A - A Reforma Protestante e seus princípios espirituais.
No dia 31 de outubro,
comemoram-se 495 anos da reforma protestante. A melhor forma de olhar para esse
evento é tentar enxergar os frutos espirituais que daí surgiram. Fazendo assim,
concluiremos que se tratou de um avivamento espiritual, em que Deus levantou
novamente a bandeira do Evangelho puro e simples, obscurecida por muitos anos
de distorções. Ao longo do desenvolvimento da Reforma, foi estabelecido um
consenso sobre quais verdades deveriam ser confessadas para guardar o povo de
Deus de desviar-se novamente.
Esses princípios funcionam como
cercas para proteger a integridade doutrinária da Igreja de Cristo. Dentro da
observância, crença e proclamação destes, há segurança e vida no Evangelho Bíblico.
Fora desses princípios, inevitavelmente temos um Cristianismo corrompido.
Dentro dessa zona de segurança,
podem acontecer erros doutrinários e pequenas divergências, mas fora deles, é
certa a heresia e descaracterização da Igreja que Cristo fundou.
Vejamos quais são esses cinco seguintes
princípios espirituais da Reforma, e reparemos um pouco das contradições atuais
que têm aparecido pelo enfraquecimento desses princípios, quando alguma das cercas é quebrada, e a Igreja se desvia novamente nos dias de hoje:
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1 – SOLA GRATIA - Somente
pela graça somos salvos
Que diz que não é por qualquer obra que fizermos que somos
salvos, mas unicamente pela misericórdia de Deus concedida a nós gratuitamente.
Porque pela graça sois salvos, por meio
da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus, não vem das obras, para que
ninguém se glorie. (Ef 2:8,9). A graça de Deus
para nós é um ato livre, espontâneo, que não teve um motivo ou merecimento
naquele que recebe. Nesse sentido, a Sua misericórdia e ajuda, a Sua mão
estendida para nos salvar, é totalmente livre e gratuita, não pode ser
adquirida, comprada ou conquistada por nada que façamos.
1.1 - Somente pela
graça somos salvos – contradições atuais.
1.1.1 – Crer que somos salvos
devido aos nossos atos na conversão, salvos porque nos arrependemos, ou porque
cremos, ou porque aceitamos Jesus, etc. Isso desvia o foco da obra de Deus na
pessoa para os atos da própria pessoa, dos quais nenhum seria realizado, se
Deus antes não tivesse estendido Sua Graça, e chamado o pecador pela pregação do
Evangelho.
1.1.2 – Ênfase no livre-arbítrio, a qual obscurece nossa total
dependência da misericórdia de Deus.
1.1.3 – Crer que alguém merece ir para o céu, quando,
impressionados pelas virtudes de alguém, esquecemos que todo ser humano merece
ir para o inferno.
1.2 - Somente pela
graça somos salvos – aplicações.
1.2.1 – Reconhecer que a salvação é
um presente a ser recebido. Ela teve um preço, mas o preço era muito alto para
que eu ou você pudéssemos pagar. Quem pagou foi Cristo.
1.2.2 – Reconhecer que a obra de Deus por nós e em nós é que nos salva, não as
nossas obras, que Ele opera. Quem sustenta a árvore é a raiz, não os frutos.
1.2.3 – As nossas obras espirituais não são para conquistar
nem preservar a salvação, são só um tributo de gratidão, por amor Àquele que
nos amou primeiro.
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2 – SOLA FIDE - Somente
pela fé somos justificados.
Ser
justificado não é ser feito justo, mas ser considerado justo. Deus é justo e justificador daquele que tem fé em
Jesus (Rm 3:26). Na justificação sou considerado tão perfeito como Cristo e
só por esta substituição é que serei considerado filho de Deus (Gl 4:26,27). Deus tem que nos
considerar justos apesar de não sermos justos. Esta doutrina humilha ao máximo
toda pretensão religiosa, pois só seremos aceitos porque outra Pessoa, o Nosso
Senhor Jesus Cristo, fez tudo que deveríamos ter feito. Isso implica negarmos a
nós mesmos para abraçar somente a Cristo. Renunciarmos à nossa justiça para
invocar a justiça de Outro. Nada menos que isso pode ser chamado de FÉ EM
CRISTO.
2.1 - Somente pela fé
somos justificados – contradições atuais.
2.1.1 – Ignorância da doutrina da justificação, o que vai
levar a distorções sobre o papel da fé.
2.1.2 – Fé no poder da fé, como um poder que o ser humano
tem em si, e não fé como uma confiança na pessoa e obra de Cristo.
2.1.3 – Crença na perda da salvação, que conduz ao
legalismo.
2.2 - Somente pela fé
somos justificados – aplicações.
2.2.1 - Não perguntaremos o
tamanho da nossa fé, mas em quem confiamos. O que importa é que Ele, Cristo, é
perfeito e completo por nós (2Tm 1:12).
2.2.2 – Essa justificação é por meio da fé (pela fé), não por causa
da fé. A fé em Cristo é apenas o instrumento pelo qual Deus traz a salvação até
nós.
2.2.3 – Retiramos toda a base para o orgulho espiritual - Aquele que não
pratica, mas crê nAquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como
justiça (Rm 4:5). De que ímpio a passagem
está falando? De nós, ímpios! Nenhum de nós é bom o suficiente, e nunca seremos
bons o suficiente nesta vida.
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3 – SOLUS CRISTUS - Somente
por Cristo chegamos a Deus.
Moisés pediu a Deus: Rogo-te que me mostres
a tua glória. Mas Deus lhe disse: não poderás ver a minha face, porquanto homem
nenhum verá a minha face, e viverá. (Êxodo 33:20) Isso não é porque Deus é
irritável ou caprichoso. É por que: Ele é santo e nós somos pecadores. Ele é
puro e nós somos impuros. Não podemos ter um contato direto com Deus.
Precisamos de um mediador. Cristo é este único mediador (1Tm 2:5).
3.1 - Somente por
Cristo chegamos a Deus – contradições atuais.
3.1.1- Depender de líderes, igrejas ou cultos para buscar a
Deus. Crer no poder da oração de algum crente em especial.
3.1.2- Crer em objetos, rituais, vigílias, jejuns,
campanhas, ou qualquer coisa que não tenha nada a ver com Cristo, como caminho
para Deus ou o Seu poder.
3.1.3- Crer que se pode ter contato direto com Deus em
adoração, sem a mediação de Cristo.
3.2 - Somente por
Cristo chegamos a Deus – aplicações.
3.2.1 – Proclamar que fora de Jesus só podemos encontrar juízo e condenação.
Somente a face justa de Deus nos aparecerá.
3.2.2 – Sublinhar a exclusividade da fé em Cristo como único
caminho para Deus. Não afirmar a paz de Deus para quem não for um cristão
genuíno (Jo 3:36).
3.2.3 – Estamos livres de tentar ser perfeitos aos olhos do
mundo. A minha moralidade (‘testemunho’) não salva ninguém. Se eu não falar da
obra de Cristo, nada vale.
Solus Cristus - "Cristo e nada mais. O homem só precisa de Cristo"
Trecho do filme Lutero (1953)
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4 – SOLA SCRIPTURA - Somente
a Escritura é autoridade infalível.
A
grande quantidade de erros doutrinários da igreja na época da reforma veio de
que ela considerou outras fontes, tais como visões, revelações, concílios,
mestres e papas, como autoridades infalíveis do Espírito Santo. Mas só a Bíblia
é a orientação clara e certa do Espírito Santo. Por isso que o Espírito
Santo nos diz na Bíblia que se alguém falar para a igreja, fale segundo a
Palavra de Deus (1Pe 4:11), que é a
espada do Espírito Santo (Ef 6:17), não
indo além do que está escrito (1Co
4:6), nada acrescentando (Pv 30:6)
nem diminuindo (Dt 12:32).
4.1 - Somente a
Escritura é autoridade infalível – contradições atuais.
4.1.1- Buscar orientação de “profetas”, revelações e visões
extrabíblicas.
4.1.2- Confiar e depender mais da Ciência atual do que da
Bíblia em primeiro lugar.
4.1.3- Obrigar as pessoas crerem em qualquer coisa que não
esteja na Bíblia.
4.2 - Somente a
Escritura é autoridade infalível – aplicações.
4.2.1 – Assim como Cristo é a
imagem do Pai, considerar a Bíblia a
imagem do Espírito Santo, que manifestou perfeitamente nela os Seus santos
pensamentos, ao inspirá-la (2Tm 4:16).
4.2.2 – Não tomarmos o nome de Deus em vão, dizendo que Ele
disse algo, se isso não estiver escrito na Bíblia (Jr 23:31; Ez 13:7)
4.2.3 – Não devemos buscar nem a
Bíblia sem o Espírito Santo, nem o Espírito Santo sem a Bíblia, devemos na verdade
buscar o Espírito Santo na Bíblia, porque é este o local designado por Ele
para O encontrarmos. Temos que estar
sempre suplicando que o Espírito Santo venha com poder sobre a Sua Palavra,
afim de sermos transformados quando Ele a usar para falar ao nosso coração.
Sola Scriptura - "Minha consciência permanece cativa à Palavra de Deus"
- Trecho do (outro) filme Lutero (2003)
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5 – SOLI DEO GLORIA -
Somente a Deus toda a glória.
Deus faz todas as coisas para a Sua glória, Porque dele e
por ele, e para ele, são todas as coisas;
Isso deve se espelhar no meu modo de viver o Evangelho: me
diminuindo para que o nome de Cristo cresça e receba cada vez mais glória por
minha vida. O Espírito Santo não veio para nos tornar poderosos. Ele veio para
nos converter e nos santificar. E isto requer que sejamos cada vez mais
enfraquecidos e humilhados, e não que sejamos exaltados com demonstrações de
poder. Lembremos que a maior demonstração de poder de Cristo foi entregar a Sua
vida pelos nossos pecados. E a demonstração do Seu poder em nós está em
conformar a nossa vida à dEle: vida de renúncia, fraqueza, sacrifício e
martírio pelo avanço do Reino de Deus. De
boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o
poder de Cristo (2Co 12:9). Glória, pois, a Ele eternamente. Amém.
5.1 - Somente a Deus
toda a glória – contradições atuais.
5.1.1 – Sede por grandeza numérica, econômica e social da
Igreja.
5.1.2 – Exaltação de homens e mulheres, não como meros
instrumentos de Deus, mas como servos ‘poderosos’ (contradição, se é servo,
como é poderoso?)
5.1.3 – Tendência a uma bajulação contínua, para aumentar a
‘auto estima’ dos crentes.
5.2 - Somente a Deus
toda a glória – aplicações.
5.2.1 - Não devemos proclamar um
evangelho de poder, mas confiar no poder do evangelho, pois isso é que
glorifica a Deus.
5.2.2 - Somente o nome do Senhor
é exaltado (Sl 148:13). Isso
significa que o nosso nome não deve ser exaltado em coisa alguma.
5.2.3 – Fazer todas as coisas para a glória de Deus (1Co
10:31). Isso se faz quando procuramos a maneira mais fiel e bíblica de participar
deste mundo e sociedade, em todas as áreas, por exemplo:
Família – Glorifica a Deus quando promove uma descendência
piedosa na terra.
Educação – Glorifica a Deus quando compartilha a verdade.
Arte – Glorifica a Deus quando exerce uma criatividade
virtuosa e bela.
Ciência – Glorifica a Deus quando, em concordância com a
Bíblia, aumenta o nosso conhecimento da Criação de Deus.
Trabalho – Glorifica a Deus quando presta um serviço ao
próximo por meio da vocação individual.
Economia – Glorifica a Deus quando garante que o trabalho
seja materialmente recompensado.
Governo – Glorifica a Deus quando providenciar Segurança e
Justiça para o povo.
Lazer – Glorifica a Deus quando celebra com gratidão a Deus
as bênçãos que Ele nos dá.
Grande parte deste resumo é citação ou condensação da série neste
blog sobre a Reforma da Igreja – veja os textos completos em:
http://martelodocarpinteiro.blogspot.com.br/search/label/Reforma%20da%20Igreja
http://martelodocarpinteiro.blogspot.com.br/search/label/Reforma%20da%20Igreja
PRIMEIRA IGREJA BATISTA DA FAZENDA BOTAFOGO - 04/11/2012 -
OS PRINCÍPIOS ESPIRITUAIS DA REFORMA
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