Quer entender a Bíblia?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

As Leis da Adoração - Comentário de Levítico 1-10





LEIS DE ADORAÇÃO – Lv 1- 10. Antes da vinda de Cristo, aprouve a Deus ordenar a Seu povo que O servisse por meio do sistema altamente elaborado do culto oficiado por levitas e sacerdotes no Tabernáculo, e posteriormente no Templo. O livro de Levítico em sua seção inicial elabora as leis sobre os diferentes tipos de ofertas a serem oferecidas no altar de Deus: de holocausto, de alimentos, pacífica, pelo pecado e pela culpa. Sabemos pelo Novo Testamento que após o único e definitivo sacrifício de Cristo (Hb 10:12), oferecendo a Si mesmo pelos pecados do Seu povo (Hb 7:27), efetuando uma eterna redenção, por seu próprio sangue (Hb 9:12), tais ofertas não devem mais ser oferecidas literalmente. Elas eram apenas sombras da realidade que viria em Cristo (Cl 2:17). Se a realidade chegou, a sombra não é mais necessária. Entretanto, cada oferta ordenada no Antigo Testamento tinha o seu sentido espiritual peculiar, seja como instruções sobre adoração e piedade, seja como revelações das obras salvadoras de Cristo. Assim, na expectativa de ser instruído no seu relacionamento com Deus pelo significado espiritual dessas ofertas é que o cristão de hoje se aproxima destes textos.



                Lv 1 – Oferta de Holocausto (Lv 1:3) –  Representa a consagração integral da vida a Deus. Eram ofertas voluntárias de bois ou ovelhas, que após serem sacrificados, deviam ser totalmente queimados no altar. Nenhuma parte deles eram consumidas nem pelo ofertante, nem pelos sacerdotes, mas todo o corpo, representativamente, ao ser queimado, subia para Deus por meio da fumaça. De sua própria vontade (Lv 1:2). Aqui o ofertante expontâneamente trazia o seu holocausto como símbolo da sua intenção e declaração de consagração total a Deus. Esta oferta requeria a voluntariedade. Ainda que nós nos entregamos a Deus por Sua ordem, Deus quer que nossa vontade participe ativamente disto, para que seja uma entrega completa e sincera. A lealdade a Deus e apego a Ele deve vir do coração. Tudo isso queimará sobre o altar (Lv 1:9). Tal como nenhuma parte do corpo do holocausto deixava de ser consumida pelo fogo, e não se usava para nenhum outro propósito, a não ser para subir a Deus por meio da fumaça em cheiro suave,  nenhuma parte da nossa vida deve ficar de fora da consagração a Deus. Em todas as àreas, seja na família, trabalho, igreja, amizades, seja nos hábitos, obras, lazer, costumes, seja o corpo, seja a mente, seja a alma, tudo deve ser consagrado a Deus, e feito conforme a Sua vontade.  Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus (1Co 10:31). Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus (Rm 12:1,2). Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus (1Co 6:20).



                Lv 2 – Oferta de Alimentos (Lv 2:1) – Representa a gratidão a Deus. Uma pequena amostra da colheita, os primeiros frutos dela, são trazidos para o altar. Uma parte é queimada, a outra fica para o sacerdote. É feita de forma a reconhecer que todos os nossos bens, inclusive o fruto do nosso trabalho, vieram de Deus, por isso Lhe entregamos uma parte como tributo e honra ao nosso Divino Provedor. Deve ter sido o tipo de oferta que Caim ofereceu. O erro de Caim foi ter dado frutos ao cabo de dias (Gn 4:3) ou seja, ele demorou muito a entregar sua oferta, de maneira que as frutas colhidas podia estar já a estragar-se, ele as deu por último, consumiu primeiro, e depois lembrou de prestar tributo a Deus, estava dando um resto que não valeria nada para ele, por tudo isso a oferta de Caim não foi aceita por Deus. Ainda hoje o povo de Deus pode oferecer corretamente esse tipo de oferta, um tributo da provisão que Deus lhes dá. Aqui aprendemos como é importante que se lembre e se separe primeiro o oferecimento a Deus, para depois nós usufruímos do fruto do nosso trabalho. Da mesma forma, como naquelas ofertas os sacerdotes tiravam para sustento de si e de suas famílias, hoje também uma parte do fruto do nosso trabalho deve sustentar os ministros de Deus: Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de contínuo estão junto ao altar, participam do altar? Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho (1Co 9:13,14). Para esse tipo de oferta ainda temos a promessa: honra ao SENHOR com os teus bens, e com a primeira parte de todos os teus ganhos; e se encherão os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares (Pv 3:9,10).



                Lv 3 – Oferta de Sacrifício pacífico (Lv 3:1) – Representa a comunhão com Deus.  Um animal é trazido como símbolo da paz com Deus, seja a paz celebrada ou desejada. Nessa oferta o animal era assado e dividido em três partes, uma queimada para Deus, outra para o sacerdote, outra para o próprio ofertante comer ali mesmo diante do altar. “Era como se Deus e seu povo celebrassem juntos, em sinal de amizade. As ofertas de paz se ofereciam a título de súplica. Se um homem andava a procura de alguma misericórdia, agregava por isso uma oferta de paz a sua oração. Cristo é a nossa Paz, nossa oferta de Paz; pois por seu único intermédio podemos obter uma resposta de paz a nossas orações. Também, a oferta de paz era apresentada a modo de ação de graças por alguma misericórdia recebida”[1]. Nos dias de hoje pode ser comparada à Ceia do Senhor, na qual celebramos a morte de Cristo, que nos trouxe paz com Deus (Rm 5:1), e a comunhão com o Seu povo, o Seu corpo, formado por todos que hoje usufruem da mesma paz com Deus. Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão (1Co 10:16-17).



                Lv 4  - A oferta pelo pecado – Representa a expiação diante de Deus. Um animal é sacrificado como pedido de expiação do pecado. Expiar o pecado é cobrí-lo, anulá-lo, para que possa haver reconciliação com Deus. Em todos os sacrifícios de animais é relembrado que o salário do pecado é a morte (Rm 6:23); no sacrifício é feito ao animal, como representante,  aquilo que o ofertante merecia. O animal, porém deve ser escolhido entre os sem defeito, para salientar sua inocência no tocante ao pecado. Não foi o animal que cometeu o pecado, portanto não é o animal quem merecia morrer. Não há alternativa, ou o pecador morre ou alguém morre em seu lugar.  Quando uma alma pecar, por ignorância (Lv 4:2). Mesmo que a pessoa não soubesse que aquilo que fez era pecado, ainda assim será cobrada por Deus. Pelo fato de não conhecermos os mandamentos de Deus muitas vezes estamos pecando sem saber. Mas isso de forma alguma nos torna inocentes, a Lei de Deus foi quebrada da mesma forma e necessitamos dar satisfação a Deus. Entretanto, sempre foi impossível que o sangue dos touros e dos bodes tirasse os pecados (Hb 10:4). Os animais sacrificados não pertencem à mesma raça do pecador, eles também não têm mérito de obediência ativa à Lei para pagar pelos pecados, eles não tinham dignidade suficiente para serem mediadores entre Deus e homem. Eles eram apenas um símbolo que ensinava sobre o Sacrifício definitivo, a Oferta definitiva, a Mediação definitiva, que somente Cristo poderia realizar. Ainda assim, constituíam uma lição eloquente sobre a seriedade do pecado – ele precisa ser pago, o seu preço – a morte, a sua solução – o sacrifício de um substituto inocente. Você se incomoda com a morte de um filhote de boi (novilho)? Consegue imaginar a cena sabendo que ele morre por sua causa? Muito mais deveríamos nos incomodar com a morte de Cristo ter ocorrido por nossa causa, a ponto de não querermos pecar mais, e lutarmos até o fim da vida contra os nossos pecados, que mataram a Cristo! Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou (2Co 5:17).



                Lv 5 – Oferta de expiação da culpa (Lv 5:19) - Representa a redenção diante de Deus. Redimir é resgatar, pagar a dívida, pela redenção a justiça é satisfeita. Esta parece ser uma oferta igual à anterior mas se refere especificamente a pecados que requerem também restituição diante dos homens. Se alguém comete um crime contra a propriedade, contra a justiça ou contra a honra, a satisfação é devida nas duas esferas: ele tanto deve pagar a sua dívida com a sociedade, como deve acertar as contas com Deus. Nunca estará quite com Deus enquanto não tiver pagado o que deve aos outros, nem pode achar que por ter pagado o que deve, automaticamente estará perdoado por Deus. Arrependimento e restituição andam juntos, e ambos confirmam a sinceridade um do outro. O valor que foi retido ou roubado deve ser devolvido com acréscimo. O que foi dito de mentira deve ser esclarecido com a verdade. O que foi omitido quanto à justiça deve ser proclamado. Um exemplo dessa atitude temos em: e, levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor... se nalguma coisa tenho defraudado alguém, o restituo quadruplicado (Lc 19:8). E uma exortação para essa prática temos em: Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil (Mt 5:23-26).



Lv 6:1-7 – Oferta de expiação da culpa: a restituição das defraudações. Quando alguma pessoa pecar, e transgredir contra o SENHOR (Lv 6:2). É interessante como o roubar, deixar de devolver o que foi emprestado ou encontrado, são coisas que prejudicam o nosso próximo, e têm de ser restituídas prontamente, mas todas elas são aqui chamadas de transgredir contra o Senhor. Da mesma forma, quando Davi adulterou e ordenou a morte injusta de um homem, disse a Deus: contra Ti, contra Ti somente pequei, e fiz o que é mal à Tua vista (Sl 51:4), porque em primeiro lugar o mais ofendido é Deus, por causa da Sua absoluta santidade e soberania, e o mais prejudicado somos nós, por termos nos entregado ao pecado.



                Lv 6:8-7:38 – Os deveres dos sacerdotes sobre cada oferta. O fogo arderá continuamente sobre o altar; não se apagará (Lv 6:13). O fogo sobre o qual toda oferta devia ser feita era apenas e exclusivamente o fogo que Deus acenderia, um fogo do Céu. Deus vai ordenar que os sacerdotes tomem somente daquele fogo que veio de Deus, não de qualquer fogo fabricado pelas mãos humanas. Eles terão que manter aquele fogo aceso, o fogo que veio de Deus, durante todos os anos em que o tabernáculo existir, para que as ofertas ali sejam aceitas. Mesmo eles mudando de lugar, tinham que levar aquele fogo e não deixá-lo apagar. No Novo Testamento somos ordenados: não extingais o Espírito (1Ts 5:19). Se a obra de Deus não for feita pelo poder do Espírito Santo, nenhum recurso humano vai adiantar. O elemento divino, sobrenatural, espiritual dos trabalhos da igreja deve estar sempre presente, e colaboramos para Ele não se afastar de nós buscando-O todos os dias, cultivando a intimidade com Ele a todo o momento, como também se ordena: orai sem cessar (1Ts 5:17). Da mesma forma que o fogo que não poderia ser apagado, a nossa consagração deve ser mantida todos os dias da nossa vida, conosco alimentando aquela chama de devoção e piedade que veio de Deus no dia da nossa conversão.



                Lv 8 – A consagração do ministério sacerdotal. E Moisés fez chegar a Arão e a seus filhos, e os lavou com água (Lv 8:6). Arão e seus filhos deviam ser lavados com água para significar que deviam purificar-se de todas as disposições pecaminosas e manter-se sempre puros”[2]. Eles tinham um sacerdócio imperfeito porque eles tinham que fazer ofertas pelos seus próprios pecados (Lv 8:14). Com esse ritual tanto os sacerdotes quanto o povo são lembrados que são meros homens pecadores. Nunca homem algum foi digno de se aproximar de Deus; o propósito de Deus não era exaltá-los como se eles fossem mais santos que os outros, mas ensinar ao povo que eles precisavam de mediação. Quando o Mediador perfeito veio, Ele foi um tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus; (…) Porque a lei constitui sumos sacerdotes a homens fracos, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao Filho, perfeito para sempre (Hb 7:26-28).



                Lv 9 – A inauguração do ministério sacerdotal. E disse Moisés: Esta é a coisa que o SENHOR ordenou que fizésseis; e a glória do SENHOR vos aparecerá (…)  Depois Arão levantou as suas mãos ao povo e o abençoou; e desceu, havendo feito a expiação do pecado, e o holocausto, e a oferta pacífica. Então entraram Moisés e Arão na tenda da congregação; depois saíram, e abençoaram ao povo; e a glória do SENHOR apareceu a todo o povo. Porque o fogo saiu de diante do SENHOR, e consumiu o holocausto e a gordura, sobre o altar; o que vendo todo o povo, jubilaram e caíram sobre as suas faces (Lv 9:6,22-24). Com esse sinal, Deus aprovou o sacerdócio, o tabernáculo e culto, mandando o fogo do Céu para consumir as ofertas. Mas isso só porque seguiram exatamente o que foi ordenado. O selo de Deus vem sobre as consciências dos homens quando eles obedecem com fidelidade as ordens de Deus, dando o testemunho da paz, comunicando: “está tudo certo, Deus está aprovando as suas ações" (Rm 9:1). Todo o complicado rito de consagração de sete dias de duração comunicava a seriedade da distância que há entre a santidade de Deus e os homens pecadores. Sem os sacrifícios contínuos Deus não os aceitaria, para que ficasse claro que o problema do pecado não estava resolvido até que viesse o verdadeiro e perfeito Sacerdote, Jesus, o ministério perfeito e eterno para O qual este ministério imperfeito e temporário apontava (Hb 9).



                Lv 10 A profanação do ministério sacerdotal. Nadabe e Abiú, dois dos filhos de Arão que estavam sendo consagrados sacerdotes, resolveram acender incenso com um fogo diferente daquele que tinha descido do céu sobre o altar. Deus, porém não aceitou essa adoração e os queimou por causa desse fogo estranho, que não lhes ordenara (Lv 10:1). Moisés lembra de uma palavra de Deus, que Ele certamente seria santificado naqueles que se chegassem a Ele (Lv 10:3), ou seja, nenhuma pessoa pode se aproximar de Deus, a não ser da forma que Ele prescreveu. Fora do caminho que Deus ordena não há esperança de aceitação, somente há juízo e ira. Reparemos que eles morreram não porque fizeram algo proibido, mas porque fizeram algo que não havia sido ordenado. Deus não se sentiu honrado com a criatividade deles, mas condenou-a severamente.  Da mesma forma, não podemos executar os ministérios da igreja de forma diferente da prescrita por Deus, nem inventar novos ministérios e trabalhos. Tampouco podemos adorar a Deus em nossos próprios termos, criando novos tipos de atos de culto que Deus nunca prescreveu. Antes, tudo que o povo de Deus fizer enquanto ministério, deve ser detalhadamente fiel ao ordenado pela Escritura. Por exemplo, aprendemos do culto do Novo Testamento que ele é extremamente simples, sem imagens ou adereços visíveis, os salvos por Cristo se reúnem para orar (At 1:14, At 12:12), louvar (Cl 3:16), ouvir a leitura das Escrituras (1Tm 4:13) e as pregações e ensinos baseados nela (At 15:35; 2Tm 4:2), bem como recolher ofertas (1Co 16:2), celebrar a Ceia (1Co 10:16) e o Batismo (At 2:41). O que for acrescentado a isso não irá a agradar a Deus. Há uma diferença entre a igreja e o indivíduo. Enquanto o indivíduo pode fazer tudo que a Bíblia não proíbe, a igreja deve se limitar a fazer o que a Bíblia lhe ordena, pois recebeu uma missão, e precisa estar focada nela, e como vemos nesse episódio, Deus não aceita que cumpramos a missão de forma diferente da que Ele prescreveu.




[1]             Comentário de Mathew Henry.
[2]             Comentário de Mathew Henry.

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...