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sábado, 31 de maio de 2008

Quebrados pelo martelo, comparando os cacos.

Não sou eu o martelo.

Não são estes textos, o martelo.

O Verbo divino que se fez carne e acampou entre nós.
Ele é o martelo.

Eu sou uma pedra.

Nós somos só pedras.

Apesar de muitas vezes falar em tom de declamação divina, quero deixar claro que apenas estou repetindo o que penso ter ouvido.

Posso estar errado em qualquer coisa escrita aqui.
Posso ter ouvido errado.

Creio de verdade que só a Escritura é autoridade infalível.
Minha interpretação da Escritura é muito falível.
E sempre corrigível.

O martelo me quebrou.
Aqui apenas quero contar como tem sido pra mim.

Se outras pedras sentiram o martelo de outra forma, não tem problema comentarem e compararmos nossas diferenças.

Creio que as seguintes orientações do Espírito Santo podem ser seguidas também nos assuntos de doutrinas e teorias:

Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo. Porque, se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo. (Gl 6:1-3).

Se, ao criticar, nossas intenções forem puras:

Em primeiro lugar, confessaremos nossos pecados. Citaremos uma imperfeição ou falha, nos humilharemos diante de Deus e de nosso irmão, já que nossa intenção é a verdade, a santidade e o aperfeiçoamento do povo de Deus, para glória do Pai mediante Cristo, no poder do Espírito Santo.

Em segundo lugar, não viremos para a conversa como um promotor cheio de acusações, mas como um médico que recomenda remédio.

Em terceiro lugar, nossa pura intenção requer pura linguagem. Dificilmente alguém refletirá sobre o comentário feito de forma grosseira, agressiva ou vulgar. Antes, quem ouve algo assim se preocupará em defender-se do ataque verbal, e não será dada atenção devida ao real conteúdo das idéias e argumentos colocados.

Nossas conversas sejam assim,
Iguais para serem justas.
Humildes para serem realistas.
Pacíficas para serem santas.

Sou pecador.
Mas Cristo morreu pelos meus pecados.

Se alguém me fez mal.
Cristo morreu pelos pecados dele também.

Não há mais dívidas.
Cristo pagou tudo.

Assim diz o Senhor:
Irmãos, não faleis mal uns dos outros. (Tg 4:11)

Sexo



O que é sexo? Qual o objetivo do sexo? O que devo fazer relação ao sexo? E de onde eu tiro as respostas destas questões?
Se cremos que há um Criador de todas as coisas, e que este Criador revelou algo de Si e de Sua vontade na Sua Palavra, podemos começar por ela. Mas que relação tem Deus com o sexo? Ele tem algo a dizer sobre isso?
A primeira coisa que podemos dizer é que para Deus o sexo é uma coisa boa, pois faz parte da Criação de Deus, e de acordo com Ele mesmo, tudo que Ele criou não só é bom, mas muito bom (Gn 1:31).
Mas é bom para quê?

E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele. Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todo animal do campo e toda ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome. E Adão pôs os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo animal do campo; mas para o homem não se achava adjutora que estivesse como diante dele. Então, o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas e cerrou a carne em seu lugar. E da costela que o Senhor Deus tomou do homem formou uma mulher; e trouxe -a a Adão.E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne; esta será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada.Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se -á à sua mulher, e serão ambos uma carne. E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam. (Gn 2:18-25)
Bom para ter uma ajuda, uma companhia, um consolo, uma alegria, bom para ter alguem correspondente, para conhecermos a nós mesmos, compreender nossa identidade no reflexo do outro, bom para união, aliança, bom para ser aceito e compreendido por alguém, bom para dar de si mesmo e ser bem recebido, bom para criar com a pessoa um organismo novo no mundo. Bom para ter quem seja igual mesmo diferente, para complementar nosso ser, bom para ter alguém a quem se expor totalmente sem se envergonhar
E é uma coisa tão boa que se verificarmos a maneira como Deus fala em Sua Palavra, veremos que Ele usa a linguagem sexual muitas vezes como a imagem que mais comunica o que é conhecer a Ele. O povo de Deus é Sua esposa, e em Cristo se dá este casamento.

Portanto, eis que eu a seduzirei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração. E desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em misericórdias. E desposar-te-ei comigo em fidelidade, e conhecerás o Senhor. (Os 2:14,19,20)

Eu te fiz multiplicar como o renovo do campo, e cresceste, e te engrandeceste, e alcançaste grande formosura; avultaram os seios, e cresceu o teu cabelo; mas estavas nua e descoberta. E, passando eu por ti, vi-te, e eis que o teu tempo era tempo de amores; e estendi sobre ti a ourela do meu manto e cobri a tua nudez; e dei-te juramento e entrei em concerto contigo, diz o Senhor Jeová, e tu ficaste sendo minha. (Ez 16:7,8)

Ao lermos estas passagens vemos que conhecer a Deus, como Ele deseja ser conhecido por Seu povo no Seu pacto, não significa apenas entendimento ou conhecimento mental de Deus. Mas o conhecimento no sentido bíblico, de intimidade, o mesmo sentido usado em: E conheceu Adão a Eva, sua mulher, e ela concebeu, (Gn 4:1); E José, (...) recebeu a sua mulher, e não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs-lhe o nome de Jesus (Mt 1:24,25).
Não que que tenhamos, de alguma forma, relações sexuais com Deus ou Ele com o ser humano. Mas a intimidade e o êxtase das relações sexuais nos dão o vislumbre de algo muito maior, mais prazeiroso, mais profundo e realizador: O CONHECIMENTO VERDADEIRO DE DEUS.
Porque Deus nos fez seres tão sexuais (seres que se relacionam intimamente)? Talvez para que Ele fosse mais profundamente conhecível: foi nos dado o poder para conhecer um ao outro sexualmente, para que pudéssemos ter uma “prova” do que seria conhecer a Ele verdadeiramente.
A RELAÇÃO DE EXPOSIÇÃO E INTIMIDADE COMUNICA AO SER HUMANO O PLANO DA COMUNHÃO COM DEUS.
O casal que se ama e consuma seu amor numa santa e bendita relação sexual aprende também mais como amar/conhecer a Deus. E o crente espera a chegada do Reino de Deus ansiosamente quando lembra que “então conhecerei (a Deus) como sou conhecido (por Ele)” (1Co 13:12). Porque hoje “o meu povo perece porque não tem conhecimento (intimidade) de Deus” (Os 4:6).
Se juntarmos estas noções com Ef 5:22-33, onde o casamento é figura correspondente da relação do crente com Cristo, podemos chegar à conclusão (surpreendente?) de que a sexualidade é designada por Deus como uma maneira de se conhecer a Deus em Cristo mais completamente.
E também, conhecer a Deus em Cristo mais completamente é designado como uma maneira de se guardar e guiar nossa sexualidade. Pois na Bíblia, tanto a relação sexual é figura do amor de Deus, quanto o amor de Deus é modelo para a relação sexual. Quando vemos a maneira como Deus ama, esta é a vontade dEle para que nos amemos.
O amor que devem ter entre si os que formam um casal é um amor que inclui o pacto, a aliança, a exclusividade. Um amor imerecido, como a graça de Deus, que se renova todas as manhãs, como a misericórdia de Deus, e sacrificial como a salvação de Deus. Ser amado é ser salvo.
Deus nos criou com paixão sexual para que pudesse haver linguagem para descrever o que significa se unir a Ele em amor e o que significa trocar Ele por outras coisas. As experiências humanas de amar profundamente e de ser traído, são as mais parecidas com as experiências entre o ser humano e Deus na comunhão ou no afastamento. Por isso na Sua Palavra Deus fala nesses termos.
O outro lado também é verdadeiro: em Romanos 1:21-28 vemos que o desconhecimento de Deus leva à prática corrompida da sexualidade: Visto que eles não procuraram ter Deus em seu conhecimento, Deus os entregou a uma mente depravada para fazer o que não deve ser feito (Rm 1:28). Assim, os usos impróprios de nossas sexualidades derivam de não termos o verdadeiro conhecimento de Deus. E todos os usos impróprios de nossa sexualidade distorcem o verdadeiro conhecimento de Deus.
Estas verdades pedem uma resposta do ser humano na maneira de lidar com sua sexualidade:

Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma.Os manjares são para o ventre, e o ventre, para os manjares; Deus, porém, aniquilará tanto um como os outros. Mas o corpo não é para a prostituição, senão para o Senhor, e o Senhor para o corpo. Ora, Deus, que também ressuscitou o Senhor, nos ressuscitará a nós pelo seu poder.
Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, pois, os membros de Cristo e fálos-ei membros de uma meretriz? Não, por certo. Ou não sabeis que o que se ajunta com a meretriz faz-se um corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne. Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito. Fugi da prostituição. Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus. (1Co 6:13-20)
O corpo é para dedicação a Deus, pois pertence a Ele. Nada e ninguém pode dominar o meu corpo, só Deus, pois Ele é o Senhor. Eu mesmo tenho que prestar contas de tudo o que faço com meu corpo, e tudo deve ser feito para o Senhor e para Ele ser glorificado, pois não sou de mim mesmo. Vivo para Deus e por causa de Deus. Onde não existir estas certezas pouco vão adiantar as regras de moralidade.
O corpo do crente está unido a Cristo. O corpo do crente é templo do Espírito Santo. Somos casa particular de Deus que Ele não aluga para ninguém. Tudo que somos está sob o domínio do Espírito Santo. Assim não podemos aceitar os alexandre-pires da vida dizendo: “o que o corpo faz, a alma perdoa”, nem as rita-lees dizendo: “amor é isso e sexo é aquilo”.
A Palavra de Deus não divide o ser humano, nossa vida com Deus se manifesta no concreto e no abstrato, no visível e no invisível. Deus tem algo a dizer sobre todas as áreas. Ele não salvará só a alma, o corpo será ressuscitado, por isso tem que ser santo também:
Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, ainda em minha carne verei a Deus.Vê-lo-ei por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros, o verão; (Jó 19:25-27).A relação sexual envolve esses corpos santos, que pertencem a Deus. Portanto tem que ocorrer de acordo com o “manual do fabricante”. Ele diz que é uma união tão íntima que o casal forma um novo corpo. São dependentes, ligados, aliançados de uma forma misteriosa e profundíssima. Então, como só podemos ter UM Deus também só podemos ser uma carne (formar um organismo) com UMA pessoa apenas. A relação sexual deve ser santa e exclusiva, tanto quanto nossa relação com Deus.

Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém, aos impuros e aos adúlteros, Deus os julgará (Hb 13:4). Impuro é todo sexo fora do casamento. Adúltera é toda falta de exclusividade, seja em sexo, relacionamento ou mero desejo.
Leito sem mácula, é o que Deus ordena, cama imaculada, reservada para celebrar aquela união não só física, mas também emocional e social, de forma digna, definitiva e permanente.
Então o ser humano só tem duas opções de vida sexual de acordo com Deus:
1 - Estar sozinho e não ter relações, ou
2 - Estar casado e ter relações só com o cônjuge.
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Sem casamento, sem relações.
Agora, por outro lado, se casou, DEVE ter relações!
Diz a Palavra:

Ora, quanto às coisas que me escrevestes, bom seria que o homem não tocasse em mulher; mas, por causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o seu próprio marido. O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher, ao marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também, da mesma maneira, o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher. Não vos defraudeis um ao outro, senão por consentimento mútuo, por algum tempo, para vos aplicardes à oração; e, depois, ajuntai-vos outra vez, para que Satanás vos não tente pela vossa incontinência.Digo, porém, isso como que por permissão e não por mandamento. (1Co 7:1-6)
Nas igrejas de Corinto, tinham alguns casais que começaram a evitar ter relações sexuais, achando que com isso seriam mais “santos”. Eram esses que diziam “bom seria que o homem não tocasse em mulher” (1Co 7:1). Mas de onde tiraram esse absurdo, que o sexo no casamento seria pecado? Paulo diz que a prostituição (no sentido de qualquer sexo fora do casamento) é um perigo constante, então pelo contrário, o bom é que cada um tenha seu conjuge. Quem pode conter, contenha-se, quem não pode, case-se (1Co 7:9). E quem casou não interrompa os encontros sexuais. Quando casamos, nos comprometemos a dividir nosso corpo com o cônjuge, é proibido usar o matrimônio de forma egoísta, você entra num relacionamento para se doar, não para se negar, e isso em todas as áreas. E essa entrega é para a satisfação de ambos. O marido tem sexo com a esposa para satisfazer a ela não a si mesmo, o mesmo a esposa para o marido. Os dois realizam o ato sexual pensando no que devem dar ao outro, não no que têm o direito de receber (que diferença da visão do sexo que nos circunda, com a sua exploração e uso do outro como objeto descartável). Isto por que sabem que se pertencem mutuamente. “Eu sou do meu amado e o meu amado é meu” (Ct 6:3). Por isso “acendam o fogo”, diz Paulo, sabendo que amar é dar-se, não tomar para si. Se alguma vez o casal quiser tirar um dia para só orar a Deus, poderiam não ter relações, mas até isso é uma concessão (1Co 7:6)! Ou seja, se eles quiserem fazer amor durante o tempo de oração e jejum não tem nenhum problema. O amor glorifica a Deus, porque Deus é amor (1Jo 4:8). Evitar o sexo expõe o casal a Satanás, não só na tentação de trair, mas também em motivos para ciúme, desentendimentos, acusações e vários complexos.

A visão bíblica do sexo DENTRO DO casamento é extremamente positiva e incentiva a sua total expressão:

Beije-me com os beijos da sua boca;(...) A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a sua mão direita me abrace.(...) Levantemo-nos de manhã para ir às vinhas, vejamos se florescem as vides, se já abre a flor, se já brotam as romeiras; ali te darei o meu grande amor. (Ct 1:2; 2:6; 7:12)
Veja especialmente esse trecho de Provérbios:
Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade, como cerva amorosa e gazela graciosa; saciem-te os seus seios em todo o tempo; e pelo seu amor sê atraído perpetuamente. (Pv 5:18,19)

A esposa é bendita, ela merece ser abençoada por Deus por causa do seu amor. E o sexo é uma alegria que deve ser usufruída em todo o tempo, como um manancial, uma fonte de amor que não se esgote. Diz saciem-te os seus seios, ou seja, deve-se estar satisfeito com o corpo do cônjuge que Deus nos deu, e não querer beber da água da rua (Pv 5:1-17). Um dado interessante é a comparação da mulher à cerva e à gazela, “graciosa e amorosa”; é porque as fêmeas destes animais ficam assediando o macho durante a época de acasalamento, confirmando, junto com a extrovertida noiva de Cantares, que não foi uma visão bíblica do sexo que motivou a repressão feminina a qual o Cristianismo medieval e vitoriano tanto se dedicaram. Mas há uma diferença da corça para o ser humano: enquanto os animais se procuram numa época específica para a procriação, a orientação bíblica é que o desejo pelo cônjuge seja cultivado perpetuamente, o que já rompe com outro mito que chegou até nós: o do enfraquecimento da sexualidade numa idade mais avançada.

Deus, na Sua Palavra, tem muito a dizer sobre a sexualidade, esse é um assunto ainda pouco explorado no meio evangélico brasileiro, para nosso próprio prejuízo, tanto quando fazemos o que Deus não quer como quando deixamos de usufruir do que Ele preparou.
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Obs.: Em diversos momentos ocorreram citações de cabeça que não puderam ser localizadas, mas que se devem aos seguintes textos:
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AMORESE. Rubem. Pastoral à Juventude: Sexo antes do Casamento. Revista Teológica da Sociedade dos Estudantes de Teologia Evangélica - SETE — Vol.VIII - nº 19 (1990)
COURT, John H. Pornografia, uma resposta cristã. São Paulo: Vida Nova, 1992.
LA HAYE, Tim & Bervely, O ato conjugal. Venda Nova: Betânia, 1989.
MC DOWELL, Josh . As três faces do amor. São Paulo: Mundo Cristão, 1990.
_________________ . Certo ou errado?
PETERSON, Eugene. O pastor que Deus usa. Cantares. Rio de Janeiro: Textus , 2003. (pp.37-91).
TROBISCH, Walter. Casei-me com você. 4a ed. São Paulo: Loyola, 1979.
BAXTER, Richard. Os deveres mútuos dos maridos e esposas.
FÁBIO, Caio.
PORTELA, Solano.
PIPER, John. Sexo e a supremacia de Cristo.
SOUTO, Bento.

Prova de revezamento de bicicross.

Consiste em que um percurso seja percorrido por uma mesma bicicleta, sendo guiada por três atletas, cada um posicionado a cada terço do caminho.
Há um prêmio esperando no final para a equipe que completar o percurso em menos de uma hora.
O Organizador da corrida também era o doador do prêmio e emprestador das bicicletas.

Ele diz à equipe vermelha, composta de Adão, Moisés e Paulo:
“Não mexam na bicicleta de vocês, a bicicleta que Eu lhes dei é perfeita, se vocês apenas pedalarem, chegarão facilmente aos seus pontos de troca dentro do tempo estabelecido, que é 20 minutos para cada atleta.”
Na hora da saída, um cara da platéia, invejoso por não ter sido chamado a participar desta corrida, grita a Adão:
“Tire a correia da sua bicicleta, assim você correrá mais rápido ainda”!
Adão acredita nisso, e ambicioso por “correr mais rápido ainda”, resolve ignorar o conselho do Organizador, retira a correia da sua bicicleta.

É dada a largada. Os primeiros atletas das outras equipes começam a pedalar e saem na frente.

Adão, pedala, pedala, em vão. A força que exerce nos pedais, não mais é transmitida às rodas. Ele tem que correr impulsionando com seus próprios pés, e montado na bicicleta, tipo o carro dos Flintstones.
Os outros competidores somem lá na frente, pedalando, Adão se arrasta.

O celular de Adão toca:
Uma voz diz: ‘Porque tiraste a correia?”

É o Organizador, que do outro lado da linha, também diz: “apesar de tudo, no meio da prova, alguém da equipe de vocês vai intervir e desfazer o que o enganador da platéia fez.”

Adão diz: “Como eu vou saber se será assim?’

Organizador: ‘Tens que confiar em Mim.”


Adão passa a bicicleta para Moisés. E ele vai, temeroso, pensa “Será que vai dar? Será que a organização terá misericórdia de nós?”

Passa alguns minutos, e Moisés, enquanto se arrasta, recebe uma ligação para o seu celular. Atende. É o Organizador. Ele lhe diz:
“1 - Vocês não devem duvidar da minha palavra.
2 - Não devem alterar a bicicleta.
3 - Não devem sair do percurso.
4 - Não devem parar de andar.
5 - Não devem desistir.
6 - Não devem voltar atrás.
7- Não devem invejar a bicicleta das outras equipes.”
Pare nessa árvore grande à sua frente, dentro do seu toco está um mapa do percurso, o qual vai ajudar vocês na corrida. Pegue-o, leia-o, medita-o e, principalmente, passe para o seu próximo.”
No meio do percurso eu vou mandar outro explicador, como você, que vai lhes dizer o que fazer.”

Moisés diz: “Como eu vou saber se será assim?’

Organizador: ‘Tens que confiar em Mim.”


Moisés tenta seguir as instruções, mas gostaria muito de estar presente no momennto em que esse Explicador apareceria.

Ele chega ao final do percurso e passa para Paulo a bicicleta, entregando o mapa e os mandamentos.

Paulo começa o percurso. Dizendo “Vou seguir tudo no mapa e tudo que Moisés disse: Não era pra Adão ter mexido na correia (mas o que é mesmo correia?)”. “Não vou quebrar nenhum mandamento, não vou quebrar nenhum mandamento”.
Mas isso não adiantava, isso não traria a correia de volta para a bicicleta.

Do alto da montanha Paulo viu outros competidores lá na frente, bem à sua frente e invejou a bicicleta deles. Logo sentiu enorme culpa: “não dá, eu consigo cumprir todos os mandamentos, mas esse eu não consigo: eu invejo os outros que têm bicicletas boas, miserável homem que sou!!!!”

No meio do terceiro percurso, um homem vestindo a roupa vermelha, grita para Paulo:
“Paulo, pára um pouquinho’.
Paulo cai da bicicleta, e diz:
“Quem é você?” Olhou um pouquinho pra Ele e perguntou. “E porque está vestido com a roupa da minha equipe?”
“Eu sou Jesus, segundo membro do Trio Diretor de Organização. Eu farei algo para que vocês possam chegar no final a tempo.
Tá aqui: uma outra bicicleta, perfeita, pra vocês usarem, como substituta desta bicicleta inútil, sem correia. Esta não só tem uma correia, como o melhor pneu, as melhores marchas, e tudo que é necessário.
Ela é tão rápida, que se você montar nela, ainda chega no fim da prova a tempo, não importa o atraso que você tem tido. Quando você dá uma pedalada, o compensador de marcha, da marca Parácleto, faz a roda girar três vezes mais do que giraria normalmente. Se você cair, de um controle remoto eu farei a bicicleta levantar sozinha. E quando você passar pelo Rio da Morte, com esta bicicleta você vai flutuar sobre as águas.”

Como conseguiste esta bicicleta?

Eu renunciei a toda a minha herança e posição de Membro do Trio Organizador. E disse: pode pôr a culpa dessa equipe toda, de Adão, Moisés e Paulo em mim. Pelas regras da corrida é possível uma substituição. Então eu, mesmo sendo diretor da prova, me inscrevi como membro da sua equipe. Por isso estou usando esta roupa vermelha igual à sua. Não tenho vergonha de chamar vocês de irmãos.

“Porque fizeste isso”?

“Não só eu os amo, como o Organizador-Mor ama vocês também. Tome, um aparelho de rádio de freqüência restrita, quem está do outro lado da linha é o Senhor Parácleto, fabricante do compensador, e o terceiro membro da Organização. Ele vai te dar todas as instruções que você pode precisar. E preste atenção, o mapa que você tem só adianta se for interpretado por Ele. Quem não ouve as explicações do Parácleto, não é capaz de entender coisa alguma do mapa. O enganador da platéia mandou alguns comparsas trocarem as placas de direção, mas se você seguir as instruções do Parácleto, você nunca se perderá no caminho.”


Paulo diz: “Como eu vou saber se será assim?’

Jesus disse: “Tens que confiar em Mim”.

Casamento: Escolhendo a pessoa certa

Um indiano disse uma vez a um inglês: Vocês ocidentais casam com a panela fervendo e com o tempo ela vai esfriando. Nós casamos com a panela fria e com o tempo ela vai esquentando. Ele disse isso porque na Índia os pais escolhem quem vai casar com seus filhos, acontece um “acordo de compadres”, geralmento os amigos casam seus filhos . Lá o jovem cresce conformado com a idéia de que não vai escolher mesmo o conjuge, por isso “o que vier é lucro”, e acaba aprendendo (na marra) a gostar da pessoa com a qual teve que se casar.

Já na nossa cultura geralmente nós temos que escolher, e por mais que os palpites surjam de todos os lados pra nos confundir, por mais que possamos nos arrepender, ainda gostamos dessa liberdade. Mas quem deveria ser escolhido? Alguém parecido ou alguém diferente? Os opostos se atraem, ou se repelem? Muitos dizem que o amor supera toda e qualquer diferença, mas na prática nem sempre é assim. Isto porque há áreas em que as diferenças não influem quase nada, e há outras em que elas pesam muito. Podemos tentar classificá-las?

Primeiro, as áreas em que é até bom serem um pouco diferentes. Uma delas é o temperamento: se o moço é “esquentado” e a moça também, sai debaixo! O descontrole dos dois vai se somar e o tempo vai estar sempre nublado. E se os dois forem muito parados? Ou muito relaxados? Ou gostam de aparecer? Ou querem sempre resolver? É bom que nessa área haja uma certa complementariedade, com o casal equilibrando os extremos de cada um. O que um tiver demais o outro pode amenizar. O que um tiver de falta o outro pode completar. O casal que consegue ser um o complemento do outro tem uma grande vantagem na luta por uma boa relação.

Segundo, as áreas em que não faz a mínima diferença serem diferentes. Ou pelo menos no plano ideal, não deveria fazer, como na aparência, forma do corpo, cor da pele, tipo de cabelo, etc. Também aqueles gostos e costumes que não interferem na vida do outro.

Terceiro, áreas em que as diferenças aparecem mas com boa vontade são contornadas. São as questões de estética, vestuário, estilo musical, posição política, time, dedicação a atividades físicas, tipo de lazer preferido... Claro que se um odeia o que o outro ama é que o caso vai incomodar mais. Também diferenças culturais, de origem, de criação e escolaridade podem se colocadas aqui. Para minimizar esse tipo de diferença, uma das possibilidades é casar-se com alguém que foi criado no mesmo bairro que você, as diferenças vão ser bem menores. Se é alguém que você conhece desde a infância, melhor ainda.

Quarto, as áreas em que as diferenças podem incomodar e atrapalhar a relação. São as questões de escolha, de rumo da vida. Planos para o futuro que desconsiderem o companheiro(a). O conflito de quanto tempo vai ser dedicado ao trabalho e à casa. Também se um dos dois gosta de sair todo o final de semana e o outro é mais caseiro. Modo de administrar o dinheiro, diferenças de nacionalidade, em que o casal vem de povos e línguas diferentes. Um contraste muito forte entre dependência e independência, experiência e inexperiência. Diferença grande de idades.

Quinto, as áreas em que as diferenças pesam muito e o casal provavelmente terá que lutar para a relação dar certo. São as áreas dos valores de vida e da ética. Nessas áreas uma diferença constrastante pode prejudicar muito a relação. Um homem começa a aplicar pequenos golpes e sua esposa tem horror a isso pois sempre fez questão de ser honesta em todas as coisas. Ou então o casal que tem religiões diferentes. Durante muito tempo eles se respeitam e evitam discutir. Mas quando chegam os filhos, o que fazer? Eles vão ser criados como, qual visão de mundo será passada?

É bom avaliar todos esses fatores, fazer a conta do preço e ver se vale a pena pagá-lo. Claro que para uma melhor avaliação é preciso entrar num relacionamento de namoro. Mas pensar nessas coisas antes não faz mal a ninguém. Talvez desenvolver um “pré-namoro”, em que os dois apenas conversam durante algumas semanas ou meses seja uma atitude boa antes de começar.

A Palavra de Deus orienta que o crente é livre para casar com quem ele quiser, contanto que seja no Senhor, ou seja, alguém que também tenha a Jesus como Senhor de sua vida (1Co 7:39). Isto porque Deus se importa com os nossos critérios de casamento, Ele quer que haja na terra uma semente de piedosos (Ml 2:15). É bom reparar que a escolha do cônjuge hoje afeta a vida das gerações futuras. A passagem de Gn 6:2,5,11 é sugestiva:

vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais lhes agradaram. (...) Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; (...) A terra estava corrompida à vista de Deus e cheia de violência.

Aqui a mudança de critério na escolha das esposas é colocada como um dos degraus da corrupção humana que levou ao Dilúvio.
Um dia, filhos de Deus (povo de Deus) resolveram não mais escolher as “filhas de Deus”, mas as filhas dos homens (incrédulos) por causa da beleza delas, esta era a motivação do casamento. O que isto tem algo a ver com a maldade e violência nas gerações seguintes?
A partir do momento que se invertem os valores, que não importa qual a fé, a piedade, a moralidade da mulher que vai criar os meus filhos, mas sim que ela tenha um corpo bonito para minha satisfação, como algo para ser usado e/ou exibido aos outros (como o rei Assuero fez com Vasti - Es 1:10,11); a partir desse atitude o próprio ser humano vai sendo desvalorizado, coisificado.
Ora, lidar com coisas é muito simples: as úteis, usamos, as inúteis, eliminamos. Deste momento em diante, puxar a espada se torna mais fácil, e a violência gera um ciclo de ódio que a multiplica. Desvalorizar um só ser humano é desvalorizar toda a humanidade. Por outro lado, a humanidade toda ganha quando um só ser humano é valorizado por aquilo que ele tem de melhor, o fato de ser uma imagem (representação/representante) de Deus no mundo (Gn 1:26,27).

Como critérios bíblicos, além do senhorio de Jesus, podemos citar um caráter de acordo com a Palavra de Deus como algo muito desejável na pessoa com quem vamos nos unir. Podemos citar passagens como Pv 11:22; 12:4; 21:19; 31:10-12,13b,20,25-27,30 que apesar de falarem das mulheres (foram escritas por homens) certamente valem também para os homens:

Como jóia de ouro em focinho de porco, assim é a mulher formosa que não tem discrição;
A mulher virtuosa é a coroa do seu marido, mas a que procede vergonhosamente é como podridão nos seus ossos;
Melhor é morar numa terra deserta do que com a mulher rixosa e iracunda;

Mulher virtuosa, quem a achará? O seu valor muito excede o de finas jóias.O coração do seu marido confia nela, e não haverá falta de ganho. Ela lhe faz bem e não mal, todos os dias da sua vida. de bom grado trabalha com as mãos. Abre a mão ao aflito; e ainda a estende ao necessitado. A força e a dignidade são os seus vestidos, e, quanto ao dia de amanhã, não tem preocupações.
Fala com sabedoria, e a instrução da bondade está na sua língua. Atende ao bom andamento da sua casa e não come o pão da preguiça. Enganosa é a graça, e vã, a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada.

O mais importante é a pessoa ter o temor do Senhor, pois isto que lhe contém o pecado, o faz arrepender-se, e tentar sempre melhorar, primeiro por causa de Deus, depois por causa do cônjuge.
Além disso:

O temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Pv 1:7) e
Com a sabedoria edifica-se a casa (Pv 24:3)

Assim:
Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai -a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações. (1Pe 3:7)

Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos! Pois comerás do trabalho das tuas mãos, feliz serás, e te irá bem. A tua mulher será como a videira frutífera aos lados da tua casa; os teus filhos, como plantas de oliveira, à roda da tua mesa. Eis que assim será abençoado o homem que teme ao Senhor! (Sl 128:1-4)


OUTROS CONSELHOS QUE PODEM SER DADOS:

Observar a relação da pessoa com seus pais. Muitas vezes o conjuge trata o outro do jeito que tratava eles, e outras vezes, espera do outro o que esperava dos pais.
É bom isso? É certo? Talvez não, mas acontece de forma tão inconsciente que é difícil evitar. Por isso prepare-se.
Por falar em pais, é muito bom se eles aprovarem, se isso for possível já é meio caminho andado. E os amigos de cada um? São grupos totalmente incompatíveis? Você se sente bem com os amigos dele(a) e vice-versa? Claro que se o casal já tinha amigos em comum isso fica mais fácil.

Lembre-se que a gente não se une à pessoa sozinha, nós também nos unimos com a família e amigos dela e vice-versa (para mal ou para bem). Geralmente não é bom fazer a pessoa abandonar seus amigos por causa de você nem você fazer isso por causa dela.

Escolha uma pessoa que você goste muito. Que goste mesmo de conviver, e conversar, com a qual o tempo passa e vocês nem sentem o relógio. Não precisa ser uma pessoa por quem você sente uma paixão enlouquecedora agora, mas principalmente, alguém que possa ser o seu melhor amigo para o resto da vida.

Alguém por quem você daria vida, alguém a quem você pode se dedicar completamente. Alguém de quem você possa aturar os defeitos. Alguém em quem você confia para ajudar a criar os seus filhos. Alguém que tenha qualidades que você quer que seus filhos tenham. Alguém em quem você pode confiar e colocar a mão no fogo por ele.


Por último, antes de ficar procurando alguém que seja a pessoa ideal para você, procure você ser a pessoa ideal para alguém. Tente ser a pessoa que qualquer um(a) gostaria de ter como namorado(a), e com certeza “aquela pessoa” aparecerá na sua vida.

Quem és, Senhor?

Foi o que perguntou Saulo, quando caiu cego pela luz de Cristo na estrada para Damasco (At 9:5). Já muitas pessoas de nosso tempo também caíram cegas, mas não por contemplarem ao Senhor, mas por amarem e abraçarem o chão deste mundo, e se interessarem somente por sua sobrevivência, seu dinheiro, seus bens, aparência, prazer, lazer, conhecimento, reputação, comprar, possuir, usufruir... Não parece haver muito lugar para Deus na vida delas. Deus geralmente não é muito citado no mundo, não é muito citado na escola, não é muito citado no local de trabalho. Deus é tratado como uma opinião entre outras possíveis. Se é assim, quando elas vão se interessar em saber quem Deus é?
De qualquer modo, quase todos reconhecem que Deus existe. Quem diz que Ele não existe precisa fazer um esforço muito grande para negar aquilo que no fundo todos sabem ser verdade. Mas como é o Deus que as pessoas em geral acreditam? É o Deus verdadeiro? Ou apenas uma idéia falsa de Deus? Como se pode saber? Que pistas Ele deixou para nós O conhecermos?

1-A Criação
Algumas pessoas, daquelas que reprimem sua consciência para dizer que Deus não existe, usam as teorias científicas como argumento para dizer que o mundo se fez sozinho. Esquecem que toda teoria é só teoria, uma possibilidade imaginada de acordo com as evidências observadas no momento. Isto é, a Ciência mesmo nunca se considera como verdade absoluta. Ainda assim, a própria Criação já é uma prova clara da existência do Criador (Rm 1:19-22), pois nela Deus manifesta a Sua glória para nós (Sl 19:1-5), em toda a magnitude, harmonia, beleza e maravilha da natureza. É bom lembrar que no início da Ciência Moderna, muitos cientistas eram cristãos que procuravam leis na Natureza justamente por crerem num Soberano Legislador.
Outras pessoas concordam até que Deus criou o mundo, mas que depois deixou as coisas correrem sozinhas. Quer dizer, como um relojoeiro que fabrica um relógio, dá a corda e vai embora. Porém a Palavra diz que Ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas (At 17:25); que guarda suas vidas (Ne 9:6) e supre continuamente suas necessidades (Sl 145:15,16).
Se a Ciência não se considera verdade absoluta, a Palavra de Deus reivindica exatamente isso. "Tua Palavra é a verdade", disse Jesus (Jo 17:17). Pela Palavra entendemos que nosso mundo e nossa vida têm propósito, têm destino, foram planejados por Deus, são sustentados por Ele e são objeto do Seu cuidado. Nela aprendemos que Deus deu ao ser humano a tarefa de ocupar, governar, cultivar e preservar o mundo que Ele criou (Gn 1:28; 2:15), cultivando um coração grato por tudo que Ele concedeu de bom para nós usufruirmos (Gn 1:29-31; 1Tm 4:5; 6:17).

2-O livro de Deus
O Rei Eterno é imortal e invisível (1Tm 1:17), nenhum dos homens O viu nem pode ver (1Tm 6:16). Se tivéssemos apenas a Criação para conhecê-Lo, saberíamos sobre Sua majestade, Seu poder e Sua sabedoria. Mas não saberíamos que Ele nos oferece Sua salvação e Sua graça. Na pessoa de Jesus Cristo, Deus revelou plenamente Sua verdade e Sua vontade para nós (Hb 1:1-4) e a Bíblia é o registro desta revelação. O fato de termos acesso à Palavra de Deus é uma luz para nós descobrirmos a vontade de Deus, quem é Deus, o que é a verdade e como sermos salvos, pois a Palavra, como espada do Espírito Santo (Ef 6:17), nos ensina todas essas coisas.
Esta Palavra que veio do próprio Deus deve ser obedecida fielmente (Dt 27:8-10), é infalível (Is 34:16) e eterna (Is 40:8); pois Deus não poderia falar de forma menos grandiosa (Sl 29). Ela é tão suficiente que diz: se algum crente falar para a igreja, deve falar segundo a Palavra de Deus (1Pe 4:11), não indo além do que está escrito (1Co 4:6), nada acrescentando (Pv 30:6) e nem diminuindo (Dt 12:32). A Bíblia basta.
É uma Palavra amável, por ser muito pura (Sl 119:140). Ela é poderosa e cheia de majestade (Sl 29:4), é martelo que quebra a pedra (Jr 23:29), é espada que penetra o coração (Hb 4:12). Bem-aventurado quem lê, quem ouve (Ap 1:3), quem medita nela dia e noite (Sl 1:1,2), quem guarda e quem pratica (Jo 13:17), pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, cujas folhas não caem, e tudo quanto fizer prosperará (Sl 1:3).
Renderemos graças a Ti, Senhor, pois magnificaste acima de tudo o teu nome e a tua palavra (Sl 138:1,2)! E agora que nos atrevemos a falar sobre Ti, ainda que somos pó e cinza, não sejamos como os amigos de Jó, que não disseram de Ti o que era reto (Jó 42:7), mas que o nosso coração ferva com palavras boas a Teu respeito (Sl 45:1) e seja-Te agradável a nossa meditação (Sl 104:34).

3-Deus onisciente.
"Deus está vendo", "Deus sabe do meu coração", "Deus é testemunha", "Deus sabe de todas as coisas", são algumas frases populares que corretamente falam da onisciência de Deus. Pois a Palavra nos confirma que Ele realmente ouve tudo, vê tudo e sabe tudo. Nada pode surpreender a Deus, Ele não pode se espantar, pois desde o princípio anuncia o que há de acontecer (Is 46:10). Nada podemos esconder dele, nem os nossos pecados secretos, nem nossos pensamentos, nem nossos planos (Ez 11:5). Ele não é como nós, vendo as coisas segundo o que parece aos olhos (2Co 10:7), o Senhor, ao contrário, olha para o coração (1Sm 16:7).
Esta verdade torna inútil toda a hipocrisia e fingimento, elas serão expostas no dia em que Deus julgar os segredos dos homens (Rm 2:16). Mesmo que às vezes pareça que Deus não está vendo as injustiças que se cometem, aqueles que temem ao Senhor sabem que Ele atenta e ouve, tomando nota das obras dos homens (Ml 3:13-16), para o dia em que Ele retribuirá a cada um segundo as suas obras (Ap 20:12).
Por isso, Senhor, confiamos que Tu nos ouve quando clamamos (Sl 34:17) e que nossos caminhos estão perante os Teus olhos (Pv 5:21). Purifica-nos dos erros que não percebemos (Sl 19:12), vê se há em nós algum caminho mau e guia-nos pelo caminho eterno (Sl 139:24) para que Teu sorriso esteja sobre nós (Sf 3:17) e não tenhamos do que nos envergonhar.

4-Deus onipresente.
Neste tempo, principalmente nos centros urbanos, muitas pessoas se sentem solitárias, mesmo no meio de uma multidão, pois ali não se conhecem uns aos outros. A onipresença de Deus nos garante de não estarmos realmente sozinhos, não nos sentirmos solitários e podermos usufruir da compania do Senhor em nossas vidas (Sl 16:8).
Essa onipresença nem sempre é percebida ou entendida por nós (Gn 28:16), mas Deus está em todos os lugares, agindo em todos os lugares, governando tudo e sustentando tudo (Jr 23:24; Sl 145:15; At 17:25). Isto também nos chama à responsabilidade por nossos atos, ao lembrarmos que sempre estamos na presença dEle (2Co 2:17).
Nós te louvamos, Senhor, pois Tu és conosco por onde quer que andemos (Js 1:9), nos guardas por onde quer que formos (Gn 28:15), nos acompanhando como sombra (Sl 121:5), todos os dias, até a consumação dos séculos (Mt 28:20). E porque Tu tens sido o nosso auxílio e socorro presente na angústia (Sl 46:1), jubilosos cantaremos, refugiados à sombra das Tuas asas (Sl 63:7).

5-Deus onipotente.
Muitas pessoas ficam deslumbradas pelas conquistas da humanidade e pelas promessas que a tecnologia, a sociedade e as filosofias lhes fazem. Mas se apenas contemplassem os céus, obra dos dedos de Deus, a lua e as estrelas que Ele preparou, já poderiam perguntar: que é o homem mortal para que Deus se lembre dele (Sl 8:3,4)? Como se iludem aqueles que não reconhecem que riquezas e glória vêm de diante do Senhor, que Ele domina sobre tudo, que na Sua mão há força e poder e na Sua mão está o engrandecer e dar força a tudo (1Cr 29:12)!
O ser humano, frágil e incapaz, precisa em tudo do Deus Todo-Poderoso, até para continuar respirando (Jó 34:14,15). Se o tempo que o ser humano gasta para elogiar-se pelo que pode fazer fosse gasto para igualmente refletir no que não pode fazer, como este mundo se inundaria de orações suplicantes a Deus!
Diante disto, Senhor, proclamamos que a nossa força nada faz. A Tua força tudo pode fazer. Quem, além de Ti, poderia fazer o sol se deter e a lua parar (Js 10:13)? Quem poderia fazer chover pão dos céus (Ex 16:4)? Quem poderia fazer os cegos verem, os coxos andarem, os leprosos serem purificados e os surdos ouvirem (Lc 7:22)? E quem, além de Ti, poderá ressuscitar todos os mortos (Ap 20:12), destruir a morte para sempre (1Co 15:54); livrar a Criação do cativeiro com a liberdade da glória dos Teus filhos (Rm 8:19-22), restaurar todas as coisas (At 3:21), fazendo novos céus e nova terra, nos quais habite a justiça (2Pe 3:13)? Fortalece-nos Senhor, em Ti e na força do Teu poder (Ef 6:10), porque as coisas que são impossíveis aos homens são possíveis a Ti (Lc 18:27).

6-Deus Santo.
Sempre que o ser humano inventa uma religião, ele imagina deuses parecidos consigo mesmo, deuses fracos, cheios de intrigas, ganâncias, invejas, maldades e caprichos. Seus deuses não são melhores que ele, e não lhe pedem nada que ele não possa fazer. Geralmente se cria um tipo de relação comercial como, por exemplo, ofertas em troca de bençãos.
Mas o Senhor, Deus vivo e verdadeiro, nunca poderia ser inventado, simplesmente porque é santo, puro, perfeito, de um modo como jamais passou pela imaginação do homem. Sua separação de todo mal, Sua altíssima Lei, Sua infinita pureza, sua total repulsa pelo pecado, só poderiam ser conhecidas por nós pela revelação que Ele fez de Si mesmo. "Quem não te temerá, ó Senhor, e não magnificará o Teu nome? Porque só Tu és santo (Ap 15:4)".
É fácil lidar com os deuses inventados pelos homens, mas quem poderia estar em pé perante o Senhor, este Deus santo (1Sm 6:20)? A santidade dEle nos faz tremer e reconhecer nossos pecados (Is 6:5), nos prostrando debaixo dos Seus pés (Sl 99:5). Com solenidade, Ele nos ordena sermos santos por causa da Sua santidade (1Pe 1:15,16) e ter fome e sede de uma vida que Lhe glorifique. Ele não precisa em nada de nós, mas nos ordena tudo por Sua autoridade e nos dá tudo por Sua misericórdia (Sl 50:7-12; Rm 11:33-36; 1Co 4:7).
Te louvamos, Senhor Deus, pois Tu és santificado em justiça (Is 5:16). Tua santidade é puríssima (Hc 1:13), Tua santidade é gloriosa (Ex 15:11), Tua santidade é tremenda (Sl 99:3), Tua santidade é única (1Sm 2:2), Tua santidade é soberana (Sl 47:8), Tua santidade é confiável (Sl 22:3-5) e mais do que tudo, Tua santidade é perfeitamente bela (Sl 96:9). Santo, Santo, Santo és Tu, Senhor Deus Todo-poderoso, que era, que é, e que há de vir (Ap 4:8)! Santifica-nos para Tua glória, a qual enche toda a terra (Is 6:3).

7-Deus justo.
Algumas pessoas pensam que Deus perdoa os pecados porque é bom, porque é amor. É verdade que Ele é amor e é bom, mas não é por isso que Ele perdoa os pecados. Se fosse assim, a gente poderia pecar à vontade e Deus por ser "bom" não ligaria para os nossos pecados. Se Deus fosse assim, aliás, nem seria tão bom, por deixar correr solto o mal. Mas porque o Senhor é justo, ele ama a justiça (Sl 11:7) e ao culpado não tem por inocente (Na 1:3), mas realmente castiga o pecado (Ez 7:9).
Essa justiça de Deus nos faz não buscar vingança contra os que nos fazem mal, mas esperar nEle (Rm 12:19). Todos os questionamentos que possamos fazer acabam quando confiamos que "justo é o Senhor em todos os seus caminhos e santo em todas as suas obras" (Sl 145:17) e os Seus pensamentos são mais altos do que os nossos pensamentos (Is 55:3). O Senhor é o nosso Juiz, o Senhor é o nosso Legislador, o Senhor é o nosso Rei, Ele nos salvará (Is 33:22). Ele fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a Ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles (Lc 18:7).
O que nos lembra de também praticarmos a justiça, se é que somos filhos do Justo (1Jo 2:29), pois se aproxima o Dia em que Ele virá julgar a terra (Sl 96:13) e cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus (Rm 14:12).
E justo serias, ó Senhor, ainda que discutíssemos contigo (Jr 12:1). Tu tens razão quando nos julgas e estás certo quando nos condenas (Sl 51:4), pois diante de Ti não podemos justificar nossos pecados (Rm 3:19). Tu escreveste uma lei na consciência de cada um (Rm 2:14,15). E essa consciência nos acusa, todos os dias e muitas vezes a cada dia. E Tua Lei paga o pecado com a morte (Rm 6:23). Tu és tremendo! E quem subsistirá à tua vista, se te irares (Sl 76:7)? Mas graças te damos por Jesus Cristo, que nos livra da ira futura (1Ts 1:10).

8-Deus Salvador
O nosso Deus é o Deus da salvação (Sl 68:20), que não tem prazer na morte do ímpio (Ez 33:11). Ele nos convida com amor a beber de graça da água da vida (Ap 22:17).
Mas uma das coisas que mais prejudica o entendimento da salvação oferecida por Deus é fazer pouco caso da perdição proclamada por Deus. Quem acha que não está doente nunca vai tomar o remédio. Muitos acham que já atingiram uma bondade suficiente para satisfazer a Lei de Deus. Esta ilusão só é possível se tivermos um ideal muito abaixo do que Deus realmente nos exige. Pois Ele ordenou nada menos que a perfeição: "anda em minha presença e seja perfeito" (Gn 17:1), "sede perfeitos como é perfeito vosso Pai que está no céu" (Mt 5:48); "amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração" (Dt 6:5). Não só nos atos, mas também nos pensamentos (Mt 5:27,28). E não só o mal que fazemos, mas todo o bem poderíamos ter feito e não fizemos se torna pecado de omissão (Tg 4:17). Mesmo as coisas boas que fazemos, nossas justiças, estão misturadas com pecados diversos no nosso coração (Is 64:6), principalmente o orgulho de termos feito o bem. E mesmo que se viva uma vida toda perfeita e se pecasse uma única vez, já se é condenado e amaldiçoado pela Lei (Tg 2:10; Gl 3:10). Miseráveis homens que somos! Quem nos livrará do corpo desta morte (Rm 7:24)? Adão e Eva foram criados capazes de cumprir a Lei, mas desde que pecaram, o nosso próprio coração tornou-se a fonte dos nossos pecados (Mc 7:20-23; Rm 5:12).
Muitos podem observar uma lista de proibições e tentar evitar o pecado e o mal, mas ainda assim não há um justo, nem um sequer (Rm 3:10). Muitos podem pesquisar e conhecer as doutrinas bíblicas, mas ainda assim não há ninguém que entenda (Rm 3:11). Muitos podem participar de cultos, orações, jejuns, vigílias, propósitos, campanhas, cerimônias e tradições, mas ainda assim não há ninguém que busque a Deus (Rm 3:11). Muitos podem esperar serem salvos pela intercessão e orientação de algum santo servo de Deus, ou de alguma santa igreja de Deus, mas ainda assim todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis (Rm 3:12), não servem para salvar. Muitos podem ajudar o próximo, serem honestos, bons cidadãos, seguirem os mandamentos bíblicos ou a cultura evangélica, mas não há quem faça o bem, não há nem um só (Rm 3:12). A verdadeira religião cristã é conseqüência da salvação, jamais a causa da salvação. Só podemos nos aproximar de Deus e sermos salvos pelo caminho que Ele ordenou.

9-Jesus, o Filho de Deus.
"Disse-lhes Jesus: eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14:6).
A Lei de Deus exige perfeição e Cristo a cumpriu perfeitamente na Sua vida (Hb 7:26). Os pecados dos homens exigem castigo e Ele recebeu esse castigo através da Sua morte na cruz, pagando o preço dos nossos pecados (1Jo 2:2). Por isso, pode também salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus, e não confiam em si mesmos (Hb 7:25).
Não somos justos, mas Cristo foi justo em nosso lugar (2Co 5:21). Não podemos entender, mas Jesus nos é revelado como Salvador (Mt 16:15-17). Não buscamos a Deus, mas o Espírito Santo vem morar em nós (Ef 2:22). Somos inúteis para salvar, mas basta apontarmos para Cristo (At 16:30,31). Não fazemos o bem, mas somos justificados ao confiarmos em Cristo, sem as obras da lei (Rm 3:28).
O perfeito Salvador também é o perfeito modelo de vida. Qualquer dúvida sobre a vontade de Deus para nós se resolve olhando para a vida dEle (Rm 8:29), colocada como exemplo para que sigamos os Seus passos (1Pe 2:21).
Louvado sejas, Senhor Jesus, Tu és o Primeiro e o Último. Tu vives. Foste morto, mas estás vivo para todo o sempre, tens as chaves da morte e do inferno (Ap 1:17,18). Tu estás assentado à direita do Pai (1Pe 3:22), reinando, até que os Teus inimigos sejam postos debaixo dos Teus pés (1Co 15:25). Não era possível que a morte Te segurasse (At 2:24), porque Tu és o Príncipe da Vida (At 3:15) e só de dizeres "Eu Sou", Teus inimigos caem para trás (Jo 18:6). Louvado sejas, Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz (Is 9:6), Perfeito Jesus, Poderoso Jesus, Santo Jesus, Mestre Jesus, Profeta Jesus, Sacerdote Jesus, Rei Jesus, Servo Jesus, Salvador Jesus. Louvado sejas, Bendito Jesus, em Ti temos o Substituto, temos o Mediador, temos o Guia, temos o Advogado, temos o Pastor. Esperamos pelo dia em que ao Teu nome se dobrará todo o joelho (Fp 2:10), mas antes disso, hoje mesmo o Espírito Santo já nos fez declarar que Tu és o Senhor (1Co 12:3). Cremos somente em Ti para a nossa salvação.

10-O Espírito Santo de Deus
Se o Pai planejou a nossa salvação e o Filho a executou, ainda precisávamos que a salvação fosse aplicada à nossa vida. O Espírito Santo é quem faz isso. O Espírito Santo, pelo Seu poder, faz a mediação entre nós e Cristo, fazendo a salvação chegar à nossa vida. É Ele quem nos gera para o novo nascimento (Tt 3:5), nos convence dos nossos pecados (Jo 16:8) e nos dá a confiança em Cristo (1Co 12:3). Em todas as Suas obras, aponta para Jesus Cristo como alvo e sentido de tudo que Deus faz por nós e em nós (Jo 16:14).
Louvado sejas, bendito Espírito Santo, porque em Ti temos o Companheiro, o Ajudador, o Santificador, o Selo e a Garantia da salvação. Te louvamos porque Tu atuas em nós e por nós. Dás testemunho de Cristo e nos faz testemunhar (Jo 15:26,27). Consolas as nossas vidas e nos faz consolar (Jo 14:16; 2Co 1:4). Dá o desejo de sermos santos e nos santifica (Fp 2:13; 2Co 3:18). Nos faz odiar o pecado e mata o pecado em nós (Rm 8:13). Com Teus dons nos capacita (1Co 12:7) e com Teu fruto nos aperfeiçoa (Gl 5:22). Nos moves a orar (Ef 6:18), adorar (Jo 4:24) e obedecer (Rm 12:11). Tu promoves a nossa comunhão com Deus (Rm 8:26) e com os irmãos (Fp 2:1). Nos traz a própria presença do Pai e do Filho (Ef 2:22; Jo 14:17,23). Te louvamos porque Tu és Santo com o Pai e o Filho. Que nós andemos em Ti, assim como vivemos em Ti (Gl 5:25).

11-Deus que é amor!
Deus é amor e o amor é de Deus (1Jo 4:7,8), o amor flui de Deus como a luz do Sol, é a própria essência de Deus, Sua natureza é amor. Mas o amor de Deus é incondicional, gratuito, espontâneo, não existe nada na criatura que seja causa desse amor, Ele simplesmente ama (Dt 7:7,8). Ou seja, o amor de Deus não pode ser "conquistado", só pode ser recebido.
Esse amor de Deus é consolo, esperança e segurança para nós, é motivação para confiarmos nEle, nos maravilharmos e prostrarmos aos Seus pés, mas principalmente, amá-Lo de todo o nosso coração (Dt 6:5) e amar ao próximo como a nós mesmos (Gl 5:14). O amor de Deus por nós foi provado na morte de Cristo pela nossa perdição (Rm 5:8). O amor de Deus em nós é a prova da vida de Cristo na nossa santificação (1Jo 2:5; Rm 5:5).
Tu, Senhor, sustentas a todos os que caem e levantas a todos os abatidos (Sl 145:14), sara os quebrantados de coração e liga-lhes as feridas (Sl 147:3), Tu nos consolas com um consolo de mãe (Is 66:13), nos carregas em Teus braços como ovelhas recém-nascidas (Is 40:11), de forma que mesmo que sejamos atribulados, não seremos angustiados; se estivermos perplexos, não seremos desanimados; se formos perseguidos, não seremos desamparados; se formos abatidos, não seremos destruídos (2Co 4:8,9), porque Tu guardas a todos que te amam (Sl 145:20) e fazes com que todas as coisas contribuam para bem deles (Rm 8:28). Nós te amaremos de coração, ó Senhor, nossa fortaleza (Sl 18:1), sabendo que se te amamos é porque Tu nos amaste primeiro (1Jo 4:19).

12-Deus Triúno.
Deus é uma família eterna!1 Ele é um porque são três, pois não existe família de um só. E se fosse um isolado, Deus não poderia ser amor, pois o amor precisa ter a quem amar2. Assim Ele é Pai, Filho e Espírito Santo, que nunca deixam de amar uns aos outros eternamente. Tudo que um tem é dos outros, em tudo glorificam uns aos outros e em tudo servem uns aos outros (Jo 3:35; 16:13-15; 17:4,10,21,24,26). E a forma como o Pai, o Filho e o Espírito Santo se relacionam é o modelo para todos que pertencem ao povo de Deus, sobre como devem se relacionar uns com os outros (Jo 17:21).
Deus nos chamou para participarmos da Família dEle, e descobrirmos nossa real identidade, quando nos encontramos como integrantes do Povo de Deus, como filhos que a Trindade inteira trabalha para salvar e sustentar. Como falar sobre isso de forma distante? Como falar sobre isso sem nos dirigirmos em oração grata a Ele? Grande é o Senhor e muito digno de louvor; quem pode compreender a Sua grandeza (Sl 145:3)?
Glória a Deus, pela providência do Pai, pela fidelidade do Filho e pelo chamado do Espírito Santo!
Glória a Deus, pela misericórdia do Pai, pela mediação do Filho e pela conversão do Espírito Santo!
Glória a Deus, pela palavra do Pai, pela paz do Filho e pelo ensino do Espírito Santo!
Glória a Deus, pela eleição do Pai, pela redenção do Filho e pela confirmação do Espírito Santo!
Glória a Deus, pela adoção do Pai, pela herança do Filho e pelo testemunho do Espírito Santo!
Glória a Deus, pelo plano do Pai, pela obediência do Filho e pela santificação do Espírito Santo!
Glória a Deus, pelo amor do Pai, pela graça do Filho e pela comunhão do Espírito Santo!
Glória a Deus, pelas obras do Pai, pelos ministérios do Filho e pelos dons do Espírito Santo!
Glória a Deus, pelas três Testemunhas celestes: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, porque estes três são Um, e em nome dEles se fazem discípulos de todas as nações! (Ef 4:4-6; Tt 3:4-6; Jo 14:24-27; Ef 1:3-14; Rm 8:16,17; 1Pe 1:2; 2Co 13:13; 1Co 12:4-6; 1Jo 5:7; Mt 28:19).

E para que isso aconteça, te pedimos, Senhor, que Tu abras os olhos dos que estão se perdendo, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos, para que a partir de agora lhes resplandeça a luz do Evangelho da glória de Cristo (2Co 4:3,4), que Saulo viu na estrada para Damasco.
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1 Sobre a descrição da Trindade como família, ver HORREL, J. Scott. O Deus Trino que se dá, a imago Dei e a natureza da igreja local. Vox Scripturae, 6/2, dez/1996, p. 243-262. (p. 248-249); STEUERNAGEL, Valdir R. Obediência missionária e prática histórica: em busca de modelos. São Paulo: ABU Editora, 1993. 198p. (p. 103-106); e STEVENS, R. Paul. Os outros seis dias: Vocação, trabalho e ministério na perspectiva bíblica. Viçosa: Ultimato, 2005. 270p. (p. 53-55).
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2 Sobre a importância da doutrina da Trindade para a definição do amor e da salvação de Deus, ver:
HORREL, J. Scott. Uma cosmovisão trinitária. Vox Scripturae, 4/1, mar/1994, p. 55-77. (p. 65- 68;76-77).
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Publicado em Vivendo - Edição do Professor. Rio de Janeiro: JUERP.

Somente por Cristo chegamos a Deus (1a parte)

Ninguém vem ao Pai, senão por mim (Jo 14:6).
Porque o nosso Deus é um fogo consumidor (Hb 12:29).


Ananias e Safira mentiram a Deus na igreja, e morreram.
Nadabe e Abiú tomaram fogo de outro lugar que não era o altar, com a intenção de oferecer um sacrifício. E morreram.
Uzá tocou na arca, com a intenção de não deixá-la cair. E morreu.
O sumo sacerdote não podia entrar no Santo dos Santos sem sangue do cordeiro.
Moisés pediu a Deus: Rogo-te que me mostres a tua glória. Mas Deus lhe disse: não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá. (Êxodo 33:20).


Isso não é porque Deus é irritável ou caprichoso.
É por que:
Ele é santo e nós somos pecadores.
Ele é puro e nós somos impuros.
Não queira ver a Deus face a face.
Não encare o juiz sem um advogado.
Não podemos subir a Deus.
Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo?Aquele que é limpo de mãos e puro de coração (Sl 24:3,4).
"Mãos limpas, coração puro. O padrão é alto demais. Isto descreve você? Não descreve a mim. (frase de Michael Horton)".
Não podemos subir a Deus. Deus teve que descer.
Não podemos ter um contato direto com Deus. Precisamos de um mediador.
Cristo é este único mediador.


Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem. (1Tm 2:5)


As escadas quebradas da religião


Nós, seres humanos, sabemos que estamos distantes de Deus.
Para solucionar isso, o ser humano sempre tem criado caminhos religiosos que o façam aceito por Deus, ou pelo menos preencham o vazio que existe dentro dele, “do tamanho de Deus”[1].
Ele tenta chegar até Deus por diversos meios que sua imaginação sugere.
As pessoas costumam tentar se salvar:

- Pela purificação: santificando a si mesmo, pela força de leis e regras que o impediriam de se contaminar;

- Pelo conhecimento: pela investigação dos mistérios ou verdades ocultas que lhe abririam privilégios negados aos ignorantes;

- Pelas experiências: pelas orações, cultos, rituais, cerimônias, eventos sobrenaturais ou inexplicáveis, que lhe dêem contato direto com a divindade;

- Por meio de ministros: ligando-se a igrejas, instituições, pastores, sacerdotes, líderes, pessoas mais santas que ele, que já se ligaram a Deus e que por tabela o ligariam também;

- Por meio de obras: exercendo piedade, bondade, misericórdia, generosidade, ou fazendo sacrifícios e ofertas de tal forma que agrademos a Deus e Ele nos salve por causa disso.

Mas, poderiam estas pretensões humanas permanecerem de pé diante da santidade puríssima e justiça perfeita de Deus?

Porventura a minha palavra não é como o fogo, diz o SENHOR, e como um martelo que esmiúça a pedra (Jr 23:29)?
Pois o texto de Rm 3:10-12 quebra uma a uma estas escadas que pretendiam ligar o homem a Deus, declarando-as totalmente incapazes de redimir alguém:
"Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. "

Subir estas escadas sem o Mediador ordenado por Deus é um fazer um esforço tremendo apenas para ser reprovado no final.
Ninguém atinge o nível suficiente para merecer a comunhão com Deus.
Deus não pode ser conquistado.






Muitos podem observar uma lista de proibições e tentar evitar o pecado e o mal, mas ainda assim não há um justo, nem um sequer (Rm 3:10).
Muitos podem pesquisar e conhecer as doutrinas bíblicas, mas ainda assim não há ninguém que entenda (Rm 3:11).
Muitos podem participar de cultos, orações, jejuns, vigílias, propósitos, campanhas, cerimônias e tradições, mas ainda assim não há ninguém que busque a Deus (Rm 3:11).
Muitos podem esperar serem salvos pela intercessão e orientação de algum santo servo de Deus, ou de alguma santa igreja de Deus, mas ainda assim todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis (Rm 3:12), não servem para salvar.
Muitos podem ajudar o próximo, serem honestos, bons cidadãos, seguirem os mandamentos bíblicos ou a cultura evangélica, mas não há quem faça o bem, não há nem um só (Rm 3:12).
A verdadeira religião cristã é conseqüência da salvação, jamais a causa da salvação. Só podemos nos aproximar de Deus e sermos salvos pelo caminho que Ele ordenou.

(continua)












[1] Frase de Agostinho.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Somente a Escritura é autoridade infalível

 Para que aprendais a não ir além do que está escrito, não vos ensoberbecendo a favor de um contra o outro. (1Co 4:6).Em abril de 1521, o “santo imperador romano”, Carlos V foi à pequena cidade de Worms, na Alemanha, onde ele havia convocado uma assembléia imperial. Lá em Worms, estavam unidos os bispos, arcebispo, príncipes do Império, representantes das cidades livres e bem no alto, acima de todos esta o augusto Carlos V, Rei da Espanha e ‘santo imperador de Roma’.
Diante daquela assembléia imponente está o humilde monge agostiniano, Martinho Lutero, vestido com seu capuz de monge, de pé diante de uma mesa onde estavam folhetos, tratados escritos e publicados por ele. Johaun Von Eck, assistente do Arcebispo de Trier, que serviu como interrogador, mandou Lutero reconhecer o material como sendo seu mesmo, e Lutero assumiu a autoria de todo o material. Eck também perguntou se o teólogo iria se retratar das “heresias” que havia publicado. Percebendo a importância da sua postura, Lutero pediu um tempo para escrever uma resposta formal. Foram-lhe concedidas 24 horas para preparar a sua resposta e no dia seguinte ele estava diante da Assembléia e pronunciou o discurso que mudou o curso da História e modificou a Igreja para sempre. O mundo e a Igreja jamais voltaram a ser os mesmo depois que Lutero fez a sua declaração arrebatadora.
Um simples monge e um teólogo obscuro, sem fortuna ou poder, Lutero ficou diante dos governantes da Alemanha e disse: “Desde que vossa serena majestade e vossas senhorias buscam uma resposta simples, eu a darei assim, sem chifres nem dentes. A menos que seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou por mera razão (pois não confio nem no papa nem nos concílios somente, pois é bem sabido que eles freqüentemente erram e se contradizem), eu estou atado pelas Escrituras que já citei, e a minha consciência é escrava da Palavra de Deus. Eu não posso e não irei me retratar de nada, já que não é seguro nem correto agir contra a consciência”.
Lutero talvez estivesse ali tremendo, pois ele sabia que havia arriscado sua vida por Jesus Cristo. Outros que haviam tomado este tipo de atitude antes de Lutero haviam sido queimados como traidores. De fato, o reformador John Hus havia sido queimado por ordem do Concílio de Constança 100 anos antes, e entre os crimes que o levaram a morte, foi ter protestado contra a venda de indulgências [perdão de pecados dos mortos]!
Ao defender o seu ponto de vista diante daquela Assembléia, Lutero sabia que a sua vida corria um grande risco. O imperador, em favor de Lutero, manteve a sua palavra de que Lutero poderia ir até Worms e sair de lá em segurança, mas a partir daquele momento seria considerado herege diante da Igreja e um fora-da-lei aos olhos do imperador. Lutero havia proclamado o princípio que estava destinado a ecoar através dos tempos, o princípio de SOLA SCRIPTURA. Aqueles que acreditam como ele, ainda defendem só as Escrituras e, como Lutero, as suas consciências estão ‘presas à Palavra de Deus’.”[1]

Deus fala hoje? A resposta dos reformadores deram é que o Espírito Santo fala à igreja de hoje, mas apenas para explicar e aplicar a revelação que já foi feita. Havendo Deus antigamente falado muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais; pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias pelo Filho (Hb 1:1). A doutrina reformada tem pregado que a revelação essencial de Deus é a pessoa de Cristo. Foi isto que Pedro e Paulo receberam (Mt 16:16,17; Gl 1:15,16) e que cada um de nós recebe ao crer nEle como Salvador. A revelação de Deus é completa em Cristo, nosso entendimento é que é incompleto.
Portanto o trabalho do Espírito Santo em nós é de reafirmação da mensagem do Evangelho: o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto tenho dito (Jo 14:26). É um esclarecimento, uma iluminação para a nossa mente e aplicação relevante para a nossa vida. Estas iluminações podem até serem novas para nós, que estamos entendendo, mas não serão inéditas. Deus nada tem a nos dizer que já não tenha dito através de Cristo e registrado na Bíblia.
Ao crer desta forma, vemos a Bíblia como o suficiente registro da Revelação, nada devendo ser acrescentado a ela. E esta é a essência do SOLA SCRIPTURA: que a Bíblia seja considerada suficiente. Porque se a Bíblia for suficiente, as outras revelações são desnecessárias. Mas se cremos em outras revelações, estamos declarando que a Bíblia não é suficiente.
Os reformadores enfatizavam bastante a ligação do Espírito Santo com a Bíblia. Esta, sendo inspirada por Deus, ocupa a cadeira de juíza de todas as opiniões humanas, mesmo as opiniões da Igreja. SOLA SCRIPTURA não nega o valor de tradições, declarações doutrinárias e discernimentos particulares ou coletivos. Mas recusa-se a considerar como palavra vinda de Deus aquilo que não for essencialmente bíblico.
Rejeitar o que a Bíblia ensina para abraçar outros ensinos fora dela, em matéria de fé e prática cristã, é rejeitar o próprio Espírito Santo que inspirou a Bíblia. Não podemos reivindicar que o Espírito Santo em momento algum vá contra a Sua Palavra, ou nos oriente a ignorá-la. “As palavras da Escritura devem ser consideradas palavras do Espírito Santo”[2].
A igreja de Cristo não faz leis ou mandamentos à parte da Palavra de Deus; portanto, não estamos sujeitos às tradições humanas, exceto na medida em que fundamentam-se ou encontram-se prescritas na Palavra de Deus”[3]. Qualquer opinião humana, na forma de conselho, pregação, doutrina ou tradição da igreja, naquilo que não for bíblico, permanece sendo apenas isso: uma opinião, que podemos aceitar ou não. Já tudo aquilo que for verdadeiramente bíblico é a vontade de Deus revelada, à qual nos cabe obedecer.
Bem diferente dos princípios reformados, os católicos, adventistas, mórmons e testemunhas de Jeová são grupos que crêem que Deus faz novas revelações hoje. Estes grupos estabeleceram o conteúdo destas revelações e as colocam no mesmo nível da Bíblia para se guiarem. Seja com novos livros inspirados (mórmons e adventistas), seja pela orientação dos governantes (testemunhas de Jeová) ou por um conjunto de instrumentos tais como tradições orais, concílios, dogmas e orientações infalíveis do papa (católicos), eles tratam as suas revelações como tratam a Bíblia, como novas palavras infalíveis de Deus. Para um membro destes grupos não importa muito questionarmos que alguma de suas doutrinas não tenha base bíblica, pois eles assumem que não se baseiam somente na Bíblia.
Outra posição diferente da reformada é a dos pentecostais. Estes crêem que Deus continua falando novas coisas, e tem revelações diretas a dar aos crentes e às igrejas. Porém os pentecostais em geral não registram estas novas revelações para a posteridade, e não consideram que essas revelações deveriam ter as mesmas características das palavras bíblicas: falar com autoridade, universalidade, infalibilidade e eternidade. Os pentecostais crêem que Deus continua falando, mas de forma um tanto insegura, em “revelações” que podem ou não ser verdadeiras, não são eternas, nem universais. Caem eles em “outro problema: (...) considerar que, ora Deus fala como Deus (nas Escrituras), e ora ele fala como homem (revelação moderna). Ou seja, Deus falou inspiradamente quando tratava-se das Escrituras Sagradas, mas agora Ele fala aos seus filhos como qualquer outro homem, sem inspiração, de maneira errante e falível”[4].
Ainda outro problema da posição pentecostal é que geralmente as suas revelações não são públicas. Não há muito diálogo das revelações pentecostais com o mundo, com os incrédulos, nem com as outras denominações cristãs. São coisas particulares sobre a vida de um irmão ou igreja, geralmente pentecostal também. Os profetas bíblicos, ao contrário, falavam em público para todos, com toda a certeza e sem medo, pois tinham uma palavra infalível da parte de Deus. Expunham-se tranquilamente ao teste de que “se tal palavra não se cumprir, esta é a palavra que o Senhor não falou (Dt 18:22)”.
Toda a palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nEle. Nada acrescentes às Suas palavras, para que não te repreendas e sejas achado mentiroso (Pv 30:5,6).
Que a Bíblia é a Palavra de Deus, praticamente todos os cristãos concordam. Mas que a Bíblia seria a única autoridade infalível para a igreja, esta é uma peculiaridade dos que abraçaram o princípio SOLA SCRIPTURA da Reforma.
Diante dos erros do catolicismo medieval, os reformadores da igreja não tiveram outra alternativa a não ser confiar somente na Escritura como autoridade final. Eles tiveram a convicção de que a fonte da maioria dos erros de doutrina e prática da Igreja Católica eram as outras autoridades (tradições, concílios, visões, revelações, decisões dos papas, etc.) que foram colocadas no mesmo nível da Bíblia. A causa da Igreja Católica ter se desviado tanto, diriam, foi justamente confiar em outras coisas além da Bíblia. E o único meio de se corrigirem tais erros sem controle era guiar-se pela Bíblia acima de tudo.
De fato, desde que o bispo de cada igreja foi considerado como tendo a palavra final para os crentes, e os concílios para a Igreja inteira, o que aconteceu foi uma espiral de desvios que até hoje vão se acumulando uns sobre os outros. Podemos citar “a oração pelos mortos (no ano 310 D.C.), a instituição da missa substituindo o culto (394), o culto a Maria (431), a invenção do purgatório (503), a veneração de imagens (783), a canonização dos santos (933), o celibato clerical (1074), o perdão através da venda de indulgências (1190), a hóstia substituindo a Ceia (1200), a adoração da hóstia (1208), a transubstanciação (1215), a confissão auricular (1216), os livros apócrifos como parte do cânon (1546), o dogma da Imaculada Conceição de Maria (1854) e o dogma da Assunção de Maria (1950), infalibilidade papal, dentre outros.[5]
E hoje, de forma alarmante, outro turbilhão de desvios e novidades estranhas tem assolado a igreja, desta vez no ramo evangélico, se desenvolvendo, talvez não por coincidência, após o Movimento Pentecostal (1901) ter negado conscientemente o princípio protestante de somente a Escritura, para afirmar que Deus estava através deles restaurando os dons miraculosos de visões e revelações dos tempos apostólicos.
De lá para cá que ênfases novas temos visto (para os evangélicos)? Falar “em línguas” (ano de 1901), batismo do Espírito Santo como degrau para uma vida cristã superior (1901), revelações e previsões (1901), ministérios de cura e exorcismo (1950), unção com óleo (1950), teologia da prosperidade (1970), manipular serpentes, sopro do Espírito, cair no Espírito, dançar no Espírito, dentes de ouro, copo com água abençoada, rosa ungida, distribuição de objetos ‘abençoadores’ (década de 80), batalha espiritual (moldada por uma obra de ficção, o livro “Este mundo tenebroso”, de 1986), cura interior, confissão positiva, maldição hereditária, entrevista de demônios, cura de carros, aparições de Cristo, encenação espiritual, viagem celestial, unção do riso, vômito santo (década de 90), adoração profética, ato profético, dança profética, consulta a espíritos sobre o nome das potestades territoriais, mapeamento espiritual, exorcismo da cidade, declarações proféticas de bairros e cidades como “sendo de Jesus”, emagrecimento milagroso, levitação, unção do leão, unção da lagartixa (século XXI), e por aí vai. Não há limite, porque o limite da Escritura foi ignorado (contrariando 1Co 4:6). Se uma igreja não crê só na Escritura como fonte de doutrina, tudo se torna válido.
Individualmente, também, muitos crentes de hoje além de crerem na Bíblia, estão fabricando suas próprias “bíblias mentais” como fonte de doutrina, em acréscimo à Escritura. Mas a nossa consciência não é Palavra de Deus. Nossa imaginação não é Palavra de Deus. Nossa intuição não é Palavra de Deus. Nossas idéias não são Palavra de Deus. Nossos desejos não são Palavra de Deus. Nossos palpites não são Palavra de Deus. Nossos projetos não são Palavra de Deus. Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos que os vossos pensamentos (Is 55:8,9).
Por isto podemos desconfiar que haja muito de precipitação e ingenuidade quando alguns crentes de hoje dizem: “Deus diz, Deus quer, Deus pensa, Deus está falando”, se eles estiverem com isso projetando seus desejos e imaginações. Erradamente têm se entendido que ter a mente de Cristo (1Co 2:16) seria automaticamente pensar sempre como Cristo pensa, como se tivéssemos entrado nos pensamentos de Deus, só porque fomos salvos da condenação. Este texto (1Co 2:16) apenas compara a sabedoria do Evangelho com a sabedoria do mundo.
O fato do Espírito Santo estar em nós não nos tornou automaticamente infalíveis. Se assim fosse, teríamos que considerar a Bíblia desnecessária. E justamente a necessidade, grandeza e especialidade da Bíblia é ser a Palavra de Deus totalmente confiável para nós. Não podemos confiar em nosso próprio coração, ele é demasiadamente enganoso e desesperadamente corrupto (Jr 17:9).
Portanto a Escritura Sagrada torna-se indispensável “para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo[6]”.
Assim entendemos que ao seguirmos o princípio reformado de que SOMENTE A ESCRITURA É AUTORIDADE INFALÍVEL:
1 - Afirmamos que o sentido da Bíblia, nas suas coisas essenciais, é acessível a todo crente. Atualmente a Bíblia, tal como nos tempos medievais, foi tirada do povo. E isto aconteceu não só pela volta do misticismo, mas também pelo racionalismo: através da complicação da mensagem e do sentido da Bíblia. Os seminários e faculdades teológicas, com estudos detalhistas, tornaram o sentido da Bíblia virtualmente inacessível, uma vez que fizeram crer que só através de um estudo detalhado de grego, hebraico, antropologia, sociologia, história, arqueologia, filosofia, etc, se pode chegar ao seu sentido.
A solução para reverter esse quadro não é simplesmente afirmar de forma geral que o Espírito Santo guia o crente, mas também reconhecer que a mensagem da Bíblia é simples (Rm 10:8,9) e a chave da sua interpretação é Cristo (Lc 24:25-27). Se lembrarmos simplesmente de Cristo e dEle crucificado (1Co 2:2), já saberemos o suficiente para entender a mensagem da Bíblia.
Porque este mandamento, que hoje te ordeno, te não é encoberto e tampouco está longe de ti... porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a fazeres (Dt 30:11,14). As coisas encobertas são para o Senhor, nosso Deus; porém as reveladas são para nós e para nossos filhos, para sempre, para cumprirmos todas as palavras desta lei (Dt 29:29).
Cremos assim que tudo que Deus julgou relevante sabermos está suficientemente claro na Bíblia para os que a lerem ou ouvirem. Mais ainda: quanto mais necessária, mais clara será a informação na Bíblia, e as informações menos claras são as menos necessárias. Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela (Dt 4:2).

2 - Confiamos realmente em tudo que a Bíblia diz de si mesma. A Bíblia se diz viva e eficaz (Hb 4:12). Estar insatisfeito com a Bíblia é negar que ela seja viva e eficaz.
Ela se diz apta para discernir (Hb 4:12). Buscar discernimento sem ela é como dizer que ela seria incapaz de fazer isso em nós.
Reinvidica ter sido produzida pelo Espírito Santo (2Pe 1:19-21). Crer que o Espírito Santo vá trabalhar em nós sem ela, é tornar todo este trabalho de Deus sem sentido. O mesmo Espírito Santo que falou pelos profetas, nos chama nessa passagem para atentarmos para a Sua Escritura até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em nossos corações. Se tivermos comunhão com Ele obedeceremos a este chamado.
A Escritura se considera divinamente inspirada (2Tm 4:16). Pedir a Deus que nos fale fora da Palavra é fechar a carta que Ele nos escreveu, sem entendê-la toda. Se escrevêssemos detalhadamente instruções a alguém, não gostaríamos que este nos telefonasse a todo momento para nos perguntar tudo que já respondemos na instrução.
A Escritura se considera proveitosa para que sejamos perfeitos e perfeitamente instruídos (2Tm 4:16). Sendo assim, seria ela incompleta? Ineficiente? Incapaz? Precisaríamos de outra fonte para aprender? Precisaríamos de outra fonte para praticar? Precisaríamos de outra fonte para decidir?
A Palavra se diz a espada do Espírito (Ef 6:17). Quem somos nós para sugerir ou dar ao Espírito Santo outro instrumento para o Seu trabalho?
3 - Afirmamos que a Palavra de Deus é suficiente para nos mostrar a vontade de Deus. Paulo, se dirigindo aos judeus, disse: “sabes a Sua vontade, (...) sendo instruído por lei” (Rm 2:18). Ele estava se referindo às Escrituras. A Bíblia dos judeus, segundo Paulo, era suficiente para saber a vontade de Deus.
Negamos assim que uma experiência mística, sentimental ou imaginativa fora da Palavra seja uma fonte confiável para descobrir a vontade de Deus para a nossa vida. O que confia no próprio coração é um insensato (Pv 28:26).
Na verdade, o que dará real segurança ao crente de estar dentro da vontade de Deus é conhecer a Palavra, pois isto é que ensinará a nossa consciência a aplicar a vontade de Deus às nossas vidas, a cada momento. Escondi a Tua Palavra no meu coração, para eu não pecar contra Ti (Sl 119:11).
“Fiz uma aliança com Deus: que não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas, que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida como para a que há de vir”[7].
Magnificaste acima de tudo o Teu nome e a Tua palavra (Sl 138:1,2).

4 - Afirmamos que a Bíblia tendo origem divina e não humana, costuma contradizer nossas obras e pensamentos, que são humanos e não divinos. É digno de atenção o fato de que os resultados costumam ser diferentes ao buscarmos a vontade de Deus fora da Bíblia ou através dela.
Quando buscamos a Deus fora da Bíblia, geralmente encontramos um Deus muito parecido conosco, que pensa como nós, que nos elogia, que serve à nossa vontade, confirma o que fazemos, autoriza o que queremos, que apenas repete o que já sabemos, justifica todos os costumes e tradições, diviniza nossa cultura, assina embaixo de nossos pressupostos, dá continuidade a nossos preconceitos e aprova erros doutrinários, o Deus fora da Bíblia se conforma a nós e fala ao nosso favor.
Porém quando buscamos a vontade de Deus pela Bíblia, geralmente encontramos um Deus muito diferente de nós, que não pensa igual a nós, um Deus que confronta nossos inúmeros pecados e falhas, que contradiz a nossa vontade, que contesta nossos planos, que denuncia nossas segundas intenções, que nos ordena dar meia volta em nosso caminho, que nega os projetos construídos sobre falso fundamento, que tira nossas máscaras, que nos ordena contestação, renovação, revolução e reinvenção de nossos projetos e nossa própria pessoa. O Deus da Bíblia é transformador, vai de encontro a nós e fala contra nós para o nosso bem.
O Deus revelado pela mente costuma dar álibis, pretextos e confirmações, o Deus revelado pela Bíblia costuma confrontar, desafiar e quebrantar. Qual seria o Deus verdadeiro?

Santifica-os na verdade, a Tua Palavra é a verdade (Jo 17:17).
Se você tivesse que atravessar um matagal de noite, no escuro, uma travessia prevista de duas horas, e fosse um amigo contigo, e este dissesse: “tá aqui as pilhas para a lanterna, só que eu não sei o quanto estas vão durar, são usadas”.
Você não se preocuparia com razão? Certamente você diria algo como “vamos ver se a gente arranja alguma pilha nova, que nos garanta as duas horas de travessia, pois não temos segurança nessas pilhas”...
Imagine também que você pede a um amigo: “preciso que você faça para mim um orçamento deste produto, até a semana que vem, para que eu possa separar o dinheiro”. E ele chegasse na outra semana e te respondesse: “olha, no dia seguinte ao que você me pediu esse orçamento, eu sonhei que o preço é R$ 10,00; e também eu ouvi falar que o preço pode variar entre R$ 10,00 e R$ 1.000,00, mas o que eu sinto no meu coração é que o preço é R$ 10,00 mesmo”...
Em um mesmo dia saltamos da euforia para a depressão. Em um mesmo dia, rimos e choramos. Em um mesmo dia, sentimos paz e desespero.
É possível construir alguma casa sobre areia movediça? É prudente investir dinheiro em bilhetes de loteria?
Confiar nas nossas experiências, impressões, especulações e sensações, crendo que sejam orientações de Deus é confiar no que há de mais inconstante, incoerente, incerto e inseguro. Porque estamos falando de coisas que variam o tempo todo.
Buscar Deus nesse mar revolto que é o nosso coração é considerar que Deus seja inconstante como nós. Como se Ele fosse um daqueles deuses caprichosos da mitologia grega, que brincavam com os seres humanos de acordo com o seu humor do dia.
De que valeu o “trabalho” do seu amigo? Serviu para quem precisa separar o dinheiro exato para a compra? Comparando-se o “esforço” do seu amigo com as experiências místicas que nos acontecem aleatoriamente, dando certeza de pouca coisa ou nenhuma; o ato de consultar a Palavra de Deus com oração e fé seria como se o amigo tivesse consultado a tabela oficial de preços da loja, com o preço exato, incluindo os centavos, prazo de entrega e as formas de pagamento.
Da mesma maneira, quando o misticismo é colocado como outra bússola de Deus pra nós, além da Bíblia, estamos dispensando as pilhas novas e confiáveis, por pilhas usadas, que não sabemos quando irão falhar.
O Espírito Santo é o Autor da Bíblia. A opinião da Bíblia é a opinião do Espírito Santo. Se quisermos saber a vontade do Espírito Santo, cabe-nos atentar para a carta que Ele escreveu para nós.
Porque queremos outras orientações se ainda não entendemos e muito menos praticamos a primeira orientação?
Eis o que o Espírito Santo disse sobre o coração humano:
O que confia no seu próprio coração é insensato (Pv 28:26).
Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? (Jr 17:9). Nunca é demais repetir, o nosso coração é a coisa mais perversa e enganosa do mundo!
Do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem. (Mc 7:21-23). E no entanto o que mais se ouve é o conselho de consultarmos nosso coração...
Não esqueçamos que apesar de salvos ainda somos pecadores; apesar de convertidos ainda não temos um coração perfeitamente santo, ainda somos enganados pelo pecado dentro de nós (leia Tg 1:14), e isso atrapalha tudo.
Em contraste, eis a opinião do Espírito Santo falando na Bíblia sobre ela mesma: o caminho de Deus é perfeito; a palavra do Senhor é provada; é um escudo para todos os que nele confiam (Sl 18:30).

Ou seja, nós:

5 – Relativizamos o valor das experiências incertas, uma vez que temos a certeza da Palavra.A Palavra de Deus é imutável. A Palavra de Deus é perfeita. Ela é digna de representar a vontade de Deus para nós.
Nossas sensações e impressões são inconstantes e imperfeitas. Por isso são indignas de representar a vontade de Deus para nós.

6 – Afirmamos que crer somente na Escritura não é mero tradicionalismo.Até porque a Reforma é que ao seu tempo foi acusada de desvalorizar a tradição católica, ao proclamar que só a Palavra é autoridade infalível.
Hoje a situação se inverteu, com o pentecostalismo acusando as igrejas herdeiras da Reforma de seguirem demasiadamente suas tradições e desvalorizar “novas experiências com Deus”.
Não, o que a Reforma quer é seguir a Bíblia acima das tradições, o pentecostalismo é que olhou para trás, depois de pegar no arado, e adotou uma tradição católica, aquela de não considerar a Bíblia como única fonte divina de doutrina e prática.
Ou seja, quem está sendo tradicionalista são os pentecostais, ao defenderem essa tradição católica de não considerar a Bíblia suficiente.
Certamente que a Bíblia é uma tradição, mas é a pura, perfeita, eterna e infalível tradição do Espírito Santo, nossa única vacina contra as corrupções humanas da mensagem do Evangelho.

7– Afirmamos que a Revelação de Deus é igual para todo o povo de Deus. Cristo é a Revelação de Deus (Hb 1:2), a Bíblia é o registro dessa Revelação, o Espírito Santo é o Escritor deste registro. O crente recebe o Espírito Santo para lhe aplicar a Revelação de Deus em Cristo, pela Palavra registrada, para o fazer cumpri-la em sua vida.
Será que certos crentes e igrejas pensam ter recebido uma parte maior de Cristo? Uma parte maior da Revelação? Uma parte maior do Espírito Santo? Então Deus faz acepção de pessoas, na verdade?
Numa igreja guiada por experiências, tudo funciona muito bem, até o dia em que o “‘meu’ Espírito Santo” discorda do “‘seu’ Espírito Santo”. O que a gente faz nessa hora?
Pois o fato dos crentes discordarem entre si é a prova da humanidade das suas opiniões.
Afinal, se o Espírito Santo tem apenas uma opinião, como podemos nós discordar, tendo todos o mesmo Espírito Santo? Há somente um corpo e um Espírito... há um só Senhor, uma só fé (Ef 4:4,5).
Poderíamos nos compararmos uns com os outros pra ver quem tem mais intimidade com Deus, mas uma solução melhor bem pode ser a de concordarmos que a opinião do Espírito Santo já está registrada para sempre na Bíblia.
Nós mudamos o tempo todo. A Palavra nunca muda.
Crer no Sola scriptura nos ajudará a destruir o castelo de areia de alguém que acaso queira se considerar mais espiritual que os outros. O Espírito Santo é o mesmo para todos, e a Palavra igual para todos é que prova isso[8].

8 – Afirmamos que toda mensagem que não seja bíblica é apenas uma opinião. Por isso não nos impõe uma obediência absoluta, porque não tem a autoridade de Deus.
A autoridade de Deus é a única que requer nossa obediência absoluta: importa mais obedecer a Deus do que aos homens (At 5:29). A autoridade de Deus está ligada à mensagem registrada na Palavra. O resto é opinião humana. Nunca terá garantia absoluta.
Deus só garante e ordena o que a Palavra diz. Nada fora da Palavra tem a garantia de Deus e nada fora da Palavra tem a autoridade de Deus.
Qualquer crente ou grupo de crentes é falível em tudo que disser fora da Bíblia. Assim todo resumo doutrinário, toda igreja, toda tradição, todo costume, toda convicção, crença, conselho, experiência, tudo que for além da Bíblia pode ter falhas e ser incorreto.
A proclamação desta imperfeição das opiniões humanas é especialmente importante neste tempo em que a igreja evangélica regrediu, e negou a Reforma, quando passou a considerar seus líderes como mediadores da vontade de Deus. Esta é uma grosseira negação do princípio reformado do SOLA SCRIPTURA.
Um autor anabatista explica: “(...) no Brasil a palavra do pastor tende a ser vista como a palavra de Deus. Da perspectiva anabatista diremos que a palavra do pastor é apenas uma palavra, palavra a ser testada e analisada, a ser discernida por irmãos e irmãs atentos. A palavra que vem do púlpito nunca pode ser aceita cegamente. Ela pode tornar-se palavra de Deus na proporção em que a comunidade ouve e o Espírito Santo confirma esta palavra.
A igreja evangélica brasileira tende a valorizar e absolutizar de um modo irresponsável a palavra que vem do púlpito e os membros tendem a engolir sem contestar o que foi dito pelo “homem de Deus”.
Politicamente o brasileiro vai na conversa daquele que fala mais bonito e de modo mais empolgante e assim também nas igrejas tendemos a nos extasiar com oradores que nos empolguem, que despertem nossas emoções e esquecemos de conferir se a palavra falada tem base na Bíblia[9]”.
Aqui um católico diria: “Deus inspira nossa igreja para que tenha uma interpretação infalível”.
Mas quem adota o princípio protestante de que somente a Escritura é autoridade infalível, não pode escapar por este argumento. Só lhe resta ter uma interpretação humilde e aberta à revisão, pois a última palavra não será de nenhum crente, igreja, concílio ou credo, mas da Escritura.
“Um simples cristão com a Bíblia na mão pode dizer que a maioria está errada”[10].


9 - Negamos que alguém possa falar em nome de Deus algo que não seja essencialmente bíblico.Assim como Cristo é a imagem do Pai, a Bíblia é a imagem do Espírito Santo, que manifestou perfeitamente nela os Seus santos pensamentos, ao inspirá-la (2Tm 4:16). E mais, aprouve ao Senhor Espírito Santo ser reconhecido por Sua imagem impressa na Escritura, que é assim não apenas mensagem, mas também confirmação da obra dEle em nós.
O Filho é o mediador do Pai, o Espírito Santo é o mediador do Filho, a Palavra é a revelação do Espírito Santo.
A vontade do Espírito Santo já foi manifestada para nós na Palavra. O fato dela não mudar não deve nos causar temor já que o Espírito Santo, Deus, é eternamente estável. A Palavra vai durar para sempre. O Espírito Santo não vai mudar de opinião. A opinião do Espírito Santo já está disponível para nós.
Em 2Co 3:8, “o Apóstolo chama sua pregação de ministério do Espírito, significando, sem dúvida, que o Espírito Santo de tal modo se [junta] à Sua verdade que expressou nas Escrituras, que manifesta e patenteia Seu poder, então, afinal, onde se rende à Palavra a devida reverência e dignidade. (...) O Senhor ligou entre si, como que por mútuo nexo, a certeza da Sua Palavra e [a certeza de Seu] Espírito”[11].
Isto de tal forma que amamos a Palavra quando o Espírito Santo atua em nós, e abraçamos o Espírito Santo “quando O reconhecemos na Sua imagem, isto é, na Palavra”[12].
Essa convicção dos reformadores não era um ataque gratuito (ou invejoso) ao misticismo, mas uma certeza sentida na pele, por observarem que quase todos os erros do catolicismo se originaram das “revelações” fora da Bíblia. E isso acontecia também entre os próprios reformadores.

Por exemplo, no tempo de Lutero, certo grupo de camponeses anabatistas começou uma onda de depredações e violência alegando terem sido orientados pelo Espírito Santo. E uma vez que Deus fale fora da Bíblia, quem poderia lhes dizer que estavam errados, se eles “sentiram” que isso foi ordem de Deus? Se Deus ordenou a violência, tinham mais que obedecer mesmo: Deus é soberano, não é?
Mas como saber se Deus ordenou ou não? Pela Bíblia? Ora, se a Bíblia é o juiz final de tudo, porque não ficar logo apenas com ela? Se o que vale é o que está escrito, porque se guiar por qualquer outra coisa? Se temos acesso à Bíblia perfeita, porque se agarrar às coisas imperfeitas? Se temos a infalível para que antentar para a falível? Se temos a certeza da Palavra, para quê dar ouvidos à dúvida das experiências?
Ou ainda, que bem faz a dúvida? Como o evento duvidoso pode edificar? Como o incerto pode consolar? Como o obscuro pode ensinar? A força da carne pode fazer o trabalho do Espírito Santo?

“Que dirão a estas coisas estes (...) entusiastas que reputam (...) sublime iluminação quando, dando despreocupadamente de mão e dizendo adeus à Divina Palavra, não menos confiantes que temerários, agarram sôfregos qualquer coisa que hajam concebido enquanto a roncar?[13]
“Aos filhos de Deus, por certo, sobriedade bem outra [lhes] convém, os quais, ao mesmo tempo que, sem o Espírito de Deus, se vêem privados de toda luz da verdade, todavia, não ignoram que é a Palavra o instrumento pelo qual o Senhor dispensa aos fiéis a iluminação do Seu Espírito. Pois não conhecem outro Espírito que [Aquele] que habitou e falou nos Apóstolos, de cujos oráculos são continuamente convocados a ouvir a Palavra”[14].

O Espírito Santo falando na Palavra aponta sempre para a Palavra como o meio designado para conhecermos Sua vontade. O Espírito Santo não nos chama para fora da Palavra, afim de contar segredos ao nosso ouvido. Ou acaso existe uma tal passagem bíblica em que o Espírito Santo nos ensine a buscar a Deus fora da Palavra?

Reafirmamos que todo aquele que for edificado pela Palavra só o pode ser por causa da obra miraculosa do Espírito Santo em seu coração.

Por outro lado, realmente existe um certo tipo de conhecimento bíblico inútil, se este é meramente acumulado sem a operação do Espírito Santo e a obediência a Ele. Causa escândalo a todos ver muitos que conhecem, mas não praticam. Mas esses não-praticantes não invalidam a relação que existe entre Bíblia e Espírito Santo.
Jesus disse claramente que o entender das coisas de Deus está reservado somente àqueles que estão dispostos a obedecer (Jo 7:17). Quem conhece, mas não pratica, sofrerá o mais rigoroso juízo (Mt 23:3,14). Na verdade arrisca-se a colher em vida o estudo inútil da Bíblia como recompensa de sua desobediência, tal como aqueles que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade (2Tm 3:7).
O fato do conhecimento bíblico não produzir fruto neles é causado por eles resistirem ao Espírito Santo quando são chamados por Ele nas oportunidades de praticar a Palavra. Essa desobediência entristece o Espírito Santo e contraria a Sua influência. E sem Ele, a Bíblia torna-se um livro fechado.

Resumindo:

a) Se buscarmos o Espírito Santo sem a Palavra nos expomos ao engano do nosso próprio coração pecador.

b) Se buscarmos a Palavra sem o Espírito Santo obtemos só informação, não transformação.

NÃO devemos fazer uma coisa nem outra. E NEM precisamos escolher entre atentar para a Palavra ou atentar para o Espírito Santo.

Devemos na verdade buscar o Espírito Santo na Palavra, porque é este o local designado por Ele para O encontrarmos. Temos que estar sempre suplicando que o Espírito Santo venha com poder sobre a Sua Palavra, afim de sermos transformados por Ele, por meio dela.

Servimos a Deus pelo Espírito e pela Verdade, não só por um ou só por outro, mas pelos dois juntos (Jo 4:23,24).

A Palavra já é o que o Espírito Santo sempre quis nos dizer. Sua obra não é nos dar novas Palavras, mas nos fazer entender e praticar a Palavra dada por Ele mesmo. Se o Espírito Santo nos falar qualquer coisa será exclusivamente com o objetivo de entendermos e praticarmos a Palavra (cujo sentido é Cristo).
“Não é função do Espírito [que] nos [foi] prometido, configurar novas e inauditas revelações ou forjar um novo gênero de doutrina, mediante quê sejamos detraídos do ensino do Evangelho [já] recebido; ao contrário, [Sua função é] selar-nos na mente aquela própria doutrina que é recomendada através do Evangelho”[15].

O Espírito Santo não tem porque complementar a fé (doutrina) dada uma vez por todas (Jd 3), se nem bem começamos a entendê-la e muito menos praticá-la.
E se acaso Deus falasse diretamente com alguém hoje, deveríamos anotar essas palavras e divulgá-las como novos textos bíblicos.
Por que a Palavra de Deus no passado era tão importante a ponto de ser divulgada a todos os povos, e hoje as novas palavras de Deus podem cair no esquecimento? Pois desde o ano 96 dC nenhum livro foi acrescentado na Escritura!!! A nossa Bíblia ainda acaba em Apocalipse!!!
Mudou a autoridade de Deus? Mudou a importância da opinião de Deus? Mudou a perfeição da Palavra de Deus? Mudou a eternidade da Palavra de Deus? Mudou a universalidade da Palavra de Deus?
Ou mudaram os crentes, que passaram a ser mais pretensiosos para sem temor tomar o nome de Deus em vão? E passaram a crer numa religião de “achismos”? Que expõe o nome de Deus a ser ridicularizado pelos milhares de palpites errados ditos em nome de Deus?

A orientação bíblica é a orientação clara e certa do Espírito Santo. Por isso que o Espírito Santo nos diz na Bíblia que se alguém falar para a igreja, fale segundo a Palavra de Deus (1Pe 4:11), que é a espada do Espírito Santo (Ef 6:17), não indo além do que está escrito (1Co 4:6), nada acrescentando (Pv 30:6) nem diminuindo (Dt 12:32).
Profetas como Jeremias e Ezequiel dirigiram advertências duríssimas para todos os que de forma pretensiosa reivindicavam ter uma palavra de Deus: Eis que eu sou contra os profetas, diz o Senhor, que usam de sua língua, e dizem: Ele disse (Jr 23:31). Não tivestes visões falsas e não falastes adivinhação mentirosa quando dissestes: o Senhor diz, sendo que eu tal não falei (Ez 13:7)?
Por isso, ao sentirmos alguma direção fora da Bíblia, mais prudente do que falarmos "Deus disse", é sermos simples como o rei Ezequias, que disse "isto me veio ao coração (2Cr 29:10)", um cuidado coerente para quem leva o terceiro mandamento a sério (Ex 20:7): não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão. Certamente se estivermos proclamando nossas idéias, sentimentos, especulações e imaginações humanas como revelações divinas estaremos desobedecendo este mandamento.

10 - Afirmamos que as revelações fora da Bíblia não têm correspondido aos atributos das palavras vindas de Deus.O crente que diz falar em nome de Deus está reivindicando para as suas palavras a autoridade do próprio Deus, o que significa que suas palavras deveriam ser obedecidas fielmente (Dt 27:8-10) e deveriam ser infalíveis (Is 34:16) e eternas (Is 40:8).
As supostas revelações fora da Bíblia cumprem estes requisitos? Têm a autoridade infinita de Deus? São certas? Claras? Universais? Divinas? Perfeitas? Nunca falham? Duram para sempre? Se não, não podem ser consideradas Palavra de Deus. Seca-se a erva e caem as suas flores, mas a Palavra do nosso Deus dura eternamente (Is 40:8). Deus poderia falar de forma menos grandiosa? Resposta no Sl 29.
Surpreendentemente, seguindo este raciocínio, até mesmo um pregador pentecostal como Marcos Feliciano foi capaz de admitir que “Deus fala muito pouco, porque tudo que Ele fala tem que se cumprir”[16].
Só a Bíblia cumpre todas as condições para ser considerada Palavra de Deus, pois é uma revelação pública, universal, eterna, infalível e com autoridade divina. As revelações dos católicos, mórmons, adventistas, testemunhas de Jeová, pentecostais e neo-pentecostais não têm cumprido estes requisitos, principalmente no que se refere a serem infalíveis.
Por isso que proclamamos “só a Escritura”.

11 - Afirmamos também que as revelações extra-bíblicas, além de não terem características de Palavra de Deus, ainda costumam contradizer a Palavra bíblica em vários outros aspectos.a) As revelações extra-bíblicas costumam criar orgulho naqueles que as ditam. Em contraste, na Bíblia, aqueles que tinham experiências sobrenaturais com Deus tornavam-se muito mais humildes (Jó 40:1-5;42:1-6; Is 6:5; Gn 18:27). Pouco se tem refletido sobre o pernicioso efeito moral na igreja de se exaltar experiências extra-bíblicas: além do orgulho[17], as invejas, competições, vaidades, idolatria dos “iluminados”, exageros e falsificações em busca do reconhecimento social de um grupo que só quer “ver pra crer”. Mas Jesus diz: Bem aventurados os que não viram e creram!
b) As revelações extra-bíblicas costumam falar o que as pessoas querem ouvir. Em contraste os profetas de Deus falavam a verdade sejam quais fossem as conseqüências (1Rs 22:10-28; Am 7:8-17).
c) As revelações extra-bíblicas costumam elogiar os servos de Deus. Em contraste a Bíblia ensina que Deus elogiará os Seus servos no dia do Juízo Final (Mt 25:19-21).
d) As revelações extra-bíblicas costumam exortar as pessoas a fazer apenas obras religiosas: mais jejuns, mais vigílias, mais campanhas. Em contraste, os profetas de Deus condenavam a religiosidade superficial e pregavam a prática de verdadeira justiça e igualdade na sociedade. Misericórdia quero e não sacrifício (Os 6:6; cf. Is 58:1-14;1:11-19; Am 5:21-24; Zc 7).
e) As revelações extra-bíblicas costumam adivinhar a vida dos outros e o futuro. Em contraste, a prática da adivinhação é considerada abominável e proibida por Deus em Dt 18:9-14. A ti, o Senhor teu Deus não permitiu tal coisa (...) Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã (Dt 18:14; Tg 4:14). (O peso da prova está com os pentecostais. Eles precisam demonstrar que suas “revelações” não têm nada a ver com as práticas condenadas em Dt 18).
f) As revelações extra-bíblicas costumam trazer Lei, mas as profecias da Bíblia trazem o Evangelho (Ap 19:10)[18].
g) E o que é mais estranho, as revelações extra-bíblicas costumam falar muito do Diabo e do que ele faz. Em contraste, a Bíblia ensina que o Espírito Santo veio para falar de Cristo (Jo 15:26), para testemunhar das obras de Jesus, não das obras dos demônios!

12 - Afirmamos que as revelações extra-bíblicas costumam diminuir o interesse na Escritura, à medida que proliferam e dão a impressão de serem “as palavras de Deus para hoje”. E pior, diminuem também o valor prático da Bíblia: “o primeiro dano que as Escrituras sofrem com a presença de uma palavra revelada é a perda de sua suficiência[19]”. De forma bem diferente dessas novas revelações[20], o ‘antigo’ texto bíblico o tempo inteiro exalta e estimula o interesse na Escritura mesma como suficiente para suprir as necessidades do crente (Sl 1:2; Sl 119:50; Jo 17:17; Ap 1:3).

13 - Afirmamos que as revelações extra-bíblicas são sempre incertas.Sempre. No momento em que são ouvidas, sentidas ou vistas, a pessoa nunca pode saber se é realmente uma palavra de Deus.
E o pior é a incerteza se tal “palavra” vai se cumprir ou não. Um tipo de incerteza que já quebrou vários corações que confiaram numa mensagem fora da Bíblia e desiludiram-se ao verem que ela não se cumpria. Viram vaidade e adivinhação mentirosa os que dizem: O Senhor disse; quando o Senhor não os enviou; e fazem que se espere o cumprimento da palavra (Ez 13:6).
Por causa disso, muitos só proclamam a idéia ou impressão como “de Deus” depois que veio a se cumprir. Nem se considera as milhares e milhares de impressões e idéias que correm o dia inteiro pela nossa cabeça, mas que nunca acontecem. Assim é fácil, se a gente só revelar as idéias que já deram certo, nunca seremos expostos ao teste da infalibilidade (Dt 18:22).
Talvez muito disso ocorra também quando temos uma idéia sobre um assunto que mencionamos em oração. Claro, se a nossa idéia é uma possível resposta à nossa oração, é normal que consideremos essa idéia como uma resposta de Deus.
Mas esse método é confiável? Não podemos facilmente nos enganar e pensar justamente no que queremos que aconteça? Por que nossa imaginação deveria ser considerada “voz de Deus”? Só porque aconteceu após, ou durante uma oração? Quem garante que é “a voz de Deus”? Durante a oração nos tornamos infalíveis? Durante a oração nos fundimos com a mente de Deus? Não é verdade que também durante a oração nos distraímos e pecamos em nossos pensamentos? Pode-se confiar totalmente nos pensamentos que nos ocorrem durante ou após a oração? Podemos confiar em nossa mente? Somos confiáveis?
Mas ainda que a “revelação” venha a se realizar, como o crente pode provar que sua “revelação” não foi apenas uma idéia correta? Qualquer coincidência ou palpite certeiro pode ser candidato a “revelação vinda de Deus”? Que diferença existiria então entre o crente e o não-crente? Estes também não podem ter palpites corretos? Por isso vamos dizer que receberam revelações de Deus? Que valor sobra para a Palavra? Para que a Bíblia é necessária ainda? Somos exortados pela Escritura a confiar em coincidências? Qual texto bíblico diz isso?
“Sem a centralidade da Palavra tornamo-nos náufragos e sem rumo. Temos impressões, mas não direção!” [21].
De forma bem diferente, a Palavra bíblica reinvidica para si um caráter totalmente confiável, o tempo inteiro. Nenhuma dúvida é lançada, nela tudo se cumpre perfeitamente, dela tudo se ensina infalivelmente. Para sempre, ó Senhor a Tua palavra permanece no céu; Tua Palavra é a verdade; temos mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem [fazemos] em estar atentos (Sl 119:89; Jo 17:17; 2Pe 1:19).

14 – Afirmamos que a igreja não prende o Espírito Santo na Palavra, mas na verdade está honrando-O, quando deseja ser orientada somente pela Bíblia.Isto porque foi o Espírito Santo quem quis se manifestar desta forma ao mundo, através de uma divina carta, onde Ele já revelou tudo que julgou precisarmos saber. O revelado é nosso, o escondido é dEle (Dt 29:29), não devemos investigar o que Ele não quis revelar.
Se queremos que o Espírito Santo atue em nosso meio, o nosso principal dever é pedir que Ele use a Sua espada, a Palavra (Ef 6:17). Mas como pedir isso com coerência, se ao mesmo tempo desprezamos a Palavra, quando buscamos a voz do Espírito Santo por outros canais?

15 – Reforçamos a igualdade cristã na igreja.A igreja orientada pelo misticismo das experiências particulares inevitavelmente vai fazer comparações entre os crentes “mais espirituais” e os “menos espirituais”. Uma classificação certamente injusta e arbitrária, que pode dar ouvidos às sugestões e especulações mais impulsivas, inconseqüentes, precipitadas, imaturas, irrefletidas e emocionalistas que possam surgir entre os membros da igreja, desde que tenham aparência “espiritual” dada por, talvez, uma postura ou tom de voz estereotipado, ou ainda pela repetição de clichês evangélicos.
Quanto mais impactante, mais espiritual? Quem definiu esse critério? A Palavra de Deus, ou o nosso desejo secreto de ser entretido, emocionado e exaltado por Deus?
Enquanto isso os crentes que pratiquem a prudência e reflitam na Palavra para encontrar nela a sabedoria para decidir serão desprezados por não terem uma palavra fresquinha vinda de uma “entrevista exclusiva com Deus”.

Além disso, quando a confiança plena na Bíblia é abalada ou desvalorizada para enfatizar outras autoridades, uma das que mais será incrementada é a autoridade dos líderes. Quando as experiências humanas são fonte de doutrina e prática para a igreja, quase sempre a igreja vai ter que fazer distinção entre o valor dos crentes.
É possível que experiência e opinião do líder então, seja considerada mais divina do que as experiências e opiniões dos liderados, afinal, é necessário um critério para decidir a verdade, caso haja discordância. Se não é a palavra de Deus, o critério costuma ser a opinião do “homem que Deus colocou sobre a igreja”.
Não é por acaso que dificilmente se vê uma igreja pentecostal que seja realmente democrática, embora a hierarquia não seja algo que ocorra só no pentecostalismo; mas este problema é mais reforçado ainda quando na prática se coloca a palavra final sobre uma experiência humana, não sobre a mensagem da Escritura. O misticismo costuma piorar o pecado da hierarquia.

Mas quando a Bíblia é considerada a única fonte confiável de autoridade, relativizam-se todas as outras fontes, inclusive a da autoridade da liderança da igreja.Todos os membros estão em igual nível, porque a Bíblia está sobre todos, como única representação infalível da vontade de Cristo, o único Governante da Igreja.
Paulo alerta que muitas das proclamações baseadas na experiência são invocadas para satisfazer um desejo de ser exaltado sobre os crentes: não deixem que ninguém os humilhe, afirmando que é melhor do que vocês porque diz ter visões e insiste numa falsa humildade e na adoração de anjos. Essas pessoas não têm nenhum motivo para estarem cheias de si, pois estão pensando como qualquer outra pessoa pensa, elas não estão ligadas a Cristo, que é a cabeça (Cl 2:18,19).
Em contraste com a teoria de que Deus colocou líderes visíveis para serem os principais “canais de benção de Deus para a igreja”, o que a Bíblia diz é que o Cabeça invisível da Igreja, Jesus Cristo, exerce o Seu governo quando TODOS os membros contribuem para a edificação da igreja: ... Cristo controla o corpo todo (Cl 2:19); segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor (Ef 4:16).
Mas isto veremos com mais detalhes no quarto princípio da Reforma: “somente por Cristo chegamos a Deus”.
[1] James McGoldrick. Os três princípios do Protestantismo. Texto eletrônico.
[2] Matthew Henry. Em Pérolas para a vida. John Blanchard. Ed. Vida Nova. p. 41.
[3] Trecho das Dez Conclusões de Berna, documento anabatista, editado em livro de John H. Leith, citado em Teologia dos Reformadores, Timothy George. Ed. Vida Nova. p. 313.
[4] Moisés Bezerril. Comunicatio extra scripturae. Texto eletrônico.
[5] João Alves dos Santos. As doutrinas da Reforma. Texto eletrônico. (http://www.scribd.com/doc/44466/As-Doutrinas-da-Reforma). (19/01/2008).
[6] Confissão de Fé de Westminster (1649).
[7] Martinho Lutero. Em Pérolas para a vida. John Blanchard. Ed. Vida Nova. p. 47.
[8] “Não temos entre nós uma pessoa que tem revelações especiais de Deus. A revelação de Deus está na sua Palavra, a Bíblia. Qualquer crente sincero, iluminado pelo Espírito Santo, pode compreender seus ensinos. Pode não penetrar nas sutilezas teológicas ou textuais originais, mas compreende a essência” - Isaltino Gomes Coelho. “Sou batista”. Texto eletrônico. Congresso de Identidade Denominacional. (27/04/2001).
[9] J. Udo Siemens. Perguntas da Igreja Brasileira e respostas do Movimento Anabatista. Texto eletrônico.
[10] Francis Schaeffer. Em Pérolas para a vida. John Blanchard. Ed. Vida Nova. p. 43.
[11] João Calvino. As institutas da religião cristã. Vol. I. Casa Editora Presbiteriana, 1985. (p. 110).
[12] Idem.
[13] João Calvino. As institutas da religião cristã. Vol. I. Casa Editora Presbiteriana, 1985. (p. 110).
[14] Idem (p. 110-111).
[15] João Calvino. As institutas da religião cristã. Vol. I. Casa Editora Presbiteriana, 1985. (P. 108).
[16] Frase proferida em pregação na TV (2006).
[17] “Cada vez que um desses entusiastas se gaba de sua mensagem recebida do Espírito, geralmente é com o intuito de sepultar a Revelação de Deus, para que eles estejam no centro do palco e recebam a atenção de todos” – João Calvino. Citado por Michael Horton em A Escada de Jacó. Sermão gravado. http://www.editorafiel.com.br/detalhes_videoteca.php?id_conf=26#
[18] Este pensamento vem de um texto de Caio Fábio, sendo ele próprio um adepto de práticas pentecostais.
[19] João Alves dos Santos. As doutrinas da Reforma. Texto eletrônico. (http://www.scribd.com/doc/44466/As-Doutrinas-da-Reforma). (19/01/2008).
[20] Já ouvi comentários do seguinte teor: “na sua igreja o pastor tem que estudar a Bíblia? Então vocês comem comida fria. Na nossa a comida é quentinha, Deus entrega na hora”.
[21] Renato Vargens. Texto eletrônico. <http://groups.yahoo.com/group/cristaos-reformados/> (2004).
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