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domingo, 3 de julho de 2011

COMO CONHECEMOS O MUNDO? Alguns pensamentos em Epistemologia.



O SENHOR dá a sabedoria;
da Sua boca é que vem o conhecimento e o entendimento.
(Pv 2:6)
1 – O que são teorias epistemológicas.
Teorias epistemológicas são as teorias do conhecimento, ou seja, as que versam sobre como podemos saber alguma coisa. A classificação mais usada é dividi-las entre empirismo e racionalismo.
Empirismo é a abordagem que diz que obtemos conhecimento pelo uso dos sentidos (visão, audição, etc.).
O racionalismo contempla as abordagens que começam algum axioma lógico (pressuposto) e a partir daí dedutivamente constroem o conhecimento. Entre os pontos de partida que podem ser supostos estão a intuição, a existência, a razão e o senso comum.
Alguns, como Kant, procuram fazer uma síntese entre empirismo e racionalismo.
Essas são as teorias clássicas da epistemologia.
Nossa proposta é por uma outra teoria, que poderia ser classificada como racionalista (dedutiva) mas que tem o diferencial de uma base infalível e inerrante: o OCASIONALISMO ESCRITURALISTA.
Os principais autores que advogam essa teoria são Gordon Clark e Vincent Cheung. Eles adaptaram e aprimoraram apontamentos de Agostinho, Lutero, Calvino e Jonathan Edwards sobre esse assunto.
2 – O ocasionalismo escrituralista é a única teoria epistemológica racionalmente válida.
Ocasionalismo escrituralista é uma teoria epistemológica baseada na Revelação Verbal de Deus (Bíblia), pela qual o conhecimento é obtido pela operação direta de Deus nas mentes humanas, na obra comum da Sua Providência. Segundo esta teoria, Deus causa cada obtenção de conhecimento por parte dos seres humanos, de forma simultânea ou não com a operação dos sentidos humanos e seus raciocínios mentais.
É chamada ocasionalismo, porque a operação dos sentidos ou o raciocínio mental é a apenas a ocasião que Deus costumeiramente usa para transmitir conhecimento à mente humana. Assim a aquisição de conhecimento depende metafisicamente de uma operação providencial de Deus, e pode acontecer à parte do uso dos sentidos e raciocínios, embora costume acontecer simultaneamente a estes, sendo, porém sempre independente destes. Que fique claro que ‘costuma acontecer’ significa ‘Deus costuma agir assim’, pois o sistema todo depende da Providência exaustiva de Deus.
Tal teoria é classificada como escrituralista, para definir que seu axioma (ponto de partida ou pressuposto que fundamenta o sistema) é a Revelação Verbal de Deus (Bíblia), a qual justifica a si mesmo, nos informa sobre Deus e Suas operações, e contém informação suficiente para construção da cosmovisão cristã, a única cosmovisão racionalmente válida. Além disso, pelo fato da Revelação Verbal de Deus ser infalível, esta é o aferidor último da verdade, e fonte do conhecimento verdadeiro, o qual consistirá em todas as proposições da Bíblia, bem como todas as suas implicações lógicas, obtidas dedutivamente. Toda alegação que não constituir-se proposição bíblica ou não possa ser justificada por implicação lógica de alguma proposição bíblica é conhecimento incerto e especulativo.
Observação: ser um escrituralista é basear o conhecimento verdadeiro nas Escrituras, assim teoricamente alguém poderia ser escrituralista sem ser ocasionalista e vice versa, mas na prática os dois paradigmas aparecem juntos nos teólogos relevantes.
Nossa alegação, de que o ocasionalismo escrituralista é a única epistemologia racionalmente válida decorre em primeiro lugar do caráter infalível e auto-justificador da Revelação Verbal de Deus, mas é confirmada pela total irracionalidade das outras teorias epistemológicas propostas.
Se houvesse alguma outra epistemologia que seja racionalmente válida, ou com a qual se possa construir alguma cosmovisão, tal teoria será digna de exame. Afirmamos, porém, que isto nunca acontecerá, a não ser por um aprimoramento do próprio ocasionalismo escrituralista. E desafiar quem pensa diferente a provar sua teoria é um dos propósitos deste texto.
3 – As outras teorias epistemológicas são irracionais.
O empirismo afirma que obtemos todo nosso conhecimento a partir dos sentidos. Mas ele não justifica a si próprio. Como foi obtido o conhecimento de que “todo o conhecimento vem a partir dos sentidos”? Certamente não foi pelos sentidos, pois não há seres humanos oniscientes. Portanto o empirismo é auto-contraditório. Como se isso não bastasse, ele propõe uma confiança naquilo que sabe-se ser não-confiável. Sentidos não são infalíveis. Se eles não são infalíveis, não servem como aferidores últimos da verdade, pois não saberemos quando estão certos ou errados. Portanto o empirismo falha completamente antes mesmo de começar. Diga-se de passagem que o método científico, por basear-se no empirismo, também é incapaz de prover qualquer conhecimento confiável. O método científico também sofre de falácias permanentes e contínuas, como depender de raciocínio indutivo, generalizando a partir do particular; afirmação do consequente; incapacidade de estabelecer causalidade; impossibilidade de todos os seres humanos presenciarem empiricamente todas as experiências que baseiam as  teorias científicas, portanto tendo que confiar no que lhe dizem livros e professores, o que a rigor é falácia de apelo à autoridade, etc.
O racionalismo podia ser menos pior, mas chafurda na mesma inutilidade, porém por motivos diferentes. Os pontos de partidas possíveis, qualquer deles, são todos arbitrários, ou seja, não justificam a si mesmos. Em segundo lugar, alguns deles são extremamente subjetivos (senso comum, intuição), podendo significar coisas totalmente diferentes para pessoas diferentes. Além disso, esses pontos de partida não alegam, nem podem alegar infalibilidade. Mas o principal defeito, e esse mortal, é que eles não têm conteúdo suficiente para construir uma cosmovisão. Assim a ignição do carro está funcionando, mas não há nenhum combustível, a centelha no motor é inútil.
Lembremos que os sinteticistas (empirismo + racionalismo, Kant) são piores ainda, e caem no ridículo, ao combinar os defeitos dos dois sistemas.
O menos pior desses pontos de partida é o da existência (‘penso, logo existo’, de Descartes), mas sendo estabelecido que você existe, como você prossegue para estabelecer os outros axiomas metafísicos? A partir daí, você não chega aos axiomas de que o mundo físico existe, que existem outras mentes, que a comunicação é possível, que o conhecimento é possível, etc. Não pode, a não ser por meio de saltos de credulidade.
Assim, os ímpios cometem o erro da credulidade injustificada, erro que eles tolamente acusam nos crentes. Mas os crentes escrituralistas não cometem esse erro, pois receberam um tipo infalível de conhecimento: a Revelação Verbal de Deus. É racional e lógico crer no infalível em detrimento do falível.
4 – Nada é possível de ser conhecido fora do ocasionalismo escrituralista.
Afirmamos, portanto, que o ocasionalismo escrituralista é a única epistemologia verdadeira, e única com validade lógica.
Não adianta contestar o conteúdo da Revelação Verbal de Deus com teorias baseadas em empirismo, por exemplo, pois já provamos que o empirismo é racionalmente injustificável. Prove primeiro a validade lógica do empirismo, e depois você vai poder saber alguma coisa, para aí sim poder contestar alguma coisa.
Aqueles que recusam-se a crer no ocasionalismo escrituralista deviam cair em ceticismo completo, pois todos os outros sistemas são inúteis para saber-se qualquer coisa.
Porém o ceticismo só serve como posição transitória, ninguém pode permanecer nele por mais de um segundo, pois o ceticismo também é auto-contraditório, ao alegar saber “que ninguém pode saber nada” (se isso fosse verdade, ele não poderia saber nem isso).
O caro leitor já deve ter desconfiado que para ser um ocasionalista escrituralista é necessário aderir ao Cristianismo. De fato, é isso mesmo que afirmamos, o que significa que todos os não-cristãos não podem reivindicar saber coisa alguma sobre nada, pois nenhum não-cristão pode ter qualquer epistemologia válida. Caso você discorde, sinta-se desafiado a provar o contrário, estabelecendo a validade lógica de qualquer epistemologia diferente da que estamos apresentando.
5 – O ocasionalismo escrituralista implica no determinismo bíblico.
Com esta afirmação lembramos que não é qualquer tipo de Cristianismo, ou coisa que tenha indevidamente tal nome, que pode fazer as alegações deste texto.
Por falta de profundidade e reflexão, inúmeros cristãos introduzem contradições em sua cosmovisão particular, lançando mão das epistemologias inválidas que denunciamos acima, ou crendo demasiadamente em mestres ímpios, erradamente considerados sábios. O preço a se pagar é alto, não só em inconsistências internas como em desonra ao nome de Cristo. Ás suas incoerências denominam ‘mistérios’, e querem pular seus becos sem-saída com ‘saltos de fé’, como se a fé fosse a justificação das contradições. Pior ainda é estes cristão empurrarem sua fé para os terrenos cada vez mais abstratos, sem ligação com o ‘mundo real’ até que ela realmente pareça coisa da imaginação deles, ou um passatempo que eles fazem aos domingos.
Contra este estado de coisas, vindicamos o determinismo bíblico como um divino remédio, um remédio racionalmente necessário, por ser implicação da única epistemologia racionalmente coerente e necessariamente verdadeira.
Por que o determinismo bíblico é implicação do ocasionalismo escrituralista? Porque o ocasionalismo requer um Deus Todo-Providente, ou seja um Deus que esteja agindo em todo lugar a todo o tempo, sustentando todas as coisas; Onipotente, Onipresente, Onisciente e Soberano; um Deus que esteja governando tudo de tudo. Só um Deus assim pode prover as obtenções de conhecimento conforme entendidas pelo ocasionalismo. Mas, é claro, nosso conceito de Deus não foi determinado pelo que nossa epistemologia precisa, antes nossa epistemologia é que foi formulada em cima da Revelação que este Deus fez de Si mesmo. Estamos apenas seguindo o argumento dado na introdução deste texto.
Talvez algum cristão vá discordar que Deus esteja governando tudo de tudo, principalmente aqueles cristãos que crêem que o ser humano tem livre-arbítrio. Tais cristãos dirão que nossa interpretação bíblica está errada, e deve haver algum recôndito no coração da mente humana que Deus não controle. Tais cristãos podem ser denominados como libertarianos, para fazermos contraste com os cristãos deterministas.
Esses cristãos libertarianos precisarão encarar o mesmo desafio que fizemos às epistemologias pagãs. Se há algo que Deus não controle, então o ocasionalismo é falso. Uma vez que afirmamos que o ocasionalismo é a única teoria do conhecimento racionalmente válida, ficamos sem teoria do conhecimento (epistemologia) válida. Portanto caímos em ceticismo, mas não podemos permanecer nele, pois o ceticismo é auto-refutante. Portanto, libertariano, como você pode saber qualquer coisa? Qual a sua teoria do conhecimento (epistemologia)? Ela é válida, ou você sofre dos mesmos problemas já relacionados na nossa crítica ao empirismo e ao racionalismo? O seu suposto livre-arbítrio é a sua pedra de tropeço.
De forma diferente, um cristão ocasionalista afirma que alguém só pode saber algo por causa do determinismo bíblico: a Bíblia afirma Deus como Onisciente, Todo-Poderoso, Todo-Providente e Todo-Soberano. E esse mesmo poder e soberania de Deus que implicam em Deus controlar os nossos pensamentos. Se Deus não controlar nossos pensamentos, Ele não é Todo-Soberano.
Deus sabe tudo, e as pessoas saberão o que Deus quiser que elas saibam, pois Deus controla tudo de tudo, inclusive o conhecimento das pessoas.
Ele reserva a verdadeira sabedoria para os retos (Pv 2:7), a saber, para o Seu povo, redimido e comprado pelo sangue de Jesus Cristo, em Quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento (Cl 2:3). Somente estes são por Deus capacitados a conhecer plenamente o mundo, pois aprendem das verdadeiras palavras que o Criador do mundo falou. Ele sabe o mundo que criou e sustenta, assim o que Ele diz sobre o mundo é a verdade, à qual temos acesso em Sua Palavra.
Em contraste, os ímpios têm uma visão distorcida de todas as coisas, chafurdam na irracionalidade, fingindo ser racionais, fazendo de conta que podem saber alguma coisa, estão aprisionados na vaidade da sua mente, entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração (Ef 4:17,18).
Ainda que seja assim, é impressionante verificar que Deus ainda é bondoso para com esses ímpios, permitindo que eles saibam algumas verdades sobre o mundo. De outra forma, lhes seria impossível viver, a não ser na insanidade.
Mas por ingratidão, teimosia, rebeldia, e mesmo incapacidade intelectual, os ímpios recusam-se dar a Deus o crédito devido pelo que eles sabem, pelo conhecimento que certamente não veio de suas teorias irracionais.
Por causa do seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as sua cogitações são: Não há Deus. (Sl 10:4)
Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida. (Jo 8:12)
Arrependei-vos e crede no Evangelho! (Mc 1:15)

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