos também deve ser anulada, não porque ele merece, mas porque Cristo merece, e Cristo conquistou o perdão dele na Cruz. Todo mal que meus irmãos fazem também foi pago na Cruz.
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[1] Uma exceção possível seria no caso em que nosso irmão comete um crime grave digno de ser denunciado às autoridades civis, ou que está ameaçando a vida de outras pessoas.
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Grande parte deste material (sobre os cinco passos da disciplina) foi inspirado / extraído de:
Hal Wynn. O “porquê” da disciplina bíblica; O “como” da disciplina bíblica. Pregações gravadas. (28/03/2008)
Jim Adams. Conselheiro Capaz. Ed. Fiel, 1977.
Jim Eliff & Daryl Wingered. Disciplina na Igreja. Ed. Fiel, 2006.
John Driver. Contra a Corrente. Ed. Cristã Unida, 1994.
Paul Freston. Culpa e Graça. Ed. ABU, 1994.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Quem eram os profetas?

Quando Deus enviou Moisés para falar ao Faraó, Moisés alegou que tinha alguma dificuldade na fala, e que por isso o rei do Egito nem ouviria. Deus não deixou de enviar Moisés por causa disso, mas disse que Arão falaria em seu lugar, funcionando como porta-voz: Arão seria o profeta de Moisés (Ex 6:28-7:2). Então, segundo essa passagem, podemos entender que ser profeta era algo parecido com o que Arão foi para Moisés. Deus falava com o profeta, e o profeta falava com o povo, anunciando a mensagem de Deus, sendo o Seu porta-voz.
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Assim como Deus chamou Arão para ser porta-voz de Moisés, também chamou porta-vozes para Sua mensagem – os profetas. Isso é o que eles tinham em comum, mesmo sendo chamados de formas diferentes: enquanto aravam a terra (1Rs 19:19), cuidavam de um rebanho (Am 7:15), quando já eram idosos (Ex 7:7) ou muito jovens (Jr 1:6,7), quando estavam no templo (Is 6:1) ou na beira de um rio (Ez 1:1), enfim, todos tiveram uma experiência de vocação.
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Nesta vocação, foram chamados para declarar a transgressão e o pecado de seu povo (Mq 3:8); sua cegueira e surdez (Is 6:9), clamar contra a maldade que chegou até Deus (Jn 1:2), quer ouçam, quer deixem de ouvir (Ez 2:7). Foram chamados para arrancar, derrubar, destruir e arruinar, mas também para edificar e para plantar (Jr 1:10) e preparar os caminhos do Senhor (Lc 1:76).
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A mensagem, o chamado e o trabalho de um profeta muitas vezes lhe é pesado, por isso eles lamentaram, gemeram (Mq 1:8), ficaram sem forças (Dn 10:16), tentaram esquecer de Deus (Jr 20:9), fugir de Deus (Jn 1:3), até pediram para morrer (1Rs 19:4). Mas Deus sempre lhes sustentou (1Rs 17:2-6), levantou (1Rs 19:5-7) e consolou (Dn 10:19).
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Pior ainda para o profeta é ter lidar com os falsos profetas, que fazem errar o povo (Mq 3:5), servem a outros deuses (1Rs 18:22), são adúlteros, falsos, corrompidos (Jr 23:14), trabalham por dinheiro (Mq 3:11), fazem tudo para serem admirados (Mt 23:5), pregam suas próprias palavras e sonhos, não as palavras de Deus (Jr 23:31-32), falando só o que as pessoas querem ouvir (1Rs 22:13,14) e defendendo aqueles que lhes patrocinam (Am 7:12,13)...
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Em contraste os verdadeiros profetas recusam recompensa financeira (2Rs 5:15,16) não podem ir contra o seu chamado ou mudar sua mensagem (Am 7:12-17). Por isso foram ameaçados de morte (1Rs 19:2), silenciados (Am 2:12), rejeitados por sua mensagem (Is 30:10), tiveram suas palavras destruídas (Jr 36:20-25), foram jogados dentro de um poço (Jr 38:6), de uma cova de leões (Dn 6:16), mortos, apedrejados (Mt 23:27) e crucificados (At 2:23), homens dos quais o mundo não era digno (Hb 11:38), pelos quais Deus cobrará do mundo o sangue derramado (Mt 23:35).
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Os profetas pregam (Jn 3:2; Is 53:1; Is 61:1; Zc 7:7; Mt 12:41). Podemos considerar a pregação como um sinônimo possível para profecia, se profecia é um discurso que tem todas as características de pregação: edifica, exorta, consola (1Co 14:3), convence, julga e leva à conversão (1Co 14:24,25). E eles pregaram, mas não só com discursos: proferindo parábolas (Mc 4:33,34), ou só uma frase (Jn 3:4), realizando milagres (1Rs 17:22-24), ou através dos nomes que deram a seus filhos (Os 1:4-9; Is 7:3; 8:3,4,18), construindo um “outdoor” (Hc 2:2), ou quebrando um pote de barro (Jr 19:10-11), recusando a comida do palácio (Dn 1:8-16) ou demonstrando misericórdia aos inimigos (2Rs 6:21-23), e de muitas outras maneiras, com todos os atos da sua vida (Os 1:2,3; 3:1-5; Jr 16:1-9), não se dirigindo só ao povo de Deus, mas a todas as nações do mundo (Mq 1:2; Jr 1:5).
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Os profetas “viam coisas”, mas não com a pretensão de prever ou adivinhar de forma mágica, coisa que é abominável a Deus (Dt 18:9-14). Se eles viram algo, é porque Deus abriu os olhos deles para entenderem a situação em que seu povo estava, e proclamarem a verdade, a vontade e os planos de Deus. Alguns, como Daniel, descreviam seres fantásticos como símbolo dos impérios mundiais (Dn 7:2-4). Outros, como Jeremias, entendiam sua mensagem olhando para objetos comuns que estavam diante de si (Jr 1:11-14). Outros ainda recebiam a Palavra como resposta de oração (Hc 1:2,3; 2:1,2) ou usavam música para se concentrar (2Rs 3:15). Ainda que fossem de estilos diferentes, tinham a mesma convicção que falavam em nome do Senhor, ao anunciarem julgamento e esperança. Os profetas sabem que Deus vela sobre Sua Palavra, para a cumprir (Jr 1:12), então tudo que foi avisado que aconteceria se o povo corrompesse seus caminhos (Dt 28:15-68) certamente acontecerá, pelo povo estar se desviando do Senhor. Mas ainda assim as promessas de bênção (Dt 28:1-14) poderão se tornar realidade, desde que haja conversão dos maus caminhos (Os 14).
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Então os profetas olharam para o passado e viram que junto com as riquezas vieram a feitiçaria e a idolatria (Is 2:7,8) e o povo quebrou sua aliança com Deus (1Rs 19:14). Viram que os líderes não cumpriram suas funções (Ml 2:1-9), o povo não entendeu as disciplinas de Deus (Am 4:6-11), nem ouviu os Seus profetas (Zc 1:4), mas se esqueceu de Deus (Jr 2:32), mesmo Ele tendo sido tão bom para com eles (Mq 6:3-5), e chegaram a matar aqueles que lhes foram enviados por Deus (Lc 13:33-34).
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Olharam para o presente, e viram a violência e a injustiça prevalecendo (Hc 1:1-4), pobres sendo oprimidos para sustentar o luxo dos ricos (Am 4:1), uma elite em festa mas que diante de Deus está em falta (Dn 5:27), governantes indignos no poder (2Rs 3:13,14), autoridades que se aproveitam de sua posição para anexar a terra dos outros (Mq 2:1-2), salários não sendo pagos (Jr 22:13), libertos sendo escravizados (Jr 34:8-17), um povo egoísta que procura mais o seu luxo do que a glória de Deus (Ag 1:4), falta de sinceridade no culto (Zc 7:5,6) de um povo cansado de servir a Deus (Ml 3:14), indeciso sobre a quem servir (1Rs 18:21), que confia mais em alianças políticas do que no seu Senhor (Is 31:1). Viram guias cegos que levam outros à perdição (Mt 15:12-14) e pastores que destroem e dispersam as ovelhas (Jr 23:1-2).
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Olharam para o futuro, e viram a seca (1Rs 17:1), o sofrimento de seu povo (2Rs 8:11-12), quem hoje rejeita a Palavra tendo fome dela (Am 8:11,12), a perseguição contra o povo de Deus (Dn 7:25). Viram uma cidade reduzida a um monte de pedras (Mq 3:12), a humilhação dos soberbos (Is 2:11), porque Deus desembainhará Sua espada contra a terra (Jr 12:12). Viram orações que não serão respondidas (Zc 7:13), pois Deus testemunhará contra os crimes de Seu povo (Ml 3:5). Viram a porta se fechando, e quem pensava estar dentro, ficar de fora (Lc 13:23-28).
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Mas, ao olhar para o futuro, também viram toda a terra se enchendo do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar (Hc 2:14), viram chuva para quem tem sede (1Rs 18:41-45), pão para quem tem fome (2Rs 6:33-7:1), cidades destruídas sendo reedificadas (Am 9:14), com crianças brincando nelas (Zc 8:5), os povos da terra transformando suas espadas em enxadas (Is 2:4), viram o que planta alcançando o que colhe, por causa da abundância de fruto (Am 9:13) pais se reconciliando com os filhos e filhos se reconciliando com os pais (Ml 4:6).Viram Deus usando de Sua misericórdia (Jn 4:2), lançando os pecados do Seu povo no fundo do mar (Mq 7:19), lhe dando Sua paz (Ag 2:9), escrevendo Sua lei nos seus corações, na nova aliança (Jr 31:31-33) pois lhes dava um coração novo (Ez 36:26). Viram um filho do homem recebendo o Reino que nunca será destruído (Dn 7:13,14), e muitos vindo do oriente e do ocidente, do norte e do sul, para se sentarem na mesa desse Reino (Lc 13:29).
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Por isso abriram suas bocas, um fogo se acendeu que não puderam conter (Sl 39:1-3) e declararam que ao Senhor pertence a salvação (Jn 2:9), provaram que só Ele é Deus (1Rs 18:36-39), tendo prazer na benignidade (Mq 7:18) e é grande o Santo de Israel no meio do Seu povo (Is 12:6). Viram que diante dEle toda a terra deve calar-se (Hc 2:20), pois Ele tem o domínio sobre o reino dos homens (Dn 5:21) e há de abalar o céu e a terra (Ag 2:6), mesmo que seja com um pequeno começo (Zc 4:10). Ensinaram que conhecer ao Senhor é praticar a justiça (Jr 22:16) e Deus faz mais questão da integridade de Seu povo do que de seus cultos (Am 5:21-24). Por isso chamaram todos ao arrependimento, por causa do Reino de Deus (Mt 4:17), que se preparassem para se encontrar com seu Deus (Am 4:12), antes que venha o grande e terrível Dia do Senhor (Ml 4:5). Pois o que faz a diferença entre receber julgamento ou salvação é ser convertido. Por isso orou Jeremias: “converte-nos a ti, Senhor!” (Lm 5:21).
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Por último, os profetas eram crentes como nós, confiando no Cristo que viria. O próprio Jesus disse que era dEle que eles falavam (Lc 24:44-47). Eles foram como uma vela que ilumina a casa de noite até o amanhecer (2Pe 1:19), quando nasce o Sol da Justiça, trazendo salvação debaixo das suas asas (Ml 4:2).
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Publicado em Vivendo - Edição do Professor. JUERP.

Atos vitoriosos da igreja de Cristo

O livro de Atos dos Apóstolos não fala muito dos "atos dos apóstolos". Não é uma biografia dos apóstolos, nem uma história detalhada do povo de Deus depois da ressurreição de Cristo. Ao que parece, o livro quer mostrar ao amigo de Deus as vitórias da igreja de Cristo diante das barreiras que se levantaram contra a expansão da mensagem do Evangelho. O modo como o livro termina, dizendo que apesar de tudo, Paulo pregava em Roma "sem impedimento algum" (At 28:31), é uma evidência de que este é o seu tema principal[1]. Dentro desta interpretação, podemos refletir um pouco sobre três dessas vitórias da igreja que aparecem constantemente no livro de Atos. As vitórias de exercer o sacerdócio do Reino de Deus; de pregar o evangelho aos diferentes e distantes; e de sofrer em nome de Jesus.

A VITÓRIA DE EXERCER O SACERDÓCIO DO REINO DE DEUS
Cidade de Éfeso, manhã de sábado, culto da sinagoga judaica. O judeu Apolo, chegado recentemente na cidade, prega muito bem e com entusiasmo. Ao final, um casal, Priscila e Áquila, o convida para visitar sua casa. E lá eles lhe apresentam verdades que ele desconhecia. Mesmo que ele tivesse um conhecimento profundo da Bíblia, isso em nada pôde intimidar Priscila e Áquila, pois eles entenderam que ele precisava ser melhor ensinado no caminho de Deus, já que só conhecia o batismo de João Batista (At 18:26). Só depois de ser discipulado por esse casal de artesãos é que Apolo foi encaminhado às igrejas da Grécia e pôde dar testemunho de Jesus como Salvador.
A barreira da hierarquia religiosa foi vencida desde que Jesus Cristo ofereceu-se a Si mesmo para pagar pelos pecados do povo (Hb 2:17; 7:27) tornando-se o único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2:5). A partir de então o sacerdócio é universal, comprado pelo sangue de Jesus (Ap 1:6) e capacitado pelo poder do Espírito Santo (Lc 24:49), implicando um novo tempo de igualdade e responsabilidade para todos os membros do povo de Deus.
A mensagem de Joel 2:28,29 disse especificamente que o derramamento do Espírito Santo não conheceria nenhuma barreira de sexo, idade ou classe social, com Deus movendo a cada um conforme a Sua soberania. Isso foi verdade ao ponto de moças tão novas como as filhas de Felipe poderem pregar (At 21:9); de pescadores sem estudo como Pedro e João fazerem calar a elite intelectual do país (At 4:13,14); e de anônimos como os irmãos chíprios e cirenenses se tornarem pioneiros, anunciando o evangelho pela primeira vez a pagãos e fundando a igreja em Antioquia (At 11:20,21).
Assim, as narrativas de Atos nos exemplificam como o trabalho do Reino abrange toda a igreja, quando mostram todos os crentes sendo cheios do Espírito Santo (At 4:31), testemunhando (At 2:32) com toda a ousadia (At 4:29), todos os dias (At 5:42) e por toda parte (At 8:4). Pois cada um que crê em Jesus é uma pedra viva da casa espiritual de Deus, e faz parte da geração eleita, do sacerdócio real, da nação santa e do povo adquirido, para que anuncie as virtudes daquele que o chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz (1Pe 2:5-9), tendo o direito de contribuir para a edificação da igreja (1Co 14:26), para que todos aprendam e todos sejam consolados (1 Co 14:31).
Desta maneira, todos os crentes, que tal como no livro de Atos, receberam a promessa do Pai de terem a presença de Cristo mediante o Espírito Santo, podem se considerar responsáveis pela obra do Reino de Deus e importantes instrumentos da expansão do Evangelho, para que as igrejas sejam edificadas e se multipliquem, andando no temor do Senhor e na consolação do Espírito Santo.


A VITÓRIA DE PREGAR O EVANGELHO AOS DIFERENTES E DISTANTES DE NÓS
Cidade de Cesaréia, meio-dia. Pedro sobe ao terraço para orar. Enquanto o almoço estava sendo feito, ele tem uma visão de um lençol cheio de todos os tipos de animais e uma voz que dizia para ele comê-los. Pedro diz: -De jeito nenhum, Senhor! Eu nunca comi nenhuma coisa que a Lei considera suja ou impura! Mas a voz respondeu: -Não chame de impuro aquilo que Deus purificou. Na verdade Deus estava lhe mostrando que a nenhum homem considerasse vulgar ou impuro (At 10:28), pois logo depois o judeu Pedro seria conduzido a uma casa de romanos desejosos de ouvir palavras com as quais pudessem ser salvos (At 11:14).
Essa é a grande barreira das diferenças culturais e geográficas, um obstáculo que se encontra dentro dos próprios crentes. Primeiro pela nossa tendência de nos dirigir só a quem é parecido conosco, segundo pelo comodismo de não sair para pregar o evangelho a toda criatura.
Porém, o amor de Cristo tem o poder de constranger os crentes a se fazerem servos de todos, fracos para os fracos, tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns (1Co 9:19-22). E então enfrentar desafios como o de Ananias, que foi mandado por Deus para receber Saulo (Paulo), o perseguidor da igreja, que ia de casa em casa, arrastando homens e mulheres e jogando-os na cadeia. Mas Ananias confiou no poder de Deus para transformar aquela vida, e a primeira coisa que fez quando encontrou Saulo foi chamar ele de irmão (At 9:17).
A maior motivação para difícil trabalho de pregar ao diferente está na certeza da vitória final do Evangelho. Vitória que já foi provada pela ressurreição e glorificação de Jesus, e também pelo derramamento do Espírito que nos capacita a sermos Suas testemunhas até aos confins da terra (At 1:8), crendo que toda a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar (Hc 2:14), que os limites da terra se lembrarão e se converterão ao Senhor, que todas as gerações das nações adorarão perante a face de Deus (Sl 22:17,18) e o nome do Senhor dos Exércitos será grande entre as nações (Ml 1:11).
E estes propósitos de Deus hão de se cumprir, mesmo que às vezes seja necessário que Sua igreja seja espalhada através de perseguições (At 8:3,4). Mantendo a fé, os crentes de Atos puderam contar com a obra prévia de Deus preparando os corações para ouvir a Palavra (At 16:14) e mesmo garantindo que Ele ainda tem muito povo (At 18:10). E até quando parecia que os ouvintes rejeitariam o Evangelho, Deus não deixou Sua Palavra sem frutos (At 17:32-34).

A VITÓRIA DE SOFRER EM NOME DE JESUS.
Cidade de Filipos, meia-noite. Paulo e Silas estão na cadeia, com o corpo dolorido dos açoites, mas ainda assim, louvando, dando desta forma testemunho aos outros presos. Deus intervêm, e um terremoto solta as algemas de todos, o que se torna ocasião para testemunhar também ao carcereiro, que é salvo junto com sua casa (At 16:16-34). Essa cena resume bem a essência do livro de Atos. A igreja sofrendo oposição, e mesmo assim dando testemunho com sua vida, recebendo sempre de Deus a liberdade, que nada mais é do que oportunidade, afim de trabalhar mais pelo Evangelho.
A barreira das perseguições foi uma das piores que os crentes no livro de Atos tiveram que enfrentar. Pela fé eles experimentaram escárnios (At 2:13) e açoites (At 5:40), e até cadeias (At 26:29) e prisões (At 12:3,4); estando em perigos na cidade (At 19:28,29), em perigos no mar (At 27:43,44), em perigo de morte, muitas vezes (At 5:33). Foram maltratados (At 21:30-32), apedrejados (At 7:59), mortos a fio de espada (At 12:2). Seus opositores os injuriaram (At 14:5), perseguiram (At 8:1), e mentindo, disseram todo o mal contra eles (At 6:13).
Mas eles se exultaram e se alegraram (At 5:41), por saberem ser grande o seu galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes deles (At 7:52). Sabiam que tinham sido enviados como ovelhas no meio de lobos (Mt 10:16), que todos os que quiserem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos (2Tm 3:12) e que por muitas tribulações nos importa entrar no Reino de Deus (At 14:22). Assim, da fraqueza tiraram forças pela fé, e não fizeram uma oração para que Deus acabasse com a perseguição, mas sim que desse a Seus servos maior ousadia (At 4:29).
Porque o Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus (At 7:56), reinará até que haja posto a todos os inimigos debaixo de Seus pés (1Co 15:25). Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou (2Co 5:15), de sorte que vivamos ou morramos, somos do Senhor (Rm 14:8) e em nada devemos ter a nossa vida por preciosa, contanto que cumpramos com alegria a nossa carreira e o ministério que recebemos do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus (At 20:24).

CONCLUSÃO
Tudo o que lemos no livro de Atos nos inspira a imitar a confiança que aqueles crentes tiveram em Deus, para superarmos, como eles, todas as barreiras que se levantarem hoje contra o Evangelho de Cristo.
O Senhor fez notória a Sua salvação, servi ao Senhor com alegria e apresentai-vos a Ele com canto. Cantai ao Senhor, bendizei o Seu nome; anunciai a Sua salvação de dia em dia. Anunciai entre as nações a Sua glória; entre todos os povos, as Suas maravilhas. Porque quem é Deus senão o Senhor? E quem é rochedo senão o nosso Deus? O Senhor está comigo; não temerei o que me pode fazer o homem. (Sl 98:2; 100:2; 96:1-3; Sl 18:31; 118:6).
Graças a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo (1Co 15:57).
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[1] Para maiores detalhes sobre esta maneira de entender o livro de Atos, ver as p. 14-37 da introdução de Frank Stagg - O livro de Atos dos Apóstolos. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1958. 397p.
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Publicado em Vivendo - Edição do Professor. Rio de Janeiro: JUERP.

Autoridade Pastoral


Dentre as comparações abaixo, quais você consideraria adequadas para descrever a relação entre um pastor e os membros da igreja que estão sob o seu pastoreio?

( ) a cabeça e o corpo;
( ) o pescoço e o corpo;
( ) o rei e seu povo;
( ) o príncipe e seus criados;
( ) o general e seu exército;
( ) o prefeito e a cidade;
( ) o empresário e seus funcionários;
( ) o motorista de ônibus e os passageiros;
( ) o jardineiro e as plantas;
( ) o diretor e a escola
( ) técnico de futebol e o time de jogadores;
( ) o capitão do time e o resto dos jogadores;
( ) o professor e os alunos;
( ) enfermeiro-chefe e demais enfermeiros;
( ) o irmão mais velho e os irmãos menores;
( ) o garçom do restaurante e os fregueses.


Eu não marcaria quase nenhuma das opções acima. Em algumas o pastor age como um substituto de Deus, em outras, como um intermediário e mediador. Em algumas os membros são passivos demais, em outras o pastor tem poder demais, e ainda outras, o pastor concentra tarefas demais.
A última, “garçon do restaurante”, exagera na subserviência do pastor aos outros, afinal, na igreja todos devem servir.
Somente a antepenúltima e a penúltima, “chefe dos enfermeiros” e “irmão mais velho”, se aproximam mais da imagem bíblica da relação entre pastor e pastoreados.
“Chefe dos enfermeiros”, porém, se fosse de um hospital onde todos são funcionários, todos estão doentes e todos cuidam de todos.
“Irmão mais velho”, se fosse quando os pais estão fora de casa, e ele tendo que se responsabilizar por seus irmãos menores. Sua tarefa é zelar para que se cumpram as ordens dos pais. Mas os irmãos menores sabem que a autoridade na casa é dos pais; se o irmão mais velho fizer ou chamar os outros para fazerem alguma coisa que os pais não gostariam, os irmãos menores prontamente devem rejeitar essa atitude.

Na verdade não consigo imaginar uma figura adequada na nossa sociedade porque o mandamento de Jesus para o líder inverte todo o nosso pensamento do que seja “liderança”:

Mas Jesus, chamando-os a si, disse-lhes: Sabeis que os que julgam ser príncipes dos gentios, deles se assenhoreiam, e os seus grandes usam de autoridade sobre elas; Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal;E qualquer que dentre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos (Mc 10:42-45).

Jesus diz com uma clareza cristalina: entre vós não será assim.
Ele está dizendo que a liderança na igreja será diferente da liderança no mundo. Terá que ser diferente, com um princípio OBRIGATORIAMENTE DIFERENTE.
Não será como o rei e seu povo, não será como o chefe e os funcionários, não será como o presidente e o país, não será como o empresário e os empregados, não será como o diretor da escola e os professores, não será como o técnico de futebol e o time, não será como o general e o exército.
As igrejas erram terrivelmente quando adotam um modelo de autoridade do mundo, se Jesus disse claramente que entre os Seus discípulos não será assim.
O que diz esta Palavra de Cristo é: “o maior não será senhor dos outros”, “o maior não usará de autoridade sobre os outros” (Mc 10:42).
Disse Jesus: NÃO SERÁ ASSIM.
O líder na igreja servirá aos outros. Será o servo dos servos. Não no sentido de que é o melhor servo, mas que é o que serve a todos. Ele não está no topo da pirâmide, ele está na base, sustentando os outros. É uma pirâmide invertida:





Dito isto, podemos refletir sobre:

a) O QUE A AUTORIDADE PASTORAL NÃO DEVE SER?

a.1. Não deve ser autoridade legislativa: Não tem direito o pastor de impor inúmeras regras e listas de proibições aos crentes, como se fosse um novo Moisés. O código de ética da igreja é a Bíblia, não devemos acrescentar coisas sobre ela.

a.2. Não deve ser autoridade abusiva:
O pastor não pode dar ordens específicas sobre a vida pessoal dos crentes, sobre as roupas, cabelos, aparência, horário de vida, emprego, escolha de namorados, criação dos filhos, etc. Sobre todas estas coisas o pastor pode e deve aconselhar, mas nunca dar ordens em nome de Deus.
Este problema ocorre quando as orientações deixam de feitas em termos de conselhos gerais ("o crente não deve usar símbolos de outras religiões") e começa-se a dar ordens específicas ("tira esse brinco!")

a.3. Não deve ser autoridade caprichosa:
Que exija que seja feita a sua vontade, que tudo seja do seu gosto pessoal, sobre a cor das paredes, o bolo da festa, a posição das cadeiras, etc. Não se estende a coisas superficiais e inócuas. Não devem ser os detalhes pequenos objeto de cobrança por parte do pastor. Pastor não é príncipe que deva ser agradado pela igreja, nem criança chorona que faça pirraça quando não é satisfeita.

a.4. Não deve ser autoridade acima da ética:
Inquestionável, que deva ser obedecida cegamente, sem exame da base bíblica.
Se o pastor estiver biblicamente errado, a igreja tem a obrigação de mostrar-lhe biblicamente seu erro. Se ele insistir em ir contra a Bíblia, devemos desobedecê-lo e prosseguir o processo bíblico da disciplina.
Alguém pensa que está acima do bem e do mal? Aos [presbíteros] que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor" (1Tm 5:20).
Muito mal tem causado a mentalidade de que "a responsabilidade é dele, vou obedecer assim mesmo". Na verdade, se omitir do bem é pecado de omissão (Tg 4:17). E é uma verdadeira ética da omissão, que tem triunfado nas nossas igrejas. Onde todos podem ser repreendidos, menos o pastor.
Assim temos afastado muitos do evangelho por não se poder esconder por muito tempo esta contradição.

a.5. Não deve ser uma autoridade imposta:
Não vem a autoridade pastoral do concílio que o ordenou, nem do culto de posse da igreja. Nem vem do seu diploma de teologia ou de outros estudos quaisquer que tenha feito. A autoridade pastoral não vem nem da sua convicção interior de chamado e orientação de Deus. “Ninguém toma para si esta honra”.
É a igreja local quem reconhece e chama alguém para ser pastor dela. É uma autoridade concedida pela igreja, para exercer uma tarefa, que pode ser retirada pela igreja quando esta julgar necessário.
A igreja segue a voz de Cristo, a partir do momento em que não reconhecer esta voz no pastor, deverá retirá-lo do cargo, do mesmo modo como o colocou.



b) SE NÃO É NADA DISSO, NO QUE SE BASEIA, ENTÃO, A AUTORIDADE PASTORAL?

b.1. A autoridade pastoral é conquistada pelo serviço que o pastor tem prestado a seus irmãos.
O salário do presbítero que se afadiga é a dupla honra (1Tm 5:17,18 - Nada a ver com dinheiro essa passagem!!! O que ela diz é: “o boi é digno de capim, o trabalhador é digno de salário, o presbítero é digno de honra”).
Analisemos o que Paulo diz em 1Co 16:16 - agora vos rogo, irmãos (sabeis que a família de Estéfanas é as primícias da Acaia, e que se tem dedicado ao ministério dos santos), que também vos sujeiteis aos tais, e a todo aquele que auxilia na obra e trabalha. Essa família não era composta dos pastores de Corinto, eram apenas os hospedeiros dos cultos da igreja, que aconteciam na casa deles.
Paulo nos diz para nos sujeitarmos a todo que trabalha pela obra da igreja: zeladores, introdutores, professores, pregadores, evangelistas, etc. além, claro, dos pastores. O sentido da sujeição cristã é colaborar com o trabalho dos crentes, que é, afinal, o trabalho de Deus através deles.
Por este texto, vemos que, na verdade, TODO CRENTE QUE SERVE E TRABALHA NA IGREJA MERECE A SUJEIÇÃO DOS SEUS IRMÃOS NO SEU TRABALHO.
Hb 13:17 diz que os crentes devem obedecer aos pastores porque [eles] velam por suas almas. É o dentro de trabalho de velar pelas almas que o pastor merece obediência. Este trabalho é o motivo e alvo da obediência. Os pastores não devem ser obedecido nas suas atitudes que não velarem pelas almas dos crentes.
Ez 34 fala extensamente sobre os pastores que não cumpriram seus deveres e por isso arruinaram a vida do povo de Deus, sendo rejeitados pelo Senhor. Nesse texto aprendemos que o verdadeiro pastor é aquele que cuida das ovelhas. Quem não cuida não é pastor de verdade, e não merece sujeição, pois não tem cumprido sua tarefa.

b.2. A autoridade pastoral é baseada na fé que o pastor demonstra.
A fé do Evangelho é digna de imitação e respeito, se for pura no pastor, e se ele a pratica na sua maneira de viver.
É o que Hebreus diz para imitarmos: Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver (Hb 13:7). Imitai a fé em Cristo. Imitai a confiança em Deus. Acompanhem o pastor na sua confiança e esperança em Deus.

b.3. A autoridade pastoral é baseada na maneira que o pastor vive.
Também por causa de Hb 13:7, devemos entender que a autoridade pastoral só tem sentido se for uma AUTORIDADE MORAL, conquistada pela coerência de vida cristã, pela obediência aos mandamentos de Deus e pela fidelidade aos princípios cristãos. Exemplo de vida cristã e obediência à Palavra de Deus.
E nisso é que temos a grande contradição da autoridade imposta. Pois se o pastor deve ser exemplo de obediência à Palavra de Deus, e a Palavra ordena aos crentes que sejam submissos uns aos outros, considerando os outros superiores a si mesmo (Ef 5:21; Fp 2:3), como pode ser exemplo de vida cristã o pastor que deseja que seus irmãos sejam submissos a ele, se ele não for submisso a seus irmãos também? Pois ele próprio estaria desobedecendo este mandamento.
Aliás, as passagens que falam da obediência dos crentes ao pastor em nenhum momento falam de autoridade ou poder do pastor sobre os crentes. Porque será? Resposta em Mt 28:18.

b.4. A autoridade pastoral é baseada na semelhança da vida do pastor com a vida de Cristo.
O pastor tem imitado a Cristo na mansidão? O pastor tem imitado a Cristo na humildade? O pastor tem imitado a Cristo na simplicidade material? O pastor tem imitado a Cristo na delegação de poderes? O pastor tem imitado a Cristo na compaixão pelas almas perdidas?
Sede meus imitadores como eu sou de Cristo (1Co 11:1). Ele deve ser seguido naquilo em que tem de parecido, ou concordante com Cristo, pois o alvo da imitação de todos, afinal, é Cristo.
O pastor não deve ser imitando nas coisas erradas que faz diferente do que Cristo faria, nisso não deve ser seguido.

Mas um pastor que seja parecido com Cristo nem precisa dar ordem alguma, mas os crentes fiéis o atendem prontamente pela consideração que ele conquistou, ao demonstrar um caráter semelhante a Cristo. Eles o seguem porque estão reconhecendo a vontade de Cristo, seu Verdadeiro Pastor, já que o pastor da igreja tem feito o que Cristo faria em seu lugar.


segunda-feira, 2 de junho de 2008

Procura-se um pastor.

Tem uma igreja buscando um pastor. Vários crentes conhecidos foram mencionados, mas muitos foram rejeitados logo de cara.



Os membros da igreja esperavam alguém com boa dicção, que soubesse falar e se expressar bem, por isso Moisés foi recusado (Ex 4:10).


Alguém que mostrasse ser abençoado pela prosperidade material, e aí Barnabé foi rejeitado, por ter se desfeito de suas posses (At 4:35-37).


Alguém que tivesse uma família perfeita, por isso que Oséias não serviu (Os 2:2).


Almejavam por alguém experiente, de extenso currículo, o que excluiu de uma só vez Samuel (1Sm 2:26;3:4), Jeremias (Jr 1:6) e Timóteo (1Tm 4:12).


Também queriam alguém instruído e cheio de conhecimento, o que tirou tanto Pedro como João dos seus planos (At 4:13).


Alguém que tivesse uma pregação impressionante, e nisso Paulo de Tarso saiu perdendo (2Co 10:10).


Esperavam trajes elegantes, e João Batista foi dispensado (Mc 1:6).


No fundo, mas sem querer admitir, eles esperavam ter à frente uma pessoa de boa aparência, por isso ao Senhor Jesus Cristo não foi dada oportunidade (Is 53:2).


...


Depois desta peneira, alguns candidatos fortes estão caindo no gosto da igreja e certamente o pastor será um destes:


Simão Mago, porque aparenta ser poderoso em Deus (At 8:9-11).


Coré, pois é um líder nato, cheio de autoconfiança (Nm 16:1-3).


Hananias ou Zedequias... pois esses sempre têm uma palavra de vitória (Jr 28:10,11; 1Rs 22:1-14).


Absalão, porque promete resolver os problemas de todo mundo e conquista a todos com suas gentilezas e boas palavras (2Sm 15:1-6).


Mas o candidato mais forte é mesmo Judas Iscariotes: expulsa demônios, cura os doentes, se mostra piedoso e preocupado com os pobres, tendo ainda grande habilidade com finanças (Mt 10:1; Jo 12:4,5; 13:29).

As diferenças entre os ministérios de pastor, pregador e professor.

 
Se é verdade que estes três ministérios costumam aparecer num mesmo crente, também é verdade que podemos distinguir entre eles, já que a combinação de dons pode variar de crente para crente.

O que segue é uma tentativa nesse sentido, de buscar a essência de cada tarefa, e abrir a nossa mente para, quem sabe, enxergar nos crentes que conhecemos as áreas as quais estes possam se dedicar, se não forem exercer todos estes três ministérios.


O professor é o mergulhador que desce até o fundo do mar da Palavra para de lá trazer as pérolas mais preciosas.
O pregador é o vendedor que elogia e demonstra a beleza de cada pérola para que queiramos adquiri-las.
O pastor é o artesão que nos ajuda a montar e consertar cada pérola do nosso colar.


O professor é o mapa.
O pregador é o combustível.
O pastor é a bússola.


O instrumento do professor é a aula.
O instrumento do pregador é a pregação.
O instrumento do pastor é a amizade.


O que o professor mais precisa conhecer é a Palavra.
O que o pregador mais precisa conhecer é a vida.
O que o pastor mais precisa conhecer é seus irmãos.


O professor diz qual é a melhor teoria.
O pregador pega essa teoria e diz como deve acontecer na prática.
O pastor ajuda seus irmãos a praticar essa teoria.


O ensino explica a Palavra.
A pregação traz a Palavra para a vida.
O pastoreio traz a vida para a Palavra.

Quem define as tarefas de um pastor? A cultura ou a Bíblia?

Quais são as tarefas dos pastores de uma igreja?

A resposta pode variar se a pergunta for feita a um não-crente, um novo convertido ou um crente antigo. Também pode variar muito de denominação para denominação e de igreja para igreja. Mesmo dentro de uma mesma igreja, podem haver várias opiniões diferentes entre os membros. E o pior, pode haver discordância entre as igrejas e os pastores no que devem fazer, causando frustrações e desentendimentos.

Para dificultar as coisas, além das diferenças de interpretação da Bíblia, existem idéias de fora da Bíblia, que são colocadas pela cultura religiosa ou secular sobre os pastores, que distorcem bastante a nossa visão sobre o que seja um pastor.

DISTORÇÕES CULTURAIS MAIS COMUNS

a) O “padrinho”. Aquele que vai resolver os problemas de todo mundo. Aquele que recebe as nossas reclamações dos outros. Aquele a quem pedimos para punir os outros membros que nos fizeram mal. O chefe da panela. Aquele que vai nos colocar no cargo que queremos. Aquele que vai arranjar a verba que pedimos. Aquele que temos que defender a todo custo. Aquele com quem trocamos favores. A lealdade ao pastor se torna mais importante que a lealdade ao Evangelho ou à Bíblia. A ética é relativizada para o que for conveniente. O padrinho e os apadrinhados acobertam e são cúmplices nos erros uns dos outros. A troca de favores é o que mais influencia nas suas decisões.

b) O homem forte. O “coronel”, o “senhor de engenho”, o “comendador”, são figuras ainda presentes no nosso pensamento, e que estão escritas na nossa cultura. Nosso povo vem de 500 anos de escravidão, 30 anos de ditadura, não está acostumado à democracia e às idéias de igualdade. Um povo facilmente subordinado, que espera ser mandado, e na verdade estranha o fato de ter direitos. Está acostumado a obedecer sem reclamar e por isso acha normal o líder ordenar sem explicar. Não só o povo pode esperar uma liderança assim, como muitos candidatos ao pastorado mal escondem que sua motivação não é cuidar das ovelhas, mas a sede de poder, a vontade de dominar sobre a vida dos outros. Esse tipo de subordinação escrava nada tem a ver com a submissão mútua ordenada na Bíblia, pois esta é de todos para todos (Ef 5:21). Tragicamente, o povo que quer ser mandado costuma rejeitar um pastor que trabalhe pela igualdade e promova a responsabilidade de todos. Tanto nesta distorção, como na distorção citada acima, o que temos na igreja não são mais “servos de Deus”, mas sim um tipo de “servos de pastor”.

c) O messias. É quando a igreja espera que o pastor seja o crente que os membros não são. Que seja mais santo que o normal, que seja melhor que eles em tudo. Que ore mais que todos, que saiba mais de Bíblia que todos, que conheça mais a Deus que todos. Que ocupe um outro nível de vida cristã e consagração. A sua oração é valorizada como mais forte que a de outros crentes. Espera-se que sua super-espiritualidade leve a igreja a um novo patamar. Que por causa dele Deus abençoe a igreja. Tal como aquele que disse agora sei que o Senhor me fará bem, porque tenho um levita por sacerdote – Jz 17:13. A preguiça espiritual dos membros é responsável por muito deste pensamento. Querem ser levados ao céu assentados num táxi, tendo o pastor como motorista.

d) O sacerdote. O pano de fundo do catolicismo na vida de muitos crentes traz para a igreja evangélica essa distorção, que aliás não vem só do catolicismo, mas também de outras religiões onde há pessoas-chave que fazem mediação entre sobrenatural e o natural. Nesta distorção a maioria das tarefas da igreja são concentradas no pastor, que se torna um mediador das coisas de Deus para a igreja. Tudo tem que ser feito por ele, para ter efeito. Todos os ministérios são executados exclusivamente pelo pastor. Ele se torna uma mini-igreja, e os crente se tornam meros receptores e espectadores.

e) O empresário. O século vinte nos “brindou” com mais uma distorção cultural do pastorado, aquela que vê a igreja como um negócio, avalia a saúde da igreja pelo número de membros e entrada financeira. Que espera do pastor habilidades gerenciais. Que se deslumbra com símbolos de poder econômico, consumo e status social. Que mede o pastorado pelas construções, expansões, eventos e programações que o empresário promoveu. Espera dele um gerenciamento eficaz e moderno. Traz a tendência de escolher pastores de maior poder aquisitivo que os membros da igreja, pois a prosperidade financeira é a prova da bênção de Deus. A igreja na verdade admira a posição social desse pastor, não o seu cristianismo. Os membros querem é ser “bem-sucedidos” como ele. É uma avaliação completamente mundana.

f) O artista. Outra distorção moderna. A igreja espera alguém que tenha sempre boas palavras, pregações interessantes, em resumo, que lhe dê entretenimento. O pastor torna-se um show-man. Sua função é fazê-los se sentirem melhor e realizados em suas vidas. A igreja não é lugar de compromisso, mas uma atividade de lazer com ingresso pago.

Mesmo que Deus nos abençoe grandemente, de modo que possamos nos expurgar dessas idéias erradas de pastorado, ainda nos resta outra tarefa difícil.

Trata-se de estabelecer as prioridades de acordo com a Bíblia. Muitas das tarefas que esperamos do pastor simplesmente não estão na Palavra. Um exame cuidadoso e imparcial é necessário para distinguir entre as:

a) Tarefas da cultura: Aquelas que a sociedade e igreja esperam do pastor ou do religioso profissional, mas que não são mencionadas pela Bíblia, e na verdade são tradições criadas em cima da imagem do pastor, conforme o tempo foi passando. Sendo assim, não são obrigatórias, e não podem ser a prioridade do ministério pastoral.

b) Tarefas da igreja: Aquelas atividades que são bíblicas, mas que não estão ligadas o ministério pastoral, na verdade, foram concentradas nos pastores por uma decisão das igrejas, mas que biblicamente podem ser realizadas por todos os crentes, ou pelo menos pelos considerados pela igreja como aptos para elas, mesmo que não tenham o cargo de pastor.

c) Tarefas pastorais: Aquelas atividades que biblicamente estão relacionadas ao ministério pastoral, e que por isso devem receber a prioridade no tempo e esforço dos pastores, ainda que não sejam exclusivas deles[1].

Dentro deste exercício, tentei classificar as atividades que mais vejo serem relacionadas a pastores e cheguei a esta divisão:


Tarefa
Cultural
(não ordenada pela Bíblia)


Celebrar casamento
Exercer capelania militar
Execer capelania política
Exercer capelania escolar
Oração "especial" em eventos sociais
Celebrar culto de formatura
Discursar em festa de quinze anos
Fazer funeral
Celebrar dedicação de bebês
Dar a bênção apostólica
Governar a igreja


Da Igreja
(que é bíblica, mas NÃO EXCLUSIVA ao pastoreio)


Administrar a igreja
Ensinar
Evangelizar
Conduzir o louvor
Exercer a disciplina cristã
Batizar
Celebrar a Ceia
Pregar
Dirigir o culto




Pastoral
(que a Bíblia diz ser essencial ao pastorado)

Discipular
Visitar os afastados
Visitar os doentes
Visitar sistematicamente os crentes
Cuidar dos crentes nos seus sofrimentos e desafios
Aconselhar a igreja
Aconselhar os crentes
Promover o crescimento espiritual dos crentes



Um texto bíblico muito ignorado, mas que era essencial para as igrejas do Novo Testamento definirem as tarefas do pastor (afinal a Bíblia que elas tinham era o Antigo Testamento) é o de Ezequiel 34:1-22.

Se invertêssemos as omissões dos pastores de Israel, de forma que tirássemos de cada versículo as tarefas que nosso Deus espera que os nossos pastores realizem, estaríamos mais perto da vontade do nosso Deus para nós, Seu povo:

Ex: Verso 6: “As minhas ovelhas andaram desgarradas por todos os montes, e por todo o alto outeiro; sim, as minhas ovelhas andaram espalhadas por toda a face da terra, sem haver quem perguntasse por elas, nem quem as buscasse.”

De acordo com estes versículos, a vontade de Deus e as tarefas dos pastores são que:
1 - As ovelhas de Deus não devem andar desgarradas e espalhadas.
2 - Os pastores devem perguntar pelas ovelhas.
3 - Os pastores devem buscar as ovelhas.”

Fica esse exercício para quem interessar possa:
Ler calmamente Ezequiel 34, e com oração perseverante, (re)descobrir ou (re)lembrar a essência do ministério pastoral, para a glória do Deus que nos pastoreia.






[1] Nunca é demais lembrar: na igreja de Cristo não existe exclusividade, existe especialidade.
Ainda que cada crente deva se dedicar às tarefas que correspondem aos dons que Deus tem lhe dado, e observar as distribuições de tarefas que a sua igreja tem feito, nenhuma tarefa é exclusiva de nenhum crente, e um certo envolvimento de todos em tudo não deve ser visto como subversão, mas como consagração da igreja inteira.
Cada um tem a sua parte no trabalho, mas todos são responsáveis por tudo, e devemos cobrir as lacunas uns dos outros amorosamente e espontaneamente. Isso deve valer para o ministério pastoral também.
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