LEIS DE ADORAÇÃO – Lv 1- 10. Antes da vinda de
Cristo, aprouve a Deus ordenar a Seu povo que O servisse por meio do sistema
altamente elaborado do culto oficiado por levitas e sacerdotes no Tabernáculo,
e posteriormente no Templo. O livro de Levítico em sua seção inicial elabora as
leis sobre os diferentes tipos de ofertas a serem oferecidas no altar de Deus:
de holocausto, de alimentos, pacífica, pelo pecado e pela culpa. Sabemos pelo
Novo Testamento que após o único e definitivo sacrifício de Cristo (Hb
10:12), oferecendo a Si mesmo pelos pecados do Seu povo (Hb 7:27),
efetuando uma eterna redenção, por seu próprio sangue (Hb
9:12), tais ofertas não devem mais ser oferecidas
literalmente. Elas eram apenas sombras da realidade que viria em Cristo (Cl
2:17). Se a realidade chegou, a sombra não é mais necessária. Entretanto,
cada oferta ordenada no Antigo Testamento tinha o seu sentido espiritual
peculiar, seja como instruções sobre adoração e piedade, seja como revelações
das obras salvadoras de Cristo. Assim, na expectativa de ser instruído no seu
relacionamento com Deus pelo significado espiritual dessas ofertas é que o
cristão de hoje se aproxima destes textos.
Lv 1 –
Oferta de Holocausto (Lv 1:3) – Representa a consagração
integral da vida a Deus. Eram ofertas voluntárias de bois ou ovelhas, que
após serem sacrificados, deviam ser totalmente queimados no altar. Nenhuma
parte deles eram consumidas nem pelo ofertante, nem pelos sacerdotes, mas todo
o corpo, representativamente, ao ser queimado, subia para Deus por meio da
fumaça. De sua própria vontade (Lv 1:2). Aqui o ofertante expontâneamente trazia o seu holocausto como símbolo da
sua intenção e declaração de consagração total a Deus. Esta oferta requeria a
voluntariedade. Ainda que nós nos entregamos a Deus por Sua ordem, Deus quer
que nossa vontade participe ativamente disto, para que seja uma entrega
completa e sincera. A lealdade a Deus e apego a Ele deve vir do coração. Tudo
isso queimará sobre o altar (Lv 1:9). Tal como nenhuma parte do corpo do
holocausto deixava de ser consumida pelo fogo, e não se usava para nenhum outro
propósito, a não ser para subir a Deus por meio da fumaça em cheiro suave, nenhuma parte da nossa vida deve ficar de fora
da consagração a Deus. Em todas as àreas, seja na família, trabalho, igreja,
amizades, seja nos hábitos, obras, lazer, costumes, seja o corpo, seja a mente,
seja a alma, tudo deve ser consagrado a Deus, e feito conforme a Sua vontade. Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei
tudo para glória de Deus (1Co 10:31). Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de
Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas
sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis
qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus (Rm 12:1,2). Porque
fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no
vosso espírito, os quais pertencem a Deus (1Co 6:20).
Lv 2 – Oferta de
Alimentos (Lv 2:1) –
Representa a gratidão a Deus. Uma pequena amostra da colheita, os
primeiros frutos dela, são trazidos para o altar. Uma parte é queimada, a outra
fica para o sacerdote. É feita de forma a reconhecer que todos os nossos bens,
inclusive o fruto do nosso trabalho, vieram de Deus, por isso Lhe entregamos
uma parte como tributo e honra ao nosso Divino Provedor. Deve ter sido o tipo
de oferta que Caim ofereceu. O erro de Caim foi ter dado frutos ao cabo de
dias (Gn 4:3) ou seja, ele demorou
muito a entregar sua oferta, de maneira que as frutas colhidas podia estar já a
estragar-se, ele as deu por último, consumiu primeiro, e depois lembrou de
prestar tributo a Deus, estava dando um resto que não valeria nada para ele,
por tudo isso a oferta de Caim não foi aceita por Deus. Ainda hoje o povo de
Deus pode oferecer corretamente esse tipo de oferta, um tributo da provisão que
Deus lhes dá. Aqui aprendemos como é importante que se lembre e se separe
primeiro o oferecimento a Deus, para depois nós usufruímos do fruto do nosso
trabalho. Da mesma forma, como naquelas ofertas os sacerdotes tiravam para
sustento de si e de suas famílias, hoje também uma parte do fruto do nosso
trabalho deve sustentar os ministros de Deus: Não sabeis vós que os
que administram o que é sagrado comem do que é do templo? E que os que de
contínuo estão junto ao altar, participam do altar? Assim ordenou também o
Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho (1Co 9:13,14). Para esse tipo de oferta ainda temos a promessa: honra
ao SENHOR com os teus bens, e com a primeira parte de todos os teus ganhos; e
se encherão os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares (Pv
3:9,10).
Lv
3 – Oferta de Sacrifício pacífico (Lv 3:1) – Representa a comunhão
com Deus. Um animal é trazido como
símbolo da paz com Deus, seja a paz celebrada ou desejada. Nessa oferta o
animal era assado e dividido em três partes, uma queimada para Deus, outra para
o sacerdote, outra para o próprio ofertante comer ali mesmo diante do altar.
“Era como se Deus e seu povo celebrassem juntos, em sinal de amizade. As
ofertas de paz se ofereciam a título de súplica. Se um homem andava a procura
de alguma misericórdia, agregava por isso uma oferta de paz a sua oração.
Cristo é a nossa Paz, nossa oferta de Paz; pois por seu único intermédio
podemos obter uma resposta de paz a nossas orações. Também, a oferta de paz era
apresentada a modo de ação de graças por alguma misericórdia recebida”[1].
Nos dias de hoje pode ser comparada à Ceia do Senhor, na qual celebramos a
morte de Cristo, que nos trouxe paz com Deus (Rm 5:1), e a comunhão com o Seu
povo, o Seu corpo, formado por todos que hoje usufruem da mesma paz com Deus. Porventura
o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão
que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo
muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão
(1Co 10:16-17).
Lv 4 - A
oferta pelo pecado – Representa a expiação diante de Deus. Um
animal é sacrificado como pedido de expiação do pecado. Expiar o pecado é
cobrí-lo, anulá-lo, para que possa haver reconciliação com Deus. Em todos os
sacrifícios de animais é relembrado que o salário do pecado é a morte (Rm
6:23); no sacrifício é feito ao animal, como representante, aquilo que o ofertante merecia. O animal,
porém deve ser escolhido entre os sem defeito, para salientar sua inocência no
tocante ao pecado. Não foi o animal que cometeu o pecado, portanto não é o
animal quem merecia morrer. Não há alternativa, ou o pecador morre ou alguém
morre em seu lugar. Quando uma alma
pecar, por ignorância (Lv 4:2). Mesmo
que a pessoa não soubesse que aquilo que fez era pecado, ainda assim será
cobrada por Deus. Pelo fato de não conhecermos os mandamentos de Deus muitas
vezes estamos pecando sem saber. Mas isso de forma alguma nos torna inocentes,
a Lei de Deus foi quebrada da mesma forma e necessitamos dar satisfação a Deus.
Entretanto, sempre foi impossível que o sangue dos touros e dos bodes tirasse os pecados (Hb 10:4). Os animais sacrificados não
pertencem à mesma raça do pecador, eles também não têm mérito de obediência
ativa à Lei para pagar pelos pecados, eles não tinham dignidade suficiente para
serem mediadores entre Deus e homem. Eles eram apenas um símbolo que ensinava
sobre o Sacrifício definitivo, a Oferta definitiva, a Mediação definitiva, que
somente Cristo poderia realizar. Ainda assim, constituíam uma lição eloquente
sobre a seriedade do pecado – ele precisa ser pago, o seu preço – a morte, a
sua solução – o sacrifício de um substituto inocente. Você se incomoda com a
morte de um filhote de boi (novilho)? Consegue imaginar a cena sabendo que ele
morre por sua causa? Muito mais deveríamos nos incomodar com a morte de Cristo
ter ocorrido por nossa causa, a ponto de não querermos pecar mais, e lutarmos
até o fim da vida contra os nossos pecados, que mataram a Cristo! Porque o
amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos,
logo todos morreram. E Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam
mais para si, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou (2Co 5:17).
Lv
5 – Oferta de expiação da culpa
(Lv 5:19) - Representa a redenção
diante de Deus. Redimir é resgatar, pagar a dívida, pela redenção a justiça
é satisfeita. Esta parece ser uma oferta igual à anterior mas se refere
especificamente a pecados que requerem também restituição diante dos homens. Se
alguém comete um crime contra a propriedade, contra a justiça ou contra a
honra, a satisfação é devida nas duas esferas: ele tanto deve pagar a sua
dívida com a sociedade, como deve acertar as contas com Deus. Nunca estará
quite com Deus enquanto não tiver pagado o que deve aos outros, nem pode achar
que por ter pagado o que deve, automaticamente estará perdoado por Deus.
Arrependimento e restituição andam juntos, e ambos confirmam a sinceridade um
do outro. O valor que foi retido ou roubado deve ser devolvido com acréscimo. O
que foi dito de mentira deve ser esclarecido com a verdade. O que foi omitido
quanto à justiça deve ser proclamado. Um exemplo dessa atitude temos em: e,
levantando-se Zaqueu, disse ao Senhor... se nalguma coisa tenho defraudado
alguém, o restituo quadruplicado (Lc 19:8). E uma exortação para essa
prática temos em: Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te
lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do
altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem
e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto
estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao
juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te
digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil
(Mt 5:23-26).
Lv 6:1-7 – Oferta de expiação da culpa: a restituição das defraudações.
Quando alguma pessoa pecar, e transgredir contra o SENHOR (Lv 6:2). É
interessante como o roubar, deixar de devolver o que foi emprestado ou
encontrado, são coisas que prejudicam o nosso próximo, e têm de ser restituídas
prontamente, mas todas elas são aqui chamadas de transgredir contra o
Senhor. Da mesma forma, quando Davi adulterou e ordenou a morte injusta de
um homem, disse a Deus: contra Ti, contra Ti somente pequei, e fiz o que é
mal à Tua vista (Sl 51:4), porque em primeiro lugar o mais ofendido é Deus,
por causa da Sua absoluta santidade e soberania, e o mais prejudicado somos
nós, por termos nos entregado ao pecado.
Lv 6:8-7:38 – Os deveres dos sacerdotes sobre
cada oferta. O fogo arderá
continuamente sobre o altar; não se apagará (Lv 6:13). O fogo sobre o qual toda oferta devia ser
feita era apenas e exclusivamente o fogo que Deus acenderia, um fogo do Céu.
Deus vai ordenar que os sacerdotes tomem somente daquele fogo que veio de Deus,
não de qualquer fogo fabricado pelas mãos humanas. Eles terão que manter aquele
fogo aceso, o fogo que veio de Deus, durante todos os anos em que o tabernáculo
existir, para que as ofertas ali sejam aceitas. Mesmo eles mudando de lugar,
tinham que levar aquele fogo e não deixá-lo apagar. No Novo Testamento somos
ordenados: não extingais o Espírito (1Ts 5:19). Se a obra de Deus não for feita pelo poder do Espírito Santo, nenhum
recurso humano vai adiantar. O elemento divino, sobrenatural, espiritual dos
trabalhos da igreja deve estar sempre presente, e colaboramos para Ele não se
afastar de nós buscando-O todos os dias, cultivando a intimidade com Ele a todo
o momento, como também se ordena: orai sem cessar (1Ts 5:17). Da mesma forma que o fogo que não poderia ser
apagado, a nossa consagração deve ser mantida todos os dias da nossa vida,
conosco alimentando aquela chama de devoção e piedade que veio de Deus no dia
da nossa conversão.
Lv 8 – A consagração do ministério sacerdotal. E Moisés fez chegar a
Arão e a seus filhos, e os lavou com água (Lv 8:6). “Arão e seus filhos deviam ser lavados com água
para significar que deviam purificar-se de todas as disposições pecaminosas e
manter-se sempre puros”[2].
Eles tinham um sacerdócio imperfeito porque eles tinham que fazer ofertas pelos
seus próprios pecados (Lv 8:14). Com esse ritual tanto os sacerdotes
quanto o povo são lembrados que são meros homens pecadores. Nunca homem algum
foi digno de se aproximar de Deus; o propósito de Deus não era exaltá-los como
se eles fossem mais santos que os outros, mas ensinar ao povo que eles
precisavam de mediação. Quando o Mediador perfeito veio, Ele foi um tal
sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito
mais sublime do que os céus; (…) Porque a lei constitui sumos sacerdotes a
homens fracos, mas a palavra do juramento, que veio depois da lei, constitui ao
Filho, perfeito para sempre (Hb 7:26-28).
Lv 9 – A
inauguração do ministério sacerdotal. E disse Moisés: Esta é a coisa que
o SENHOR ordenou que fizésseis; e a glória do SENHOR vos aparecerá (…) Depois Arão levantou as suas mãos ao povo e o
abençoou; e desceu, havendo feito a expiação do pecado, e o holocausto, e a
oferta pacífica. Então entraram Moisés e Arão na tenda da congregação; depois
saíram, e abençoaram ao povo; e a glória do SENHOR apareceu a todo o povo.
Porque o fogo saiu de diante do SENHOR, e consumiu o holocausto e a gordura,
sobre o altar; o que vendo todo o povo, jubilaram e caíram sobre as suas faces
(Lv 9:6,22-24). Com esse sinal, Deus aprovou o
sacerdócio, o tabernáculo e culto, mandando o fogo do Céu para consumir as
ofertas. Mas isso só porque seguiram exatamente o que foi ordenado. O selo de
Deus vem sobre as consciências dos homens quando eles obedecem com fidelidade
as ordens de Deus, dando o testemunho da paz, comunicando: “está tudo certo,
Deus está aprovando as suas ações" (Rm 9:1). Todo o complicado rito de
consagração de sete dias de duração comunicava a seriedade da distância que há
entre a santidade de Deus e os homens pecadores. Sem os sacrifícios contínuos
Deus não os aceitaria, para que ficasse claro que o problema do pecado não
estava resolvido até que viesse o verdadeiro e perfeito Sacerdote, Jesus, o
ministério perfeito e eterno para O qual este ministério imperfeito e
temporário apontava (Hb 9).
Lv 10 – A profanação do ministério sacerdotal.
Nadabe e Abiú, dois dos filhos de Arão que estavam sendo consagrados
sacerdotes, resolveram acender incenso com um fogo diferente daquele que tinha
descido do céu sobre o altar. Deus, porém não aceitou essa adoração e os
queimou por causa desse fogo estranho, que não lhes ordenara (Lv
10:1). Moisés lembra de uma palavra de Deus, que Ele certamente seria
santificado naqueles que se chegassem a Ele (Lv 10:3), ou seja, nenhuma pessoa pode
se aproximar de Deus, a não ser da forma que Ele prescreveu. Fora do caminho
que Deus ordena não há esperança de aceitação, somente há juízo e ira.
Reparemos que eles morreram não porque fizeram algo proibido, mas porque
fizeram algo que não havia sido ordenado. Deus não se sentiu honrado com a
criatividade deles, mas condenou-a severamente.
Da mesma forma, não podemos executar os ministérios da igreja de forma
diferente da prescrita por Deus, nem inventar novos ministérios e trabalhos.
Tampouco podemos adorar a Deus em nossos próprios termos, criando novos tipos
de atos de culto que Deus nunca prescreveu. Antes, tudo que o povo de Deus
fizer enquanto ministério, deve ser detalhadamente fiel ao ordenado pela
Escritura. Por exemplo, aprendemos do culto do Novo Testamento que ele é
extremamente simples, sem imagens ou adereços visíveis, os salvos por Cristo se
reúnem para orar (At 1:14, At 12:12), louvar (Cl 3:16), ouvir a
leitura das Escrituras (1Tm 4:13) e as pregações e ensinos baseados nela
(At 15:35; 2Tm 4:2), bem como recolher ofertas (1Co 16:2),
celebrar a Ceia (1Co 10:16) e o Batismo (At 2:41). O que for
acrescentado a isso não irá a agradar a Deus. Há uma diferença entre a igreja e
o indivíduo. Enquanto o indivíduo pode fazer tudo que a Bíblia não proíbe, a
igreja deve se limitar a fazer o que a Bíblia lhe ordena, pois recebeu uma
missão, e precisa estar focada nela, e como vemos nesse episódio, Deus não
aceita que cumpramos a missão de forma diferente da que Ele prescreveu.
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