LEIS DE
PUREZA – Lv 11-15 – Enfatizam o quanto a santidade que Deus tem requer
que o Seu povo se santifique igualmente. Elas são explicadas com a ordem: sereis
santos, porque Eu sou santo (Lv 11:44). Isto é, a santidade que Deus nos
ordena não tem implicações somente espirituais, éticas, religiosas, filosóficas
etc, mas é também santidade física e concreta – separação da sujeira, da
contaminação e das doenças, higiene pessoal, cuidados com a saúde do corpo, com
a limpeza física dos ambientes e com a alimentação. Estas leis revelam que a
imundícia física e o desleixo com a saúde também são pecados – o homem bom
cuida bem de si mesmo – Pv 11:17. Aos
olhos de Deus, sujeira, contaminação e desleixo são pecado, ao contrário
da limpeza higiene e saúde, que são virtudes. Porém, da mesma forma como as ofertas cerimoniais, a literalidade
destes mandamentos não é aplicável, uma vez que eles foram contextualizados
naquele ministério sacerdotal que não mais existe. Porém a intenção geral
destes, tanto moral como física, bem como o seu sentido espiritual, permanecem
para orientar o nosso proceder. Ora, amados, pois que temos tais promessas,
purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a
santificação no temor de Deus (2Co 7:1).
Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso
corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus (1Co 6:20).
Lv 11 – A lei dos
animais. Deus coloca várias restrições
alimentícias para o povo de Israel. Entretanto, para os gentios, desde o
Dilúvio valia a lei de que se podia comer qualquer animal - tudo quanto se
move, que é vivente, será para vosso mantimento; tudo vos tenho dado como a
erva verde (Gn 9:3). De maneira que esta lei alimentícia era antes de tudo
um sinal de separação de Israel em relação a outros povos. Tão certo é isso,
que quando o Senhor vai ensinar a Pedro que Ele salva gentios sem que eles
precisem se tornar judeus, Ele o faz ordenando Pedro comer de todo tipo de
animal que há no mundo (At 10:1-28). Quando Cristo veio, e de ambos os
povos fez um; derrubando a parede de separação que estava no meio (Ef 2:14), essas
leis não são mais obrigatórias, como Paulo ensina: Porque toda a criatura de
Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças.
Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificada (1Tm 4:4,5). Em
Cristo Deus já está se reconciliando com o mundo e com Sua Criação, de forma
que esse sinal de separação não é mais obrigatório. Assim a observância destas
restrições é opcional, a não ser por amor a um cristão que poderia
escandalizar-se (1Co 8). Entretanto a intenção geral de que nos
importemos e selecionemos bem a nossa alimentação continua valendo. Santificar
nosso corpo deve incluir o abster-se de todo o tipo de alimentação que
soubermos que irá prejudicar a nossa saúde, seja em termos de conteúdo, pureza,
quantidade e modo como nos alimentamos.
Lv 12 – A lei da
que der à luz. Se uma mulher tivesse um
filho homem, deveria ficar separada 7 dias, circuncidando-o ao oitavo dia, e
depois mais 33 dias. Se tivesse filha mulher deveria ficar separada 14 dias,
mais 66 dias. Esse dobro de tempo no tocante ao sexo feminino é
justificado como uma compensação pelo fato da circuncisão ter sido ordenada
somente aos meninos. Assim a filha do sexo feminino fica mais tempo separada
como rito de consagração equivalente à circuncisão dos homens. O pecado que
deve ser expiado pelas ofertas se refere a duas coisas – a purificação física
do contato com sangue e fluidos, e espiritualmente o fato de que se trouxe mais
um pecador ao mundo – não que o ter filhos seja desestimulado, pelo contrário,
é ordenado ao povo de Deus que tenham muitos filhos (Sl 127:5, Jr 29:6, Gn
9:7), mas que o problema do pecado que nossos filhos trazem mesmo na
essência de sua natureza (Rm 5:12; Sl 51:5) seja reconhecido e tratado
adequadamente o mais cedo possível, apresentando-os ao Único que pode tirar os
pecados deles –Jesus (Mc 10:14, Mt 1:21).
Lv 13 – A lei da praga da lepra: O diagnóstico. Sob o nome de lepra,
parecem estar incluídos vários tipos de infecções, não só da doença hoje
chamada de hanseníase, mas de micoses e doenças de pele, bem como de
infestações de fungos nas casas e nos objetos. Todo caso suspeito demandava o
isolamento, para evitar a contaminação de todo o arraial de Israel. O doente
deve ele próprio tomar precaução para não contaminar aos outros, e voluntariamente evitar todo contato. Não
queremos para ninguém o mal que estamos sofrendo.
Lv 14 – A lei do leproso: A purificação. Na
purificação de um leproso que tivesse sido curado, duas aves eram ofertadas,
uma era morta como símbolo da purificação, mas outra era solta, como símbolo da
liberdade, do fim do isolamento do doente. A cura de alguém deve ser celebrada
com ação de graças a Deus e adoração a Deus, pela Graça dEle ter se compadecido
do doente e o restaurado. Não sejamos ingratos como os nove leprosos que não
agradeceram a Cristo.
Lv 15 –
A lei daquele que tem fluxo. Aqui se ensina como lidar com diversos fluidos
do corpo, sejam de emissão mórbida, acidental ou regular, de forma a não
promover a contaminação por doenças. Em todos os casos inclui-se a lavagem, a
separação dos objetos contaminados, e o evitar que outras pessoas entre em
contato com o fluxo. Deus nos ordena o zêlo pela higiene do nosso corpo,
ensinando que o desleixo nessa área também é pecado.
LEIS DE
SANTIDADE MORAL E CIVIL – Lv 16-20 – Deus ordenou que aquele povo todo
se santificasse a Ele. Santos sereis, porque eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo (Lv 19:2). Ser santo é obedecer às leis de Deus. Eles deviam mostrar-se diferentes
moralmente dos egípcios e cananeus, que praticavam todo tipo de impiedade sem
restrição. Assim eles deviam buscar o perdão de Deus coletivamente (Lv 16),
da maneira ordenada por Deus (Lv 17), evitar todas as práticas
abomináveis, isto é, tudo que Deus detestava naqueles povos pagãos (Lv 18),
praticar todos os mandamentos que Deus lhe desse, tendo-os como prática de vida
(Lv 19), e dar aos transgressores
aquilo que Deus disser que eles merecem, isto é, executar os Seus juízos (Lv
20).
Uma Lei moral de Deus é quando
Ele está declarando: “isto é certo ou isto é errado”, ela tem validade eterna,
para todos os povos em todos os tempos. Deus não muda Seus conceitos, por mais
que as sociedades dos homens mudem. Então no sentido de instrução moral estas
leis devem ser consideradas tão obrigatórias quanto qualquer lei do Novo
Testamento, ou como os Dez Mandamentos, dos quais esta leis na verdade são uma
explicação mais detalhada.
Já uma Lei civil de Deus
aparece quando Ele diz o que o Seu povo deve fazer com os que transgridem as
Leis Morais. Elas estabelecem o que deveria ser considerado crime. Os
transgressores devem ser levados aos juízes, com no mínimo duas testemunhas do
crime, e a sociedade em si, representada pelos seus governantes, magistrados,
juízes, sacerdotes ou soldados, em nome de Deus, iria inflingir ao malfeitor a
pena que Deus disse que ele merece, se fosse julgado culpado no processo. Tais
leis, da mesma forma que as morais, devem ser consideradas certas e justas por
todos e para sempre, por terem vindo de Deus, porém a sua aplicação é mais
difícil de ser posta em prática, pois depende primordialmente que haja um pacto
coletivo entre o povo que vai praticá-las e o Deus da Bíblia. Se o cristão vive
numa sociedade que não tem compromisso oficial com Deus, nem tem uma Aliança
com Deus, tais sociedades naturalmente terão ojeriza da justiça de Deus,
considerando-a rigorosa demais. Mas em todo o caso, o cristão pode gradualmente
influenciar sua sociedade para considerar crime o que Deus considera crime,
isto é, o tipo de pecado que a sociedade deveria punir. Ao mesmo tempo, o cristão
deve disciplinar e renovar sua mente ao modelo divino para não se encontre
rejeitando a justiça de Deus, como os pagãos rejeitam.
Lv 16 – A expiação por todo o povo. O
mais importante de todos os sacrifícios era este do bode emissário, celebrado
uma vez por ano. Nesse momento o sacerdote ofertava por todos os pecados de
todo o povo, que cometeram durante aquele ano. Um dos bodes era sacrificado
como símbolo do pagamento da dívida e o outro era enviado ao deserto, como
comunicando o afastamento do pecado de dentro do arraial. Da mesma forma, assim como está longe o
oriente do ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões (Sl 103:12), por causa do sacrifício de Cristo pelo Seu povo,
não só de um ano, mas de todos os tempos, Deus diz: "Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de
mim, e dos teus pecados não me lembro."
(Is 43:25)
Lv 17 – É o sangue que fará expiação pela alma. No sangue está a vida de todo ser. Deus quis
santificar esse elemento, para ser a moeda espiritual que pagaria pelos
pecados. Assim, para sempre lembrar-se da santidade desse elemento, não podemos
comer sangue algum, nem no Novo Testamento (At
15:29). Mas, vindo Cristo, não por
sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário,
havendo efetuado uma eterna redenção... Porque onde há testamento, é necessário
que intervenha a morte do testador. Porque um testamento tem força onde houve
morte; ou terá ele algum valor enquanto o testador vive? (Hb 9:11-16).
Lv 18 –
Nenhuma destas abominações fareis. Deus
não nos deixa sem instrução para sabermos o que não deve ser feito. Quando Ele
chama algo de “abominação”, Ele está classificando esse ato como um tipo de
pecado mais horrendo, detestável, repulsivo e hediondo do que os outros. Há
graduação nos pecados, os que são mais graves e menos graves, os que despertam
mais a ira de Deus e os que lhe despertam menos a ira. Aqui temos listados
alguns dos piores.
Sobre essas abominações, Deus diz: Nenhuma
destas abominações fareis, nem o natural, nem o estrangeiro que peregrina entre
vós; Porque todas estas abominações fizeram os homens desta terra, que nela
estavam antes de vós; e a terra foi contaminada. Para que a terra não vos
vomite, havendo-a contaminado, como vomitou a nação que nela estava antes de
vós (Lv 18:26-28). Ou
seja, elas compõem os motivos pelos quais Deus estaria expulsando as nações
cananeias da Terra Prometida, para nelas colocar um povo santo que O agradasse.
Assim cada cristão deve temer que a ira de Deus se desperte contra o seu povo
da mesma forma, se sua nação se entrega a essas práticas abomináveis, e acabe
esse povo recebendo duros castigos de Deus em vida.
Nenhum homem se chegará a qualquer parenta da
sua carne, para descobrir a sua nudez (Lv 18:6-18). São as leis do incesto, que proíbem tanto o
casamento como a relação sexual e a contemplação do corpo nu dos parentes
alistados. A nudez de alguém pertence ao seu cônjuge (Lv 18:8).
Outras ações listadas como
abomináveis aqui são: ter relações durante a menstruação, cometer adultério,
sacrificar filho a ídolos, praticar o homossexualismo e praticar zoofilia (Lv 18:19-23). Que Deus nos dê uma
mentalidade que sinta por esses atos a mesma repulsa que Ele sente, pois a
falta dela indica um grande afastamento da vontade de Deus.
Lv 19 –
Guardarás os meus estatutos. A
justiça positiva de Deus, aquilo que deve ser feito, antes resumido nos Dez
Mandamentos, agora é detalhado para nossa melhor obediência, para que saibamos
o que é ser santo como Deus é santo:
Temer ao pai e à mãe. Santificar o
dia do descanso semanal Não adorar imagens, nem fabricá-las. Oferecer ofertas
voluntárias de comunhão, buscando a Deus com prontidão. Deixar um pouco da
colheita para os pobres e estrangeiros. Não furtar. Não mentir. Não jurar
falso, tomando o nome de Deus em vão. Não explorar trabalhadores, nem atrasar
os seus salários. Não fazer maldades com pessoas deficientes. Não permitir
impunidade e injustiça nos julgamentos, os quais devem ser totalmente
imparciais. Não espalhar fofocas e boatos. Não dar falso testemunho para o mal
do outro. Não odiar os seus irmãos. Não deixar de aconselhar quem está errado.
Não se vingar de ninguém por conta própria. Amar ao próximo como a si mesmo.
Ser caracterizado pela ordem e classificação não misturando os animais, nem
sementes, nem tecidos. Não castigar injustamente os escravos. Na colheita
semear os três primeiros anos, consagrar o fruto no quarto, começar a usufruir
no quinto ano. Não comer sangue. Não fazer adivinhações e previsões do futuro.
Não praticar sinais extravagantes de luto em cortes de cabelo, marcações ou
ferimentos. Não promover a prostituição. Reverenciar o santuário de Deus. Honrar
os idosos. Não oprimir os estrangeiros. Ter balanças e pesos justos (Lv
19:3-37).
Praticar estas coisas é ser santo.
Lv 20 - Guardai todos
os meus juízos, e cumpri-os. Deus estabelece que algumas das transgressões da Lei devem ser julgadas
pela nação. A justiça de Deus não seria vindicada se os criminosos não
recebessem o que merecem, depois de serem julgados e condenados. Aqui se
informam as seguintes punições:
Pena de morte – para quem sacrificar o próprio filho
(v.2), amaldiçoar pai e mãe (v.9), cometer adultério (v.10), cometer incesto (v.11,12), praticar homossexualismo (v.13), casar com uma mulher e sua mãe (v.14), praticar zoofilia (v.15,16),
praticar adivinhação ou consulta aos mortos (v.27). Deus confirma que são
dignos de morte os que tais coisas praticam (Rm 1:32).
Banimento – para o que se casar com a irmã (v.17) ou ter relações com mulher
menstruada (v.18), ele deve ser
expulso do país, não haverá lugar para essas pessoas numa nação santificada.
Castigo
providencial de Deus – Deus
afirma que mesmo que o povo deixe de punir adequadamente os infanticidas, idólatras
e consultadores de feiticeiros (Lv
20:4-6), Ele mesmo providenciará uma punição em vida para essas pessoas. Tal
é precisamente o caso de uma sociedade como a nossa, que não se importa em
praticar os juízos de Deus contra as abominações nela praticadas, denunciadas
nestes capítulos de Levítico 18 e 20.
Mas não erreis: Deus não se deixa
escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará (Gl 6:7). Onde
estiver falhando a justiça dos homens, não falhará a justiça divina.