Quer entender a Bíblia?

domingo, 4 de novembro de 2012

Os princípios espirituais da Reforma Protestante




A - A Reforma Protestante e seus princípios espirituais.
No dia 31 de outubro, comemoram-se 495 anos da reforma protestante. A melhor forma de olhar para esse evento é tentar enxergar os frutos espirituais que daí surgiram. Fazendo assim, concluiremos que se tratou de um avivamento espiritual, em que Deus levantou novamente a bandeira do Evangelho puro e simples, obscurecida por muitos anos de distorções. Ao longo do desenvolvimento da Reforma, foi estabelecido um consenso sobre quais verdades deveriam ser confessadas para guardar o povo de Deus de desviar-se novamente. 


Esses princípios funcionam como cercas para proteger a integridade doutrinária da Igreja de Cristo. Dentro da observância, crença e proclamação destes, há segurança e vida no Evangelho Bíblico. Fora desses princípios, inevitavelmente temos um Cristianismo corrompido.


  


Dentro dessa zona de segurança, podem acontecer erros doutrinários e pequenas divergências, mas fora deles, é certa a heresia e descaracterização da Igreja que Cristo fundou.





Vejamos quais são esses cinco seguintes princípios espirituais da Reforma, e reparemos um pouco das contradições atuais que têm aparecido pelo enfraquecimento desses princípios, quando alguma das cercas é quebrada, e a Igreja se desvia novamente nos dias de hoje:

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1 – SOLA GRATIA - Somente pela graça somos salvos
Que diz que não é por qualquer obra que fizermos que somos salvos, mas unicamente pela misericórdia de Deus concedida a nós gratuitamente. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus, não vem das obras, para que ninguém se glorie. (Ef 2:8,9). A graça de Deus para nós é um ato livre, espontâneo, que não teve um motivo ou merecimento naquele que recebe. Nesse sentido, a Sua misericórdia e ajuda, a Sua mão estendida para nos salvar, é totalmente livre e gratuita, não pode ser adquirida, comprada ou conquistada por nada que façamos. 




1.1 - Somente pela graça somos salvos – contradições atuais.
1.1.1 – Crer que somos salvos devido aos nossos atos na conversão, salvos porque nos arrependemos, ou porque cremos, ou porque aceitamos Jesus, etc. Isso desvia o foco da obra de Deus na pessoa para os atos da própria pessoa, dos quais nenhum seria realizado, se Deus antes não tivesse estendido Sua Graça, e chamado o pecador pela pregação do Evangelho.
1.1.2 – Ênfase no livre-arbítrio, a qual obscurece nossa total dependência da misericórdia de Deus.
1.1.3 – Crer que alguém merece ir para o céu, quando, impressionados pelas virtudes de alguém, esquecemos que todo ser humano merece ir para o inferno.



1.2 - Somente pela graça somos salvos – aplicações.
1.2.1 – Reconhecer que a salvação é um presente a ser recebido. Ela teve um preço, mas o preço era muito alto para que eu ou você pudéssemos pagar. Quem pagou foi Cristo.
1.2.2 – Reconhecer que a obra de Deus por nós e em nós é que nos salva, não as nossas obras, que Ele opera. Quem sustenta a árvore é a raiz, não os frutos.
1.2.3 – As nossas obras espirituais não são para conquistar nem preservar a salvação, são só um tributo de gratidão, por amor Àquele que nos amou primeiro.


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2 – SOLA FIDE - Somente pela fé somos justificados.
Ser justificado não é ser feito justo, mas ser considerado justo. Deus é justo e justificador daquele que tem fé em Jesus (Rm 3:26). Na justificação sou considerado tão perfeito como Cristo e só por esta substituição é que serei considerado filho de Deus (Gl 4:26,27). Deus tem que nos considerar justos apesar de não sermos justos. Esta doutrina humilha ao máximo toda pretensão religiosa, pois só seremos aceitos porque outra Pessoa, o Nosso Senhor Jesus Cristo, fez tudo que deveríamos ter feito. Isso implica negarmos a nós mesmos para abraçar somente a Cristo. Renunciarmos à nossa justiça para invocar a justiça de Outro. Nada menos que isso pode ser chamado de FÉ EM CRISTO.




2.1 - Somente pela fé somos justificados – contradições atuais.
2.1.1 – Ignorância da doutrina da justificação, o que vai levar a distorções sobre o papel da fé.
2.1.2 – Fé no poder da fé, como um poder que o ser humano tem em si, e não fé como uma confiança na pessoa e obra de Cristo.
2.1.3 – Crença na perda da salvação, que conduz ao legalismo.



2.2 - Somente pela fé somos justificados – aplicações.
2.2.1 - Não perguntaremos o tamanho da nossa fé, mas em quem confiamos. O que importa é que Ele, Cristo, é perfeito e completo por nós (2Tm 1:12).
2.2.2 – Essa justificação é por meio da fé (pela fé), não por causa da fé. A fé em Cristo é apenas o instrumento pelo qual Deus traz a salvação até nós.
2.2.3 – Retiramos toda a base para o orgulho espiritual - Aquele que não pratica, mas crê nAquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça (Rm 4:5). De que ímpio a passagem está falando? De nós, ímpios! Nenhum de nós é bom o suficiente, e nunca seremos bons o suficiente nesta vida.

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3 – SOLUS CRISTUS - Somente por Cristo chegamos a Deus.

Moisés pediu a Deus: Rogo-te que me mostres a tua glória. Mas Deus lhe disse: não poderás ver a minha face, porquanto homem nenhum verá a minha face, e viverá. (Êxodo 33:20) Isso não é porque Deus é irritável ou caprichoso. É por que: Ele é santo e nós somos pecadores. Ele é puro e nós somos impuros. Não podemos ter um contato direto com Deus. Precisamos de um mediador. Cristo é este único mediador (1Tm 2:5).



3.1 - Somente por Cristo chegamos a Deus – contradições atuais.
3.1.1- Depender de líderes, igrejas ou cultos para buscar a Deus. Crer no poder da oração de algum crente em especial.
3.1.2- Crer em objetos, rituais, vigílias, jejuns, campanhas, ou qualquer coisa que não tenha nada a ver com Cristo, como caminho para Deus ou o Seu poder.
3.1.3- Crer que se pode ter contato direto com Deus em adoração, sem a mediação de Cristo.




3.2 - Somente por Cristo chegamos a Deus – aplicações.
3.2.1 – Proclamar que fora de Jesus só podemos encontrar juízo e condenação. Somente a face justa de Deus nos aparecerá.
3.2.2 – Sublinhar a exclusividade da fé em Cristo como único caminho para Deus. Não afirmar a paz de Deus para quem não for um cristão genuíno (Jo 3:36).
3.2.3 – Estamos livres de tentar ser perfeitos aos olhos do mundo. A minha moralidade (‘testemunho’) não salva ninguém. Se eu não falar da obra de Cristo, nada vale.



Solus Cristus - "Cristo e nada mais. O homem só precisa de Cristo"
Trecho do filme Lutero (1953)

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4 – SOLA SCRIPTURA - Somente a Escritura é autoridade infalível.




A grande quantidade de erros doutrinários da igreja na época da reforma veio de que ela considerou outras fontes, tais como visões, revelações, concílios, mestres e papas, como autoridades infalíveis do Espírito Santo. Mas só a Bíblia é a orientação clara e certa do Espírito Santo. Por isso que o Espírito Santo nos diz na Bíblia que se alguém falar para a igreja, fale segundo a Palavra de Deus (1Pe 4:11), que é a espada do Espírito Santo (Ef 6:17), não indo além do que está escrito (1Co 4:6), nada acrescentando (Pv 30:6) nem diminuindo (Dt 12:32).




4.1 - Somente a Escritura é autoridade infalível – contradições atuais.
4.1.1- Buscar orientação de “profetas”, revelações e visões extrabíblicas.
4.1.2- Confiar e depender mais da Ciência atual do que da Bíblia em primeiro lugar.
4.1.3- Obrigar as pessoas crerem em qualquer coisa que não esteja na Bíblia.




4.2 - Somente a Escritura é autoridade infalível – aplicações.
4.2.1 – Assim como Cristo é a imagem do Pai, considerar a Bíblia a imagem do Espírito Santo, que manifestou perfeitamente nela os Seus santos pensamentos, ao inspirá-la (2Tm 4:16).
4.2.2 – Não tomarmos o nome de Deus em vão, dizendo que Ele disse algo, se isso não estiver escrito na Bíblia (Jr 23:31; Ez 13:7)
4.2.3 – Não devemos buscar nem a Bíblia sem o Espírito Santo, nem o Espírito Santo sem a Bíblia, devemos na verdade buscar o Espírito Santo na Bíblia, porque é este o local designado por Ele para O encontrarmos. Temos que estar sempre suplicando que o Espírito Santo venha com poder sobre a Sua Palavra, afim de sermos transformados quando Ele a usar para falar ao nosso coração.


Sola Scriptura - "Minha consciência permanece cativa à Palavra de Deus" 
- Trecho do (outro) filme Lutero (2003)



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5 – SOLI DEO GLORIA - Somente a Deus toda a glória.
Deus faz todas as coisas para a Sua glória, Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas;
Isso deve se espelhar no meu modo de viver o Evangelho: me diminuindo para que o nome de Cristo cresça e receba cada vez mais glória por minha vida. O Espírito Santo não veio para nos tornar poderosos. Ele veio para nos converter e nos santificar. E isto requer que sejamos cada vez mais enfraquecidos e humilhados, e não que sejamos exaltados com demonstrações de poder. Lembremos que a maior demonstração de poder de Cristo foi entregar a Sua vida pelos nossos pecados. E a demonstração do Seu poder em nós está em conformar a nossa vida à dEle: vida de renúncia, fraqueza, sacrifício e martírio pelo avanço do Reino de Deus. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo (2Co 12:9). Glória, pois, a Ele eternamente. Amém.



5.1 - Somente a Deus toda a glória – contradições atuais.
5.1.1 – Sede por grandeza numérica, econômica e social da Igreja.
5.1.2 – Exaltação de homens e mulheres, não como meros instrumentos de Deus, mas como servos ‘poderosos’ (contradição, se é servo, como é poderoso?)
5.1.3 – Tendência a uma bajulação contínua, para aumentar a ‘auto estima’ dos crentes.




5.2 - Somente a Deus toda a glória – aplicações.
5.2.1 - Não devemos proclamar um evangelho de poder, mas confiar no poder do evangelho, pois isso é que glorifica a Deus.
5.2.2 - Somente o nome do Senhor é exaltado (Sl 148:13). Isso significa que o nosso nome não deve ser exaltado em coisa alguma.
5.2.3 – Fazer todas as coisas para a glória de Deus (1Co 10:31). Isso se faz quando procuramos a maneira mais fiel e bíblica de participar deste mundo e sociedade, em todas as áreas, por exemplo:
Família – Glorifica a Deus quando promove uma descendência piedosa na terra.
Educação – Glorifica a Deus quando compartilha a verdade.
Arte – Glorifica a Deus quando exerce uma criatividade virtuosa e bela.
Ciência – Glorifica a Deus quando, em concordância com a Bíblia, aumenta o nosso conhecimento da Criação de Deus.
Trabalho – Glorifica a Deus quando presta um serviço ao próximo por meio da vocação individual.
Economia – Glorifica a Deus quando garante que o trabalho seja materialmente recompensado.
Governo – Glorifica a Deus quando providenciar Segurança e Justiça para o povo.
Lazer – Glorifica a Deus quando celebra com gratidão a Deus as bênçãos que Ele nos dá.


Grande parte deste resumo é citação ou condensação da série neste blog sobre a Reforma da Igreja – veja os textos completos em:
http://martelodocarpinteiro.blogspot.com.br/search/label/Reforma%20da%20Igreja

 PRIMEIRA IGREJA BATISTA DA FAZENDA BOTAFOGO - 04/11/2012 -
OS PRINCÍPIOS ESPIRITUAIS DA REFORMA PROTESTANTE

domingo, 21 de outubro de 2012

Como se prega o Evangelho

Evangelista aponta o caminho a Cristão - Cena do livro O Peregrino, de John Bunyam.



Como se prega o Evangelho? 

Depende da pessoa pra quem você vai pregar. A pessoa está endurecida ou quebrantada?

Quase todas as pessoas deste mundo, incluindo os que se dizem crentes, estão endurecidas no seu pecado e condenação, considerando-se boas pessoas, mas condenadas ao inferno, porque nunca nasceram de novo.
Então para o endurecido a gente começa dizendo da Santidade de Deus, depois da Lei de Deus, do pecado de todos nós, do Juízo e da condenação que nos aguarda. E volta a dizer da Santidade de Deus, Lei de Deus, Pecado – Perdição – Juízo – Condenação. Depois de terminar de dizer, volta os mesmo assuntos, citando novos versículos e assim vai.
Até o momento em que a pessoa comece a dar sinais de arrependimento, aí que começamos a falar de  Cristo, Sua vida perfeita, Sua morte expiatória, Sua Ressurreição, Seu Reino, Sua Volta, a nossa devida fé e busca e entrega e obediência. Depois de terminar de dizer, volta os mesmo assuntos, citando novos versículos e assim vai.
Até o momento em que a pessoa comece a dar sinais de confiança em Cristo e certeza de salvação. Aí já podemos começar a encaminhá-lo para a comunidade cristã como irmão. Mas devemos avisá-lo, e isso é essencial, que o verdadeiro salvo irá ter um arrependimento contínuo e crescente até o fim da vida, e uma fé contínua e crescente até o fim da vida. Porque se ele retroceder, estará dando sinal de que provavelmente nunca foi salvo de verdade. “Se ele retroceder”, disse Deus, “a minha alma não tem prazer nele”.

1) Primeiro, prega-se Santidade de Deus – Lei – Pecado – Perdição – Juízo – Condenação, até que a pessoa comece a se arrepender.

2) Só então, prega-se Graça – Misericórdia - Cristo - Sua Vida Perfeita – Morte Expiatória – Ressurreição – Reino – Volta – Nossa Fé – Busca - Entrega – Obediência, até que a pessoa comece a crer, confiar e descansar em Cristo.

Se a pessoa já está quebrantada e arrependida podemos falar de Cristo, resumindo menos a questão do pecado e condenação e enfatizando mais a graça e misericórdia de Deus. Igualmente, se a pessoa ainda está endurecida, e nosso tempo está se esgotando, não vamos por isso deixar de falar da Graça de Cristo e da fé que nos justifica, mas é importante dar bem mais ênfase ao pecado e condenação. Resumindo: devemos desesperar os incrédulos ao ponto do arrependimento, para então conduzir os arrependidos ao ponto da confiança. E nunca, NUNCA prometer salvação no Céu para quem não se arrepende dos seus pecados.
A duração desse processo pode variar muito, podem ser muitos anos, ou meia hora, mas dificilmente será em poucos minutos. Não será instantâneo, não será só uma oraçãozinha repetida, não será simples. Pois será uma luta contra a carne, o mundo e Satanás. Mas maior é o que está em nós do que o que está no mundo.
Mas o que se costuma fazer? Fala-se uma frase rapidinha sobre pecado, outra frase rapidinha sobre a obra de Cristo, e gasta-se o resto do tempo falando das vantagens e felicidades de ser de Cristo. E aí a pessoa aceita Cristo por causa das vantagens que Cristo pode dar, tipo felicidade, alegria, paz, realização, e não para escapar da ira de Deus, que está prestes a ser derramada contra os seus pecados.
É como se a pessoa dissesse:
“Deus me ama? Que coincidência, eu também me amo!
Deus tem um plano maravilhoso para minha vida? Que coincidência, eu também tenho um plano maravilhoso para minha vida.
Se eu aceitar Jesus vou ter paz e alegria? Então é claro que eu aceito Jesus, aliás, eu sempre aceito tudo que me der paz e alegria, inclusive os meus pecados me dão muita paz e alegria”(1).
A pessoa ainda tem a própria felicidade como ídolo e centro da sua vida, mas se diz cristã por causa de um evangelismo que não quebranta o endurecido, mas acalenta o nosso endurecimento no egoísmo e exalta a nossa auto-estima, fazendo de Jesus um escravo da nossa felicidade.
Aí se prega um Cristo salvador dos problemas e justificador dos pecados, não o Cristo salvador dos pecados e aumentador dos problemas. 

Sim, CRISTO, O AUMENTADOR DOS PROBLEMAS, pois quando alguém se converte de verdade os problemas aumentam, você passa a estar em guerra, em luta atroz, até o fim da vida, contra o pecado, a carne, o mundo e Satanás. Você será perseguido, odiado e rejeitado, até pelos parentes, até pelos que se dizem crentes. Sofrerá necessidades e tribulação, mas quem crê verdadeiramente sabe que vale a pena, Cristo é uma pérola que vale todas as nossas posses.
Isto deve ser dito aos ímpios, antes deles dizerem que aceitam a Jesus, para que calculem o preço, como Jesus mandou. O preço de negar a si mesmo, tomar cada dia a sua cruz e seguir Jesus até a morte.
Era assim que Jesus fazia, evangelizava com um padrão tão alto, que o convertido já podia começar a trabalhar imediatamente no Reino, como a mulher samaritana. Era assim que a igreja evangelizava no Novo Testamento, um padrão tão alto, que já podia batizar a pessoa no dia da sua conversão. Isso foi dito a Paulo, no dia da sua conversão, que sofreria pelo nome de Cristo. No dia da conversão de Pedro, João, Tiago e André estes tiveram que perder tudo que tinham.
Isto é o que foi oferecido ao jovem rico, porém ele foi embora triste, e muitos que hoje são membros de igreja não-convertidos também não estariam nela, enganando a si mesmos e aos outros, atrapalhando o trabalho do Reino com intrigas, divisões, carnalidades e mundanismos, se tivesse sido dito a eles o real preço de ser cristão.



Marcos Lopes - 24/07/2010

(1) Paul Washer. Citação de memória.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Doutrina Bíblica da Oração - Atos dos Apóstolos



Décima Lição – 02 de setembro – Perseveravam nas orações.

a) At 2:41-47 – O porquê perseverar na oração.
A oração coletiva da igreja deve fazer parte do respirar desta. Ela é o sinal de vida do corpo de Cristo no mundo. Aqueles crentes, reunidos pela primeira vez sob a plenitude do poder espiritual da Nova Aliança, “mantiveram-se perto das ordenanças santas e [por isso] abundaram em piedade e devoção; porque o cristianismo, uma vez que se admite em seu poder, dispõe a alma à comunhão com Deus em todas essas formas estabelecidas para que nos encontremos com Ele, e em que tem prometido reunir-se conosco”[1].


b) At 4:32-37 – A obtenção da abundante graça
Crer em conjunto impele para orar em conjunto[2]. Poucas coisas medem tão bem a união da Igreja quanto a sua unidade na oração. Esta levará à gradual concordância nas demais coisas. O fato deles ‘unânimes [levantarem] a voz a Deus’ (At 4:24), está intimamente ligado à conseqüência de ser “um o coração e a alma da multidão dos que criam” (At 4:32). Nessa intenção, Paulo também orou: “Ora, o Deus de paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os outros, segundo Cristo Jesus. Para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. (Rm 15:5,6)”


c) At 6:1-7 – Um gesto e uma atitude
Os apóstolos decidiram delegar a função de distribuir alimentos para outros crentes, pois sentiam que precisavam se dedicar à oração e ao ministério da palavra (At 6:4). “Deveríamos ouvir de forma nova o que os apóstolos expressam com tanta clareza e determinação. Em primeiro lugar citam a necessidade da oração! (...) Será que a flagrante impotência de nossa igreja não tem como raiz o fato de que nossos ministros não conseguem mais “perseverar na oração” por causa de tantas sobrecargas?”[3]


d) At 10:9-23 – A disciplina para orar
Pedro é hóspede na casa dos seus irmãos, mas ainda assim precisa separar um tempo a sós para passar aquela manhã em oração (At 10:9). Certamente, fazia isso para preservar um costume que já tinha desenvolvido, tal como Daniel, que tinha os seus três horários de oração no dia (Dn 6:10), e o salmista que tinha sete horários (Sl 119:164), e Davi, que se apresentava a Deus a cada manhã (Sl 5:3). É melhor desenvolver uma disciplina tal como esta, do que deixarmos a oração apenas para os momentos em que sentirmos vontade, pois assim seremos induzidos a manter acesa a chama da oração, ainda que em fraqueza espiritual, e poderemos começar a obedecer a ordem: orai sem cessar (1Ts 5:17).


e) At 13:1-3 – Uma oração proativa
A igreja de Antioquia ouviu a voz do Espírito Santo chamando os seus missionários enquanto estava cultuando a Deus com jejuns. Mais jejuns e orações se seguiram para consagrar Paulo e Barnabé e enviá-los ao campo. Nisto vemos uma igreja que, ao buscar a Deus com afinco, recebe dEle as orientações que precisa. O jejum aparece tanto como prática normal daquela igreja, quanto no momento especial de envio dos missionários. Assim, a prática da consagração para um melhor discernimento espiritual é enfatizada, principalmente no tocante à solene missão de preparar ministros para a obra, pois igreja, ao mesmo tempo que tem o dever de enviar pregadores (Rm 10:15) deve fazê-lo sem impor precipitadamente as mãos a ninguém (1Tm 5:22).


f) At 15:6-11 – Recebendo o Espírito Santo de Deus
Durante o testemunho de Pedro, temos a maravilhosa descrição de como Deus salva pessoas de qualquer povo pela graça do Senhor Jesus Cristo (At 15:11), quando purifica os seus corações pela fé e lheso Seu Espírito Santo (At 15:9,10). Em nossos dias a doutrina da presença do Espírito Santo no crente se encontra nublada, por uma ênfase exagerada nas obras de sinais e maravilhas que o Espírito Santo opera, ênfase esta que faz muitos duvidarem da presença do Espírito Santo em si, se não obtiverem experiências extraordinárias. Devemos reequilibrar essa doutrina reconhecendo que em todo crente que foi salvo pela graça de Cristo, e teve seu coração purificado pela fé, o Espírito Santo já habita, pois ninguém pode dizer que Jesus é o SENHOR, senão pelo Espírito Santo (1Co 12:3). E nós, sendo maus, sabemos dar boas dádivas aos nossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem? (Lc 11:13). Assim, podemos confiar que Deus realmente já deu o Espírito Santo àqueles que obedecem a Jesus Cristo (At 5:32), pois a pessoa recebe o Espírito Santo no mesmo dia em que crê em Cristo (Ef  1:13), sendo assim incluído no corpo dos salvos (1Co 12:13).


PRIMEIRA IGREJA BATISTA DA FAZENDA BOTAFOGO
ESCOLA BÍBLICA – 3TRI2012 - DOUTRINA BÍBLICA DA ORAÇÃO – AULA COMPLEMENTAR MENSAL






Undécima Lição – 09 de setembro – Ao nome de Jesus se dobre todo joelho.

a) Lc 18:9-14 – A oração de confissão
“A oração do publicano estava cheia de humildade e de arrependimento pelo pecado, e desejo de Deus. Sua oração foi breve, mas com um objetivo: Deus, sê propício a mim, pecador. Bendito seja Deus, que temos registrada esta oração curta como oração respondida; e que temos a certeza de que aquele que a disse voltou justificado para casa; assim será conosco se orarmos como ele por meio de Jesus Cristo. Reconheceu-se pecador por natureza e costume, culpável diante de Deus. Não dependia de nada senão da misericórdia de Deus, somente nela confiava. É glória para Deus resistir ao soberbo e dar graça ao humilde. A justificação é de Deus em Cristo; portanto, o que se condena a si mesmo, não o que se justifica a si mesmo, é justificado ante Deus.”[4]

b) Lc 20:45-47 – A oração vaidosa ou de ostentação
“Os escribas receberam o juízo mais severo por enganar as viúvas pobres e por abusar da religião, em particular da oração, que usavam como pretexto para executar planos ímpios e mundanos. A piedade fingida é duplo pecado, então, roguemos a Deus que nos impeça o orgulho, a ambição, a cobiça e toda coisa má; e que nos ensine a buscar essa honra que somente vem dEle.”[5]

c) Ef 6:10-20 – A oração no Espírito
“A oração deve assegurar todas as outras partes de nossa armadura cristã. (...) Devemos usar pensamentos santos em nossa vida diária. O coração vão também será vão para orar. Devemos orar com toda classe de oração, pública, privada e secreta; social e solitária; solene e espontânea; com todas as partes da oração: confissão de pecado, petição de misericórdia e ação de graças pelos favores recebidos. E devemos fazê-lo pela graça de Deus Espírito Santo, dependendo de seu ensino e conforme com ele. (...) Devemos orar não só por nós, senão por todos os santos. Nossos inimigos são fortes e nós não temos força, mas nosso Redentor é todo-poderoso, e no poder de sua força podemos vencer. (...) Pensemos nessas coisas e continuemos orando com paciência.”[6]

d) Cl 1:9-20 – A oração de intercessão
“O que um apóstolo pede em favor de uma igreja? Que seja preservada de pressões, aflição e sofrimento? Nada disso aparece aqui. Paulo sabe que segundo Deus a trajetória de uma igreja de Jesus necessariamente passa por muitas tribulações (At 14.22; 1Ts 3.4). Contudo o apóstolo está preocupado com que a jovem igreja em Colossos não fique parada naquilo que ela já possui e é agora. (...) Deus tem muito mais coisas e coisas muito maiores! Paulo não conhece a auto-satisfação prematura e a falsa modéstia, que tão facilmente nos levam a nos contentar com inícios precários. (...) Deus tem para nós a plenitude, por isso Paulo também busca confiantemente essa plenitude para Colossos: “plenos de conhecimento” – “toda sabedoria” – “todo conhecimento” – “inteiro agrado” – “toda boa obra” – “todo poder” – esse é o modo “perfeccionista” com que Paulo ora! E sem sombra de dúvida ele leva essas preces a sério.  Porque assim como o evangelho é vivo, “frutificando” e “crescendo” (v. 6), assim também a igreja gerada por ele é um organismo vivo que não pode ficar parado, que não deve vegetar precariamente, mas ser capaz de “frutificar” e “crescer”.”[7]


e) 1Ts 3:1-3 – A oração de consolo
Paulo espera que ninguém se comova por estas tribulações, porque vós mesmos sabeis que para isto fomos ordenados (1Ts 3:3),  explicação esta que chama a atenção para um ponto negligenciando na nossa doutrina cristã, e que por conta disso, nos costuma deixar despreparado. É a verdade bíblica de que a todos os crentes estão ordenadas tribulações. Reparemos como a Palavra diz com certeza: no mundo tereis aflições (Jo 16:33), por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus (At 14:22), se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós (Jo 15:20). “Os apóstolos, longe de bajular a gente com a expectativa de prosperidade mundana na religião, lhes diziam claramente que deviam contar com os problemas da carne. Aqui seguiam o exemplo de seu grande Mestre, o Autor de nossa fé. os cristãos corriam perigo e era preciso adverti-los; assim seriam melhor resguardados para não ser comovidos com algumas artimanhas do tentador.”[8] No contexto, percebemos como o apóstolo se importava intensamente que a fé daqueles crentes não enfraquecesse, portanto diz: agora vivemos, se estais firmes no Senhor (1Ts 3:8). De um coração assim cuidadoso pelos seus irmãos, fluirão orações intensas, com todo o sentimento de expectativa pela resposta de Deus. Neste nível de comunhão, o bem de meu irmão é o meu bem; sua alegria, a minha alegria; sua vitória, a minha vitória; sua fé, a minha fé; sua vida, a minha vida.

PRIMEIRA IGREJA BATISTA DA FAZENDA BOTAFOGO
ESCOLA BÍBLICA – 3TRI2012 - DOUTRINA BÍBLICA DA ORAÇÃO – AULA COMPLEMENTAR MENSAL



[1] HENRY, M. Comentário Bíblico do NT.
[2]DE BOOR, W. Comentário Bíblico Esperança. Livro de Atos.
[3] DE BOOR, W. Comentário Bíblico Esperança. Livro de Atos.
[4] HENRY, Mathew. Comentário Bíblico do NT.
[5] Idem.
[6] Idem.
[7] DE BOOR, W. Comentário Bíblico Esperança. Carta aos Colossenses.
[8] HENRY, Mathew. Comentário Bíblico do NT.

sábado, 18 de agosto de 2012

‘A MINHA BOCA FALARÁ O LOUVOR DO SENHOR’ (Sl 145:21) - A centralidade do livro de Salmos para a nossa devoção.



(...) a maneira aceitável de se cultuar o Deus verdadeiro é aquela instituída por Ele mesmo, e que está bem delimitada por Sua própria vontade revelada, para que Deus não seja adorado de acordo com as imaginações e invenções humanas, nem com as sugestões de Satanás, nem por meio de qualquer representação visível ou qualquer outro modo não descrito nas Sagradas Escrituras.
                (Confissão de Fé Batista de 1689).

                Dentro da Escritura Sagrada, os salmos bíblicos têm o aspecto peculiar de serem uma palavra de Deus para Deus. Isto porque o próprio Espírito de Deus foi quem levou os autores inspirados a falarem com Deus daquela forma. Assim, eles são orações e louvores inspirados, e por isso mesmo, constituem um modelo indispensável para nossas orações e louvores, afim de que oremos e louvemos conforme a vontade de Deus.
                Pelo fato dos salmos trazerem a inspirada reação diante de Deus a cada situação possível na vida humana, devemos não só lê-los, mas realmente orá-los, sentí-los, vivenciá-los, e nos identificarmos com eles. Com eles aprendemos a orar, louvar, viver e crer para a glória de Deus. Eles são nossa escola de oração, louvor, vida e fé.
                Enquanto escola de oração os salmos dão forma à nossa oração. Eles são a provisão de Deus para aprendermos a orar biblicamente. Onde nos faltam as palavras, os salmos nos suprem, e como não sabemos orar como convém, os salmos oram por nós. É essencial que leiamos os salmos diariamente, para encher nossa mente de uma devoção realmente espiritual, isto é, vinda do Espírito Santo que inspirou os Salmos. À medida que diariamente os leiamos e os decoremos, nossas próprias orações serão enriquecidas, e nos veremos pouco a pouco preferindo falar com Deus por meio das palavras de Deus, do que usar nossas palavras humanas.
                Enquanto escola de louvor, os salmos dizem claramente como louvar a Deus por Quem Ele é e pelo que Ele faz. O salmista geralmente está falando de Deus ou falando com Deus. Assim também deveriam ser todos os nossos louvores. Se Deus não está no centro, não é o alvo, não é o assunto, não é o destinatário do que falamos, não estamos louvando biblicamente. Precisamos sempre dos salmos para nos moldarem e nos prevenirem de nossa pecaminosa tendência de fazer de nós mesmos o centro do culto, ocupando o lugar de Deus. Ao louvar com os salmos, nos aproximamos de Deus com as palavras que Ele providenciou, e assim podemos ter mais confiança de estar prestando um louvor agradável a Ele.
                Enquanto escola de vida, os salmos são o espelho da alma humana e da condição humana neste mundo de Deus. A coleção dos 150 salmos menciona todas as emoções e situações possíveis, e como elas foram vividas pelos salmistas diante de Deus. O que esperar, o que orar, o que fazer em cada situação, para a glória de Deus? Nos salmos temos modelos não só de devoção, mas de atitudes, tomadas diante de Deus, para não nos deixar sem direção quando passarmos por situações semelhantes. É uma grande bênção de Deus quando o texto do salmo coincide com alguma situação que estamos passando, e nos sentimos representados pela Palavra e identificados com a Palavra, sendo assim orientados por ela.
                Enquanto escola de fé, os salmos são pródigos em nos ensinar quem Deus é, como se arrepender dos pecados e como confiar no Senhor; além de falarem do nosso Salvador e da nossa salvação. Os salmos têm instruções de santificação, de obediência e de justiça, que, por serem colocadas num contexto de intimidade com Deus, exprimem desejos santos e emoções espirituais, sendo por isso um instrumento eficaz para que o Espírito Santo opere em nós essas mesmas realidades de regeneração, arrependimento, fé e santificação; que aparecem no contexto da oração dos salmistas, os quais foram verdadeiramente pessoas regeneradas, arrependidas, confiantes e santificadas.       


SUGESTÃO DE LEITURA MENSAL DOS SALMOS
(capítulos a cada dia)

Salmos
1
Sl 1-8
11
Sl 59-64
21
Sl 105-106
2
Sl 9-16
12
Sl 65-68
22
Sl 107-112
3
Sl 17-20
13
Sl 69-72
23
Sl 113-118
4
Sl 21-26
14
Sl 73-77
24
Sl 119:1-88 
5
Sl 27-32
15
Sl 78-79
25
Sl 119:89-176 
6
Sl 33-36
16
Sl 80-85
26
Sl 120-134
7
Sl 37-41
17
Sl 86-89
27
Sl 135-138
8
Sl 42-48
18
Sl 90-94
28
Sl 139-141
9
Sl 49-51
19
Sl 95-101
29
Sl 142-145
10
Sl 52-58
20
Sl 102-104
30
Sl 146-150


"Então o rei Ezequias e os príncipes disseram aos levitas que louvassem ao SENHOR com as palavras de Davi, e de Asafe, o vidente. E o louvaram com alegria e se inclinaram e adoraram."  (II Crônicas 29 : 30)

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