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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

A purificação de um povo - Comentário de Levítico 11-20


 

LEIS DE PUREZA – Lv 11-15 – Enfatizam o quanto a santidade que Deus tem requer que o Seu povo se santifique igualmente. Elas são explicadas com a ordem: sereis santos, porque Eu sou santo (Lv 11:44). Isto é, a santidade que Deus nos ordena não tem implicações somente espirituais, éticas, religiosas, filosóficas etc, mas é também santidade física e concreta – separação da sujeira, da contaminação e das doenças, higiene pessoal, cuidados com a saúde do corpo, com a limpeza física dos ambientes e com a alimentação. Estas leis revelam que a imundícia física e o desleixo com a saúde também são pecados – o homem bom cuida bem de si mesmo – Pv 11:17. Aos olhos de Deus, sujeira, contaminação e desleixo são pecado, ao contrário da limpeza higiene e saúde, que são virtudes. Porém, da mesma forma como as ofertas cerimoniais, a literalidade destes mandamentos não é aplicável, uma vez que eles foram contextualizados naquele ministério sacerdotal que não mais existe. Porém a intenção geral destes, tanto moral como física, bem como o seu sentido espiritual, permanecem para orientar o nosso proceder. Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus (2Co 7:1).  Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus (1Co 6:20).



                Lv 11 – A lei dos animais. Deus coloca várias restrições alimentícias para o povo de Israel. Entretanto, para os gentios, desde o Dilúvio valia a lei de que se podia comer qualquer animal - tudo quanto se move, que é vivente, será para vosso mantimento; tudo vos tenho dado como a erva verde (Gn 9:3). De maneira que esta lei alimentícia era antes de tudo um sinal de separação de Israel em relação a outros povos. Tão certo é isso, que quando o Senhor vai ensinar a Pedro que Ele salva gentios sem que eles precisem se tornar judeus, Ele o faz ordenando Pedro comer de todo tipo de animal que há no mundo (At 10:1-28). Quando Cristo veio, e de ambos os povos fez um; derrubando a parede de separação que estava no meio (Ef 2:14), essas leis não são mais obrigatórias, como Paulo ensina: Porque toda a criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças. Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificada (1Tm 4:4,5). Em Cristo Deus já está se reconciliando com o mundo e com Sua Criação, de forma que esse sinal de separação não é mais obrigatório. Assim a observância destas restrições é opcional, a não ser por amor a um cristão que poderia escandalizar-se (1Co 8). Entretanto a intenção geral de que nos importemos e selecionemos bem a nossa alimentação continua valendo. Santificar nosso corpo deve incluir o abster-se de todo o tipo de alimentação que soubermos que irá prejudicar a nossa saúde, seja em termos de conteúdo, pureza, quantidade e modo como nos alimentamos.



                Lv 12 – A lei da que der à luz. Se uma mulher tivesse um filho homem, deveria ficar separada 7 dias, circuncidando-o ao oitavo dia, e depois mais 33 dias. Se tivesse filha mulher deveria ficar separada 14 dias, mais 66 dias. Esse dobro de tempo no tocante ao sexo feminino é justificado como uma compensação pelo fato da circuncisão ter sido ordenada somente aos meninos. Assim a filha do sexo feminino fica mais tempo separada como rito de consagração equivalente à circuncisão dos homens. O pecado que deve ser expiado pelas ofertas se refere a duas coisas – a purificação física do contato com sangue e fluidos, e espiritualmente o fato de que se trouxe mais um pecador ao mundo – não que o ter filhos seja desestimulado, pelo contrário, é ordenado ao povo de Deus que tenham muitos filhos (Sl 127:5, Jr 29:6, Gn 9:7), mas que o problema do pecado que nossos filhos trazem mesmo na essência de sua natureza (Rm 5:12; Sl 51:5) seja reconhecido e tratado adequadamente o mais cedo possível, apresentando-os ao Único que pode tirar os pecados deles –Jesus (Mc 10:14, Mt 1:21).



Lv 13 – A lei da praga da lepra: O diagnóstico. Sob o nome de lepra, parecem estar incluídos vários tipos de infecções, não só da doença hoje chamada de hanseníase, mas de micoses e doenças de pele, bem como de infestações de fungos nas casas e nos objetos. Todo caso suspeito demandava o isolamento, para evitar a contaminação de todo o arraial de Israel. O doente deve ele próprio tomar precaução para não contaminar aos outros,  e voluntariamente evitar todo contato. Não queremos para ninguém o mal que estamos sofrendo.

               

Lv 14 – A lei do leproso: A purificação. Na purificação de um leproso que tivesse sido curado, duas aves eram ofertadas, uma era morta como símbolo da purificação, mas outra era solta, como símbolo da liberdade, do fim do isolamento do doente. A cura de alguém deve ser celebrada com ação de graças a Deus e adoração a Deus, pela Graça dEle ter se compadecido do doente e o restaurado. Não sejamos ingratos como os nove leprosos que não agradeceram a Cristo.



Lv 15 – A lei daquele que tem fluxo. Aqui se ensina como lidar com diversos fluidos do corpo, sejam de emissão mórbida, acidental ou regular, de forma a não promover a contaminação por doenças. Em todos os casos inclui-se a lavagem, a separação dos objetos contaminados, e o evitar que outras pessoas entre em contato com o fluxo. Deus nos ordena o zêlo pela higiene do nosso corpo, ensinando que o desleixo nessa área também é pecado.



LEIS DE SANTIDADE MORAL E CIVIL – Lv 16-20 – Deus ordenou que aquele povo todo se santificasse a Ele. Santos sereis, porque eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo (Lv 19:2). Ser santo é obedecer às leis de Deus. Eles deviam mostrar-se diferentes moralmente dos egípcios e cananeus, que praticavam todo tipo de impiedade sem restrição. Assim eles deviam buscar o perdão de Deus coletivamente (Lv 16), da maneira ordenada por Deus (Lv 17), evitar todas as práticas abomináveis, isto é, tudo que Deus detestava naqueles povos pagãos (Lv 18), praticar todos os mandamentos que Deus lhe desse, tendo-os como prática de vida (Lv 19),  e dar aos transgressores aquilo que Deus disser que eles merecem, isto é, executar os Seus juízos (Lv 20).

Uma Lei moral de Deus é quando Ele está declarando: “isto é certo ou isto é errado”, ela tem validade eterna, para todos os povos em todos os tempos. Deus não muda Seus conceitos, por mais que as sociedades dos homens mudem. Então no sentido de instrução moral estas leis devem ser consideradas tão obrigatórias quanto qualquer lei do Novo Testamento, ou como os Dez Mandamentos, dos quais esta leis na verdade são uma explicação mais detalhada.

Já uma Lei civil de Deus aparece quando Ele diz o que o Seu povo deve fazer com os que transgridem as Leis Morais. Elas estabelecem o que deveria ser considerado crime. Os transgressores devem ser levados aos juízes, com no mínimo duas testemunhas do crime, e a sociedade em si, representada pelos seus governantes, magistrados, juízes, sacerdotes ou soldados, em nome de Deus, iria inflingir ao malfeitor a pena que Deus disse que ele merece, se fosse julgado culpado no processo. Tais leis, da mesma forma que as morais, devem ser consideradas certas e justas por todos e para sempre, por terem vindo de Deus, porém a sua aplicação é mais difícil de ser posta em prática, pois depende primordialmente que haja um pacto coletivo entre o povo que vai praticá-las e o Deus da Bíblia. Se o cristão vive numa sociedade que não tem compromisso oficial com Deus, nem tem uma Aliança com Deus, tais sociedades naturalmente terão ojeriza da justiça de Deus, considerando-a rigorosa demais. Mas em todo o caso, o cristão pode gradualmente influenciar sua sociedade para considerar crime o que Deus considera crime, isto é, o tipo de pecado que a sociedade deveria punir. Ao mesmo tempo, o cristão deve disciplinar e renovar sua mente ao modelo divino para não se encontre rejeitando a justiça de Deus, como os pagãos rejeitam.



Lv 16 – A expiação por todo o povo. O mais importante de todos os sacrifícios era este do bode emissário, celebrado uma vez por ano. Nesse momento o sacerdote ofertava por todos os pecados de todo o povo, que cometeram durante aquele ano. Um dos bodes era sacrificado como símbolo do pagamento da dívida e o outro era enviado ao deserto, como comunicando o afastamento do pecado de dentro do arraial. Da mesma forma, assim como está longe o oriente do ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões (Sl 103:12), por causa do sacrifício de Cristo pelo Seu povo, não só de um ano, mas de todos os tempos, Deus diz: "Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim, e dos teus pecados não me lembro."  (Is 43:25)



Lv 17 – É o sangue que fará expiação pela alma. No sangue está a vida de todo ser. Deus quis santificar esse elemento, para ser a moeda espiritual que pagaria pelos pecados. Assim, para sempre lembrar-se da santidade desse elemento, não podemos comer sangue algum, nem no Novo Testamento (At 15:29). Mas, vindo Cristo, não por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção... Porque onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador. Porque um testamento tem força onde houve morte; ou terá ele algum valor enquanto o testador vive? (Hb 9:11-16).



Lv 18 – Nenhuma destas abominações fareis. Deus não nos deixa sem instrução para sabermos o que não deve ser feito. Quando Ele chama algo de “abominação”, Ele está classificando esse ato como um tipo de pecado mais horrendo, detestável, repulsivo e hediondo do que os outros. Há graduação nos pecados, os que são mais graves e menos graves, os que despertam mais a ira de Deus e os que lhe despertam menos a ira. Aqui temos listados alguns dos piores.

Sobre essas abominações, Deus diz: Nenhuma destas abominações fareis, nem o natural, nem o estrangeiro que peregrina entre vós; Porque todas estas abominações fizeram os homens desta terra, que nela estavam antes de vós; e a terra foi contaminada. Para que a terra não vos vomite, havendo-a contaminado, como vomitou a nação que nela estava antes de vós (Lv 18:26-28). Ou seja, elas compõem os motivos pelos quais Deus estaria expulsando as nações cananeias da Terra Prometida, para nelas colocar um povo santo que O agradasse. Assim cada cristão deve temer que a ira de Deus se desperte contra o seu povo da mesma forma, se sua nação se entrega a essas práticas abomináveis, e acabe esse povo recebendo duros castigos de Deus em vida.

Nenhum homem se chegará a qualquer parenta da sua carne, para descobrir a sua nudez (Lv 18:6-18). São as leis do incesto, que proíbem tanto o casamento como a relação sexual e a contemplação do corpo nu dos parentes alistados. A nudez de alguém pertence ao seu cônjuge (Lv 18:8).

Outras ações listadas como abomináveis aqui são: ter relações durante a menstruação, cometer adultério, sacrificar filho a ídolos, praticar o homossexualismo e praticar zoofilia (Lv 18:19-23). Que Deus nos dê uma mentalidade que sinta por esses atos a mesma repulsa que Ele sente, pois a falta dela indica um grande afastamento da vontade de Deus.



Lv 19 – Guardarás os meus estatutos. A justiça positiva de Deus, aquilo que deve ser feito, antes resumido nos Dez Mandamentos, agora é detalhado para nossa melhor obediência, para que saibamos o que é ser santo como Deus é santo:

Temer ao pai e à mãe. Santificar o dia do descanso semanal Não adorar imagens, nem fabricá-las. Oferecer ofertas voluntárias de comunhão, buscando a Deus com prontidão. Deixar um pouco da colheita para os pobres e estrangeiros. Não furtar. Não mentir. Não jurar falso, tomando o nome de Deus em vão. Não explorar trabalhadores, nem atrasar os seus salários. Não fazer maldades com pessoas deficientes. Não permitir impunidade e injustiça nos julgamentos, os quais devem ser totalmente imparciais. Não espalhar fofocas e boatos. Não dar falso testemunho para o mal do outro. Não odiar os seus irmãos. Não deixar de aconselhar quem está errado. Não se vingar de ninguém por conta própria. Amar ao próximo como a si mesmo. Ser caracterizado pela ordem e classificação não misturando os animais, nem sementes, nem tecidos. Não castigar injustamente os escravos. Na colheita semear os três primeiros anos, consagrar o fruto no quarto, começar a usufruir no quinto ano. Não comer sangue. Não fazer adivinhações e previsões do futuro. Não praticar sinais extravagantes de luto em cortes de cabelo, marcações ou ferimentos. Não promover a prostituição. Reverenciar o santuário de Deus. Honrar os idosos. Não oprimir os estrangeiros. Ter balanças e pesos justos (Lv 19:3-37).

Praticar estas coisas é ser santo.



                 Lv 20 - Guardai todos os meus juízos, e cumpri-os. Deus estabelece que algumas das transgressões da Lei devem ser julgadas pela nação. A justiça de Deus não seria vindicada se os criminosos não recebessem o que merecem, depois de serem julgados e condenados. Aqui se informam as seguintes punições:

Pena de morte – para quem sacrificar o próprio filho (v.2), amaldiçoar pai e mãe (v.9), cometer adultério (v.10), cometer incesto (v.11,12), praticar homossexualismo (v.13), casar com uma mulher e sua mãe (v.14), praticar zoofilia  (v.15,16), praticar adivinhação ou consulta aos mortos (v.27). Deus confirma que são dignos de morte os que tais coisas praticam (Rm 1:32).

Banimento – para o que se casar com a irmã (v.17) ou ter relações com mulher menstruada (v.18), ele deve ser expulso do país, não haverá lugar para essas pessoas numa nação santificada.

Castigo providencial de Deus – Deus afirma que mesmo que o povo deixe de punir adequadamente os infanticidas, idólatras e consultadores de feiticeiros (Lv 20:4-6), Ele mesmo providenciará uma punição em vida para essas pessoas. Tal é precisamente o caso de uma sociedade como a nossa, que não se importa em praticar os juízos de Deus contra as abominações nela praticadas, denunciadas nestes capítulos de Levítico 18 e 20. Mas não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará (Gl 6:7). Onde estiver falhando a justiça dos homens, não falhará a justiça divina.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

As Leis da Adoração - Comentário de Levítico 1-10





LEIS DE ADORAÇÃO – Lv 1- 10. Antes da vinda de Cristo, aprouve a Deus ordenar a Seu povo que O servisse por meio do sistema altamente elaborado do culto oficiado por levitas e sacerdotes no Tabernáculo, e posteriormente no Templo. O livro de Levítico em sua seção inicial elabora as leis sobre os diferentes tipos de ofertas a serem oferecidas no altar de Deus: de holocausto, de alimentos, pacífica, pelo pecado e pela culpa. Sabemos pelo Novo Testamento que após o único e definitivo sacrifício de Cristo (Hb 10:12), oferecendo a Si mesmo pelos pecados do Seu povo (Hb 7:27), efetuando uma eterna redenção, por seu próprio sangue (Hb 9:12), tais ofertas não devem mais ser oferecidas literalmente. Elas eram apenas sombras da realidade que viria em Cristo (Cl 2:17). Se a realidade chegou, a sombra não é mais necessária. Entretanto, cada oferta ordenada no Antigo Testamento tinha o seu sentido espiritual peculiar, seja como instruções sobre adoração e piedade, seja como revelações das obras salvadoras de Cristo. Assim, na expectativa de ser instruído no seu relacionamento com Deus pelo significado espiritual dessas ofertas é que o cristão de hoje se aproxima destes textos.



                Lv 1 – Oferta de Holocausto (Lv 1:3) –  Representa a consagração integral da vida a Deus. Eram ofertas voluntárias de bois ou ovelhas, que após serem sacrificados, deviam ser totalmente queimados no altar. Nenhuma parte deles eram consumidas nem pelo ofertante, nem pelos sacerdotes, mas todo o corpo, representativamente, ao ser queimado, subia para Deus por meio da fumaça. De sua própria vontade (Lv 1:2). Aqui o ofertante expontâneamente trazia o seu holocausto como símbolo da sua intenção e declaração de consagração total a Deus. Esta oferta requeria a voluntariedade. Ainda que nós nos entregamos a Deus por Sua ordem, Deus quer que nossa vontade participe ativamente disto, para que seja uma entrega completa e sincera. A lealdade a Deus e apego a Ele deve vir do coração. Tudo isso queimará sobre o altar (Lv 1:9). Tal como nenhuma parte do corpo do holocausto deixava de ser consumida pelo fogo, e não se usava para nenhum outro propósito, a não ser para subir a Deus por meio da fumaça em cheiro suave,  nenhuma parte da nossa vida deve ficar de fora da consagração a Deus. Em todas as àreas, seja na família, trabalho, igreja, amizades, seja nos hábitos, obras, lazer, costumes, seja o corpo, seja a mente, seja a alma, tudo deve ser consagrado a Deus, e feito conforme a Sua vontade.  Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus (1Co 10:31). Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus (Rm 12:1,2). Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus (1Co 6:20).



                Lv 2 – Oferta de Alimentos (Lv 2:1) – Representa a gratidão a Deus. Uma pequena amostra da colheita, os primeiros frutos dela, são trazidos para o altar. Uma parte é queimada, a outra fica para o sacerdote. É feita de forma a reconhecer que todos os nossos bens, inclusive o fruto do nosso trabalho, vieram de Deus, por isso Lhe entregamos uma parte como tributo e honra ao nosso Divino Provedor. Deve ter sido o tipo de oferta que Caim ofereceu. O erro de Caim foi ter dado frutos ao cabo de dias (Gn 4:3) ou seja, ele demorou muito a entregar sua oferta, de maneira que as frutas colhidas podia estar já a estragar-se, ele as deu por último, consumiu primeiro, e depois lembrou de prestar tributo a Deus, estava dando um resto que não valeria nada para ele, por tudo isso a oferta de Caim não foi aceita por Deus. Ainda hoje o povo de Deus pode oferecer corretamente esse tipo de oferta, um tributo da provisão que Deus lhes dá. Aqui aprendemos como é importante que se lembre e se separe primeiro o oferecimento a Deus, para depois nós usufruímos do fruto do nosso trabalho. Da mesma forma, como naquelas ofertas os sacerdotes tiravam para sustento de si e de suas famílias, hoje também uma parte do fruto do nosso trabalho deve sustentar os ministros de Deus: Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar, participam do altar? Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho (1Co 9:13,14). Para esse tipo de oferta ainda temos a promessa: honra ao SENHOR com os teus bens, e com a primeira parte de todos os teus ganhos; e se encherão os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares (Pv 3:9,10).



                Lv 3 – Oferta de Sacrifício pacífico (Lv 3:1) – Representa a comunhão com Deus.  Um animal é trazido como símbolo da paz com Deus, seja a paz celebrada ou desejada. Nessa oferta o animal era assado e dividido em três partes, uma queimada para Deus, outra para o sacerdote, outra para o próprio ofertante comer ali mesmo diante do altar. “Era como se Deus e seu povo celebrassem juntos, em sinal de amizade. As ofertas de paz se ofereciam a título de súplica. Se um homem andava a procura de alguma misericórdia, agregava por isso uma oferta de paz a sua oração. Cristo é a nossa Paz, nossa oferta de Paz; pois por seu único intermédio podemos obter uma resposta de paz a nossas orações. Também, a oferta de paz era apresentada a modo de ação de graças por alguma misericórdia recebida”[1]. Nos dias de hoje pode ser comparada à Ceia do Senhor, na qual celebramos a morte de Cristo, que nos trouxe paz com Deus (Rm 5:1), e a comunhão com o Seu povo, o Seu corpo, formado por todos que hoje usufruem da mesma paz com Deus. Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão (1Co 10:16-17).



                Lv 4  - A oferta pelo pecado – Representa a expiação diante de Deus. Um animal é sacrificado como pedido de expiação do pecado. Expiar o pecado é cobrí-lo, anulá-lo, para que possa haver reconciliação com Deus. Em todos os sacrifícios de animais é relembrado que o salário do pecado é a morte (Rm 6:23); no sacrifício é feito ao animal, como representante,  aquilo que o ofertante merecia. O animal, porém deve ser escolhido entre os sem defeito, para salientar sua inocência no tocante ao pecado. Não foi o animal que cometeu o pecado, portanto não é o animal quem merecia morrer. Não há alternativa, ou o pecador morre ou alguém morre em seu lugar.  Quando uma alma pecar, por ignorância (Lv 4:2). Mesmo que a pessoa não soubesse que aquilo que fez era pecado, ainda assim será cobrada por Deus. Pelo fato de não conhecermos os mandamentos de Deus muitas vezes estamos pecando sem saber. Mas isso de forma alguma nos torna inocentes, a Lei de Deus foi quebrada da mesma forma e necessitamos dar satisfação a Deus. Entretanto, sempre foi impossível que o sangue dos touros e dos bodes tirasse os pecados (Hb 10:4). Os animais sacrificados não pertencem à mesma raça do pecador, eles também não têm mérito de obediência ativa à Lei para pagar pelos pecados, eles não tinham dignidade suficiente para serem mediadores entre Deus e homem. Eles eram apenas um símbolo que ensinava sobre o Sacrifício definitivo, a Oferta definitiva, a Mediação definitiva, que somente Cristo poderia realizar. Ainda assim, constituíam uma lição eloquente sobre a seriedade do pecado – ele precisa ser pago, o seu preço – a morte, a sua solução – o sacrifício de um substituto inocente. Você se incomoda com a morte de um filhote de boi (novilho)? Consegue imaginar a cena sabendo que ele morre por sua causa? Muito mais deveríamos nos incomodar com a morte de Cristo ter ocorrido por nossa causa, a ponto de não querermos pecar mais, e lutarmos até o fim da vida contra os nossos pecados, que mataram a Cristo! Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou (2Co 5:17).



                Lv 5 – Oferta de expiação da culpa (Lv 5:19) - Representa a redenção diante de Deus. Redimir é resgatar, pagar a dívida, pela redenção a justiça é satisfeita. Esta parece ser uma oferta igual à anterior mas se refere especificamente a pecados que requerem também restituição diante dos homens. Se alguém comete um crime contra a propriedade, contra a justiça ou contra a honra, a satisfação é devida nas duas esferas: ele tanto deve pagar a sua dívida com a sociedade, como deve acertar as contas com Deus. Nunca estará quite com Deus enquanto não tiver pagado o que deve aos outros, nem pode achar que por ter pagado o que deve, automaticamente estará perdoado por Deus. Arrependimento e restituição andam juntos, e ambos confirmam a sinceridade um do outro. O valor que foi retido ou roubado deve ser devolvido com acréscimo. O que foi dito de mentira deve ser esclarecido com a verdade. O que foi omitido quanto à justiça deve ser proclamado. Um exemplo dessa atitude temos em: e, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor... se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado (Lc 19:8). E uma exortação para essa prática temos em: Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil (Mt 5:23-26).



Lv 6:1-7 – Oferta de expiação da culpa: a restituição das defraudações. Quando alguma pessoa pecar, e transgredir contra o SENHOR (Lv 6:2). É interessante como o roubar, deixar de devolver o que foi emprestado ou encontrado, são coisas que prejudicam o nosso próximo, e têm de ser restituídas prontamente, mas todas elas são aqui chamadas de transgredir contra o Senhor. Da mesma forma, quando Davi adulterou e ordenou a morte injusta de um homem, disse a Deus: contra Ti, contra Ti somente pequei, e fiz o que é mal à Tua vista (Sl 51:4), porque em primeiro lugar o mais ofendido é Deus, por causa da Sua absoluta santidade e soberania, e o mais prejudicado somos nós, por termos nos entregado ao pecado.



                Lv 6:8-7:38 – Os deveres dos sacerdotes sobre cada oferta. O fogo arderá continuamente sobre o altar; não se apagará (Lv 6:13). O fogo sobre o qual toda oferta devia ser feita era apenas e exclusivamente o fogo que Deus acenderia, um fogo do Céu. Deus vai ordenar que os sacerdotes tomem somente daquele fogo que veio de Deus, não de qualquer fogo fabricado pelas mãos humanas. Eles terão que manter aquele fogo aceso, o fogo que veio de Deus, durante todos os anos em que o tabernáculo existir, para que as ofertas ali sejam aceitas. Mesmo eles mudando de lugar, tinham que levar aquele fogo e não deixá-lo apagar. No Novo Testamento somos ordenados: não extingais o Espírito (1Ts 5:19). Se a obra de Deus não for feita pelo poder do Espírito Santo, nenhum recurso humano vai adiantar. O elemento divino, sobrenatural, espiritual dos trabalhos da igreja deve estar sempre presente, e colaboramos para Ele não se afastar de nós buscando-O todos os dias, cultivando a intimidade com Ele a todo o momento, como também se ordena: orai sem cessar (1Ts 5:17). Da mesma forma que o fogo que não poderia ser apagado, a nossa consagração deve ser mantida todos os dias da nossa vida, conosco alimentando aquela chama de devoção e piedade que veio de Deus no dia da nossa conversão.



                Lv 8 – A consagração do ministério sacerdotal. E Moisés fez chegar a Arão e a seus filhos, e os lavou com água (Lv 8:6). Arão e seus filhos deviam ser lavados com água para significar que deviam purificar-se de todas as disposições pecaminosas e manter-se sempre puros”[2]. Eles tinham um sacerdócio imperfeito porque eles tinham que fazer ofertas pelos seus próprios pecados (Lv 8:14). Com esse ritual tanto os sacerdotes quanto o povo são lembrados que são meros homens pecadores. Nunca homem algum foi digno de se aproximar de Deus; o propósito de Deus não era exaltá-los como se eles fossem mais santos que os outros, mas ensinar ao povo que eles precisavam de mediação. Quando o Mediador perfeito veio, Ele foi um tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus; (…) Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre (Hb 7:26-28).



                Lv 9 – A inauguração do ministério sacerdotal. E disse Moisés: Esta é a coisa que o SENHOR ordenou que fizésseis; e a glória do SENHOR vos aparecerá (…)  Depois Arão levantou as suas mãos ao povo e o abençoou; e desceu, havendo feito a expiação do pecado, e o holocausto, e a oferta pacífica. Então entraram Moisés e Arão na tenda da congregação; depois saíram, e abençoaram ao povo; e a glória do SENHOR apareceu a todo o povo. Porque o fogo saiu de diante do SENHOR, e consumiu o holocausto e a gordura, sobre o altar; o que vendo todo o povo, jubilaram e caíram sobre as suas faces (Lv 9:6,22-24). Com esse sinal, Deus aprovou o sacerdócio, o tabernáculo e culto, mandando o fogo do Céu para consumir as ofertas. Mas isso só porque seguiram exatamente o que foi ordenado. O selo de Deus vem sobre as consciências dos homens quando eles obedecem com fidelidade as ordens de Deus, dando o testemunho da paz, comunicando: “está tudo certo, Deus está aprovando as suas ações" (Rm 9:1). Todo o complicado rito de consagração de sete dias de duração comunicava a seriedade da distância que há entre a santidade de Deus e os homens pecadores. Sem os sacrifícios contínuos Deus não os aceitaria, para que ficasse claro que o problema do pecado não estava resolvido até que viesse o verdadeiro e perfeito Sacerdote, Jesus, o ministério perfeito e eterno para O qual este ministério imperfeito e temporário apontava (Hb 9).



                Lv 10 A profanação do ministério sacerdotal. Nadabe e Abiú, dois dos filhos de Arão que estavam sendo consagrados sacerdotes, resolveram acender incenso com um fogo diferente daquele que tinha descido do céu sobre o altar. Deus, porém não aceitou essa adoração e os queimou por causa desse fogo estranho, que não lhes ordenara (Lv 10:1). Moisés lembra de uma palavra de Deus, que Ele certamente seria santificado naqueles que se chegassem a Ele (Lv 10:3), ou seja, nenhuma pessoa pode se aproximar de Deus, a não ser da forma que Ele prescreveu. Fora do caminho que Deus ordena não há esperança de aceitação, somente há juízo e ira. Reparemos que eles morreram não porque fizeram algo proibido, mas porque fizeram algo que não havia sido ordenado. Deus não se sentiu honrado com a criatividade deles, mas condenou-a severamente.  Da mesma forma, não podemos executar os ministérios da igreja de forma diferente da prescrita por Deus, nem inventar novos ministérios e trabalhos. Tampouco podemos adorar a Deus em nossos próprios termos, criando novos tipos de atos de culto que Deus nunca prescreveu. Antes, tudo que o povo de Deus fizer enquanto ministério, deve ser detalhadamente fiel ao ordenado pela Escritura. Por exemplo, aprendemos do culto do Novo Testamento que ele é extremamente simples, sem imagens ou adereços visíveis, os salvos por Cristo se reúnem para orar (At 1:14, At 12:12), louvar (Cl 3:16), ouvir a leitura das Escrituras (1Tm 4:13) e as pregações e ensinos baseados nela (At 15:35; 2Tm 4:2), bem como recolher ofertas (1Co 16:2), celebrar a Ceia (1Co 10:16) e o Batismo (At 2:41). O que for acrescentado a isso não irá a agradar a Deus. Há uma diferença entre a igreja e o indivíduo. Enquanto o indivíduo pode fazer tudo que a Bíblia não proíbe, a igreja deve se limitar a fazer o que a Bíblia lhe ordena, pois recebeu uma missão, e precisa estar focada nela, e como vemos nesse episódio, Deus não aceita que cumpramos a missão de forma diferente da que Ele prescreveu.




[1]             Comentário de Mathew Henry.
[2]             Comentário de Mathew Henry.
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