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sexta-feira, 30 de maio de 2008

Somente pela fé somos justificados

“Sola Fide”
Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 5:1).
- Pode assinar para hoje esse cheque de cem mil reais, eu já depositei cem milhões de reais na sua conta! - O que você faria se alguém lhe dissesse isso? Claro que dependeria de quem está dizendo, se é uma pessoa confiável ou não, e principalmente, se você acredita que esta pessoa teria cem milhões de reais para depositar na sua conta. Talvez você só assinasse depois de verificar o saldo bancário. Mas, e se você soubesse que algo muito maior foi feito, que um valor infinito foi depositado gratuitamente em seu nome, sem você ter merecido ou trabalhado para isso?
A doutrina da justificação somente pela fé tem sido bastante negligenciada em nosso meio. Na melhor das hipóteses, a pregação do Evangelho enfatiza a Expiação, que os nossos pecados foram pagos por Cristo, mas esta é apenas uma de duas faces da mesma moeda. Ainda que nossos pecados tenham sido castigados nEle, não atingimos em nossas obras a perfeição ordenada por Deus ao ser humano (Gn 17:1; Mt 5:48). Esta necessidade também tem que ser suprida por Cristo, e isto é feito na Justificação. Nos capítulos três a cinco de Romanos, esta doutrina é ensinada, mas sua compreensão pode ser prejudicada pelo sentido atual das palavras. “Justificar” no texto bíblico não significa alguém dar explicações para o que fez, ou pedir desculpas, para “se justificar”. Justificar quer dizer considerar justo. E a “justiça” nesses textos também não é apenas a questão da equidade, fidelidade ou cumprimento de leis, mas é a justiça ordenada por Deus, a santidade, ou traduzindo melhor ainda, a perfeição. Traduzindo assim o texto de Rm 5:1, teríamos: “tendo sido considerados perfeitos pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo”. Claro que há quem pense diferente. Os católicos, por exemplo, entendem que a justificação de Deus não seria Ele nos “considerar justos”, mas o longo processo de nos “fazer justos”. Assim, só teremos acesso à presença de Deus quando atingirmos a perfeição real de nossos corações e obras. Tal processo implicaria continuar a pagar por todos os pecados na vida através das penitências, e pagando o restante durante séculos de sofrimento no “Purgatório”, para que um dia na eternidade possamos estar na presença de Deus. Quem dera todos os evangélicos de hoje pensassem diferente, mas na prática muitos acham que só serão recebidos por Deus por atingirem certo nível de santidade nesta vida. Ou chegam a formular um sistema no mínimo tão desesperador quanto o católico, ao crer que um crente possa perder e ganhar a salvação várias vezes durante a vida, dependendo se ele se afastar da igreja ou retornar, se pecar ou se arrepender. Coitado de quem morrer de repente, sem ter tempo de se arrepender de todos os pecados!
Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós (expiação), para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus (justificação) (2Co 5:21). Cristo recebeu o castigo que não merecia, para que recebamos os privilégios do Filho de Deus, que não merecemos. Cristo, sendo santo, foi tratado como pecador, e nós, sendo pecadores, somos tratados como se fôssemos santos. O meu pecado é pago por Cristo, e Cristo ainda doa a roupa da Sua perfeição para que nós, vestidos dela, entremos no Reino. Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo (Gl 4:26,27) Também “Lutero, de início, não podia compreender como a "justiça de Deus se revela no evangelho" (visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé. Rm 1:17). Para ele, a justiça de Deus só poderia condenar o homem, não salvá-lo. Tal justiça não seria "boas novas" (Evangelho). Só quando compreendeu que a justiça de que Paulo fala nesse texto não é o atributo pelo qual Deus retribui a cada um conforme os seus méritos (o que implicaria em condenação para o homem), mas o modo como Ele justifica o homem em Cristo, é que a luz raiou em seu coração e a verdade aflorou em sua mente. Tornou-se, então, um homem livre, confiante e certo do perdão dos seus pecados. Compreendeu o Evangelho!”[1] “A retidão que Lutero precisava, mas que não tinha poder de produzir, ele encontrou no Evangelho de Cristo. Ele descobriu que é uma retidão que vem de Deus! A retidão que Deus exige, é a retidão que Ele mesmo fornece, através da fé no Seu Filho. Aí está o coração da fé cristã - o homem pecador é justificado, isto é, obtém uma vida reta diante de Deus, SOLA FIDE, através da fé somente”[2]. Nossas obras não nos fazem justos o suficiente diante de Deus, mas Cristo foi justo o suficiente por nós. É nEle que temos que nos agarrar para a salvação. É o único alicerce seguro.
Esta doutrina da Sola Fide proclama: “Cristo é a justiça de Deus (...) e pela fé nEle nós também somos feitos justiça de Deus (2Co 5:21) (...) O Evangelho é a manifestação dessa justiça de Deus, que é recebida somente pela fé. Não é produzida pelas obras, pois o homem não as tem. Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado (...) concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei - Rm 3:20,28. Mas vós sois dEle, em Cristo Jesus, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção - 1Co 1:30. “É pela fé que o justo viverá”. Quando Paulo cita esta passagem de Habacuque, ele a usa para ensinar que é através da fé, e não das obras, que alguém é declarado justo em Cristo (...) Isto [fica] claro na (...) citação em Gl 3:11, quando ele diz: e é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé. O homem nada pode e nada tem para oferecer a Deus por sua salvação. A única coisa que lhe cabe fazer é aceitar o dom da salvação, pela fé, quando esta lhe é concedida. Fé na obra suficiente de Cristo, que lhe é imputada (creditada em sua conta) gratuitamente.”[3]
Dentro desta convicção, “somente pela fé somos justificados” foi considerado por “o artigo pelo qual a igreja se mantém de pé ou cai”. “A igreja sempre cresceu quando esta doutrina foi sustentada e pregada com convicção. Cada reavivamento, desde o séc. XVI, foi marcado por forte ênfase na justificação pela fé somente. Cada período de declínio e apostasia começou com um ataque a ela”[4].
Então quais serão as conseqüências para a doutrina cristã, se adotarmos firmemente como nossa verdade o princípio reformado de que somente pela fé somos justificados?
1 – Negaremos a confiança na nossa santidade para confiarmos somente na santidade substituta de Cristo. A única santidade que poderá me dar segurança diante do justíssimo juízo de Deus será a santidade de Cristo colocada na minha conta. NA JUSTIFICAÇÃO SOU CONSIDERADO TÃO PERFEITO COMO CRISTO e só por esta substituição é que serei considerado filho de Deus (Gl 4:26,27). Isso implica negarmos a nós mesmos para abraçar somente a Cristo. Renunciarmos à nossa justiça para invocar a justiça de Outro. Somos justificados gratuitamente pela Sua Graça, pela redenção que há em Cristo Jesus (Rm 3:24).
2 - Não perguntaremos o tamanho da nossa fé, mas em quem confiamos. Hoje há muitos preocupados se têm uma fé é grande o suficiente para serem salvos. O que o tamanho da fé influencia é a qualidade da nossa santificação e obras, não a nossa salvação. Paulo disse eu sei em quem tenho crido, não “o quanto” tenho crido (2Tm 1:12). Nossa fé pode até ser fraca, mas nosso Salvador é sempre forte. E ninguém pode ser “mais salvo” ou “menos salvo”. A qualidade, grandeza, perfeição e maravilha da salvação nunca muda: é a perfeição de Cristo atribuída a nós, sendo trocada pelo nosso vil pecado castigado nEle.
3 - Entenderemos que a fé é apenas o meio divino da salvação, nunca o motivo ou causa da salvação. A justificação é pela fé, não por causa da fé. A causa da nossa salvação é primeiramente a livre Graça de Deus, manifestada na obra de Cristo em nosso favor. A fé é o instrumento pelo qual Deus traz esta salvação até nós. Tal como uma bóia com corda, que é atirada para alguém que está se afogando no mar. Quem salvou não foi a bóia, mas a pessoa que a atirou. A fé é esta bóia, o instrumento que Deus usa para nos puxar para a margem. Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus (Ef 2:8), ou seja, é Deus que nos dá, tanto a salvação quanto a fé. E ainda: a obra de Deus é esta: que creiais nAquele que Ele enviou (Jo 6:29); este verso diz claramente que é obra de Deus fazer com que creiamos em Cristo. “Nós estamos mortos; o Espírito [nos dá] o sopro de vida; esta primeira respiração é a fé”[5].
4 - Excluiremos totalmente o medo de perder a salvação. Há aqueles que vivem num temor enorme de perder a salvação porque não são santos o suficiente, não cumprem todos os mandamentos perfeitamente, têm dificuldade em vencer certas fraquezas e pecados ou até mesmo porque não se ajustam à todas as expectativas da cultura evangélica. Isto porque estão olhando para si mesmo e suas fraquezas, não para Aquele que cumpriu toda a Lei por nós, e foi perfeitamente santo e obediente em nosso lugar. “A justiça perfeita da vida de Cristo é nossa absolvição completa e final”[6]. Uma correta doutrina da justificação será fonte de verdadeira paz e segurança em Cristo (Rm 5:1, nosso texto do título).
5 - Ao mesmo tempo, negaremos que a verdadeira fé nos libere para pecar à vontade. Sempre que esta doutrina divina é proclamada, que já somos considerados perfeitos em Cristo, instantaneamente nossa natureza pecaminosa sugere: “então podemos pecar à vontade?” Isto mostra o quanto a vontade de pecar permanece, mesmos nos crentes. Paulo respondeu a isto: “Pois quê?Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum!”(Rm 6:15). A nossa carne está sempre esperando essa oportunidade de pecar, mas aquele que foi regenerado, e ama a Cristo, jamais vai abusar da Graça de Deus, pois o sangue de Jesus vale muito para ele. Junto com a fé, Deus também nos faz novas criaturas, nos dá nova direção de vida, pelo Espírito Santo nos capacita gradualmente a vencer o pecado em todas as áreas, aguça e santifica nossa consciência. Ainda que continue existindo o pecado, o crente que progride na santificação verá a iniqüidade enfraquecer dentro de si até o dia glorioso da Ressurreição.
6 - Retiramos a base para o orgulho, a comparação e a competição entre os crentes. Para a salvação não importa eu ser melhor ou pior que meu irmão, nem mais santificado ou menos santificado. A passagem do título diz claramente: Deus justifica o ímpio (Rm 4:5). Que ímpio? Nós, ímpios! Nenhum de nós é bom o suficiente, e nunca seremos bons o suficiente para sermos aceitos como filhos de Deus. Deus tem que nos considerar justos apesar de não sermos justos. Esta doutrina humilha ao máximo toda pretensão religiosa, pois só seremos aceitos porque outra Pessoa, o Nosso Senhor Jesus Cristo, fez tudo que deveríamos ter feito. Só por Cristo somos aceitos por Deus. E esta base é a mesma para todos.
Aquele que não pratica, mas crê nAquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça (Rm 4:5). Tanto o mais santo dos crentes quanto o mais pecador dos crentes serão aceitos no Reino somente porque Cristo foi perfeito em lugar deles. Tanto o crente que parece anjo, quanto o trigo que parece joio, todos serão salvos só por causa de Cristo. Tanto o filho fiel que ficou em casa, quanto o fílho pródigo que se arrepende no final, todos entram no Reino usando o crachá de Cristo. Usufruímos do clube porque o Filho do Dono pagou todas as nossas mensalidades para sempre. Por isso que a doutrina de “somente pela fé somos justificados” é odiada pelo ainda corrupto coração humano, pois tira dele a oportunidade de orgulho. E também por isso que é a primeira doutrina a ser esquecida quando a Igreja entra em decadência espiritual. Sem uma operação misericordiosa do Espírito Santo, se Deus não atuar poderosamente por nós, esta doutrina será sempre esquecida. Nunca sozinhos poderemos acreditar nisso, pois no fundo sempre queremos uma religião da qual possamos nos orgulhar e nos considerar melhores que os outros. Sola Fide diz: todos nós somos ruins. Só Cristo é bom. Somos salvos porque Ele foi bom em nosso lugar. Nada sobra pra nos orgulharmos, nos compararmos ou competirmos com outros crentes.
7 - Confessamos que ainda seremos pecadores miseráveis e indignos pelo resto de nossas vidas. Nunca mereceremos a salvação. Nunca mereceremos as bênçãos de Deus. A luta, tão mencionada, da carne contra o Espírito (Gl 5:17), não é uma luta que ocorra no nosso interior entre a “nossa carne” e o “nosso espírito”. É a luta de nós (carne, humanidade) contra Deus (Espírito significa o Espírito Santo). Nós somos rebeldes e desobedientes até o fim da vida. Deus nos dá um novo coração, um novo princípio, um novo sentido, uma nova inclinação em Sua direção, mas não nos fez perfeitos ainda. Sempre acabaremos fazendo algum mal que não queremos, e não fazendo o bem que queremos (Rm 7:19). Nossa santificação progride pela Graça de Deus, mas nunca será boa o suficiente. Só pela confiança na substituição de Cristo seremos justificados. Esperamos os novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça, quando, em corpos incorruptíveis, seremos verdadeiramente justos. “’Pois esta é a mais doce misericórdia de Deus, que Ele salva pecadores verdadeiros, não imaginários, que Ele nos sustenta em nossos pecados [...] até que nos torna perfeitos e nos conclui. Pois Ele mesmo é nossa única justiça até nos assemelharmos a Ele’. A nova percepção de Lutero era que a imputação da justiça alheia de Cristo baseava-se não na cura gradual do pecado, mas na vitória completa de Cristo na cruz. O caráter definitivo da justificação foi ressaltado: ‘se você crê, então você a terá’. Também não há nenhuma correlação direta entre o estado de justificação e as obras visíveis de alguém”[7].
8 – Negamos que observar os mandamentos, atender a qualquer expectativa ou exigència religiosa, parecer justo aos homens ou a si mesmo nos justifique diante de Deus. A noção de pecado tem se diluído perigosamente nos dias de hoje. A tendência é acharmos que podemos satisfazer plenamente a Deus, e passar a merecer a salvação. A tendência natural de todas as religiões inventadas, inclusive dos falsos cristianismos, é achar que de alguma forma podemos ser dignos da ajuda de Deus. É pegar os presentes de Deus, a salvação, a santificação e as obras, pegar os dons vindos de Deus, dizer que são nossos e que Deus por isso tem que nos dar felicidade. É rejeitar a obra sofrida de Cristo por nós para levantarmos a bandeira de nosso próprio nome. Tudo devido à ignorância da doutrina bíblica do pecado. Deus nos ordena perfeição absoluta (Gn 17:1; Mt 5:48). Quebrar um só mandamento, uma vez na vida, é quebrar toda a Lei (Tg 2:10). Nossas justiças, nossas melhores obras, são trapos de imundícia aos olhos de Deus (Is 64:6), pois são misturadas com orgulho, indisposição, maus pensamentos, etc. E todo o bem que poderíamos fazer e não fizemos torna-se pecado de omissão (Tg 4:17). Não há um justo, nenhum sequer, porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus (Rm 4:10,23,24). Lembremos de novo: justificado quer dizer considerado justo, não feito justo. Sola Fide mantém a exigência de perfeição que a Lei de Deus faz. “Anulamos a lei, pois, pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei” (Rm 3:31), pois Cristo cumpre por nós toda a exigência da Lei. E por causa da Sua substituição somos considerados como tendo cumprido perfeitamente a Lei, tal como Ele cumpriu. A obediência dEle é colocada na nossa conta. Qualquer doutrina de salvação que não reconhecer isso inevitavelmente vai anular a Lei de Deus, substituindo-a por novos mandamentos (da tradição evangélica, por exemplo), ou distorcendo o seu sentido para diminuir o seu rigor, de modo que tenhamos uma “lei” que sejamos capazes de cumprir, para nossa própria (falsa) glória.
9 - Esclarecemos que em 2Co 5:21 não somos feitos justiça no sentido de nos tornarmos justos, mas de sermos considerados justos. Isto é claro por causa da primeira parte do versículo: aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós. Se o versículo dissesse que na conversão nos tornamos verdadeiros justos, também o versículo estaria dizendo que Cristo tornou-se um verdadeiro pecador. Mas se fosse assim, Sua morte não seria um sacrifício puro para pagar os nossos pecados. Jesus mesmo seria condenável ao inferno!!! A verdade é que Ele não conheceu pecado (não foi pecador) e nós não conhecemos a justiça (não fomos perfeitos), pela misericórdia totalmente gratuita de Deus somos trocados de lugar com Cristo para que possamos ser salvos. “Portanto, meu querido irmão, aprenda a Cristo e O aprenda crucificado; aprenda a orar a Ele, perdendo toda a esperança em si mesmo, e diga: ‘Tu, Senhor Jesus, és a minha justiça, e eu sou o Teu pecado; tomaste em Ti mesmo o que não eras e deste-me o que não sou’”[8].
10 - Esclarecemos que quando Jesus diz “a tua fé te salvou” deixa implícito que o alvo da fé era Ele mesmo, não declarando a fé como algo que possa salvar ou curar alguém. Um dos textos que melhor explica o sentido bíblico de fé é Sl 37:5 que diz: entrega o teu caminho ao Senhor, confia nEle, e Ele tudo fará. Isto significa negar a nós mesmos para confiar somente em Deus. Todas as pessoas a quem Jesus disse “a tua fé te salvou” estavam olhando só para Ele e confiando somente nEle. Não temos que ter fé na fé. Temos que ter fé em Cristo. “Olhai para mim e sereis salvos” (Is 45:22). Esta definição bíblica de fé exclui todo poder humano, mesmo um suposto “poder da fé”. Algumas idéias que correm hoje no meio evangélico sobre um tal “poder da fé” têm muito de mistura com outras religiões e filosofias, que usam a palavra “fé” para descrever um “pensamento positivo” que faria as coisas acontecerem. Tal sugestão nega a dependência total da criatura ao Criador, contradizendo o ensino bíblico. A fé é uma confiança que olha para fora de nós, não um poder que há no interior de nós, nem apenas um sentimento ou experiência emocional. Ter fé é confiar em outro, não desenvolver qualquer capacidade em nós. O alvo está fora, não dentro. Ter fé é negar a si mesmo para afirmar a Cristo somente. E “a justificação acontece na mente de Deus, não no sistema nervoso do crente”[9].
11 - Esclarecemos que ter fé também não é simplesmente acreditar que Cristo seja o Salvador. Nem é apenas “permitir” que Cristo nos salve, ou “entre em nosso coração”. É preciso uma aplicação pessoal, convencimento, confiança, segurança de que Ele é o MEU SALVADOR. Que no Calvário não tenha ocorrido apenas uma substituição geral, mas que os meus pecados, cada um deles, foram pagos por Cristo; que as minhas obras, cada uma delas, são pecaminosas demais para cumprir a Lei de Deus; e que as obras perfeitas de Cristo, cada uma delas, são colocadas na minha conta para que eu seja aceito pelo Pai como Seu filho. Eu preciso me confessar como pecador perdido, salvo pela Graça somente, por causa de Cristo somente, através da fé somente. Não basta acreditar na doutrina, é preciso confiar somente nEle para a salvação. De nada adianta apenas dizer “Cristo me salvou” se na prática ainda estiver tentando me salvar, através das obras de assistir a cultos, doar dinheiro, fazer orações e vigílias, renunciar a costumes “mundanos”, trabalhar na igreja, etc. Se ainda trabalho para ser salvo, ainda não confio. Mas aquele que não pratica, mas crê nAquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça, para que Deus seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus (Rm 4:5; 3:26).
12 - Proclamamos a obra de Cristo sozinho como totalmente suficiente para a nossa salvação, sem necessitar de nenhum complemento de nossa parte. Nesse assunto é que acontece a maior parte dos desvios na doutrina da salvação. Os católicos crêem numa fórmula tal como: BATISMO + FÉ EM CRISTO + OBRAS + PENITÊNCIAS = SALVAÇÃO. Alguns evangélicos mudam ligeiramente para: FÉ EM CRISTO + PERSEVERANÇA DO CRENTE = SALVAÇÃO, ou ainda FÉ EM CRISTO + SANTIFICAÇÃO = SALVAÇÃO. Os reformadores simplesmente pregaram, junto com Paulo: crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo (At 16:31), não ousando acrescentar mais nenhuma obra humana para a salvação. Se crermos em Cristo seremos certamente salvos, porque a obra de Cristo a nosso favor é completa e suficiente. Essa convicção nos fará rejeitar todo complemento imaginado (freqüentar a igreja o resto da vida, adotar os costumes evangélicos, etc.) como uma triste negação da suficiência de Cristo para a salvação. Para sermos bíblicos nesse assunto, temos que classificar essas obras (e todas as outras) como CONSEQÜÊNCIAS da salvação. Deixemos que a obra de Cristo em nosso lugar seja verdadeiramente a ÚNICA CAUSA DA NOSSA SALVAÇÃO. Confiar nesta verdade significa ter a fé que justifica, a qual é o instrumento que Deus usa para nos salvar. E assim a fórmula bíblica seria: FÉ EM CRISTO = SALVAÇÃO (que frutificará em OBRAS, SANTIFICAÇÃO, PERSEVERANÇA, etc).
13 – Reafirmamos, com toda a certeza, que a santificação não nos salva. Só Cristo é que nos salva. Temos que descansar somente em nEle para a salvação e a agradecer a Ele por meio da nossa santificação. Fazemos tudo por Deus só para dizer “obrigado pela salvação que ganhamos de graça”. Não é para sermos aprovados, mas para glorificarmos ao que nos aprovou sem merecermos. Não para pagar, porque Cristo pagou tudo, mas para honrar os privilégios recebidos gratuitamente. Não para nos tornarmos dignos, mas para retribuir o presente que recebemos indignamente. Não para merecermos, mas para magnificar Aquele que merece tudo. Por meio da verdade do Sola Fide, desenvolvemos uma gratidão transbordante a Deus como nossa motivação para cumprir a Lei, o que é muito maior e melhor do que “medo do inferno”. Proclamemos este princípio, rejeitemos a justiça própria, e confiemos somente na justiça de Cristo que é atribuída a nós pela fé, para que as recompensas que só Cristo merece estejam sobre nós, ainda que pecadores no sentido real, mas já considerados justos pelo Deus que chama as coisas que não são com se já fossem (Rm 4:17). Quem nos condenará? É Deus quem nos justifica! (Rm 8:33,34). [1] João Alves dos Santos - <http://www.scribd.com/doc/44466/As-Doutrinas-da-Reforma>. [2] James McGoldrick. Os três princípios do Protestantismo. Texto eletrônico. [3] SANTOS, ob.cit.. [4] John MacArthur Jr. Justificação pela fé somente. Vários autores. Ed. Cultura Cristã. Contra-capa. [5] Paul Settle. <http://www.monergismo.com/links.htm> [6] John Blanchard. Pérolas para a vida. Ed. Vida Nova. p. 226. [7] Teologia dos Reformadores. Timothy George citando Martinho Lutero. Ed. Vida Nova, p. 71. [8] Martinho Lutero. Em Teologia dos Reformadores, Timothy George. Ed. Vida Nova. p.71. [9] C. I. Scofield. Em Pérolas para a vida. John Blanchard. Ed. Vida Nova. p. 227

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