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quarta-feira, 4 de junho de 2008

Atos vitoriosos da igreja de Cristo

O livro de Atos dos Apóstolos não fala muito dos "atos dos apóstolos". Não é uma biografia dos apóstolos, nem uma história detalhada do povo de Deus depois da ressurreição de Cristo. Ao que parece, o livro quer mostrar ao amigo de Deus as vitórias da igreja de Cristo diante das barreiras que se levantaram contra a expansão da mensagem do Evangelho. O modo como o livro termina, dizendo que apesar de tudo, Paulo pregava em Roma "sem impedimento algum" (At 28:31), é uma evidência de que este é o seu tema principal[1]. Dentro desta interpretação, podemos refletir um pouco sobre três dessas vitórias da igreja que aparecem constantemente no livro de Atos. As vitórias de exercer o sacerdócio do Reino de Deus; de pregar o evangelho aos diferentes e distantes; e de sofrer em nome de Jesus.

A VITÓRIA DE EXERCER O SACERDÓCIO DO REINO DE DEUS
Cidade de Éfeso, manhã de sábado, culto da sinagoga judaica. O judeu Apolo, chegado recentemente na cidade, prega muito bem e com entusiasmo. Ao final, um casal, Priscila e Áquila, o convida para visitar sua casa. E lá eles lhe apresentam verdades que ele desconhecia. Mesmo que ele tivesse um conhecimento profundo da Bíblia, isso em nada pôde intimidar Priscila e Áquila, pois eles entenderam que ele precisava ser melhor ensinado no caminho de Deus, já que só conhecia o batismo de João Batista (At 18:26). Só depois de ser discipulado por esse casal de artesãos é que Apolo foi encaminhado às igrejas da Grécia e pôde dar testemunho de Jesus como Salvador.
A barreira da hierarquia religiosa foi vencida desde que Jesus Cristo ofereceu-se a Si mesmo para pagar pelos pecados do povo (Hb 2:17; 7:27) tornando-se o único mediador entre Deus e os homens (1Tm 2:5). A partir de então o sacerdócio é universal, comprado pelo sangue de Jesus (Ap 1:6) e capacitado pelo poder do Espírito Santo (Lc 24:49), implicando um novo tempo de igualdade e responsabilidade para todos os membros do povo de Deus.
A mensagem de Joel 2:28,29 disse especificamente que o derramamento do Espírito Santo não conheceria nenhuma barreira de sexo, idade ou classe social, com Deus movendo a cada um conforme a Sua soberania. Isso foi verdade ao ponto de moças tão novas como as filhas de Felipe poderem pregar (At 21:9); de pescadores sem estudo como Pedro e João fazerem calar a elite intelectual do país (At 4:13,14); e de anônimos como os irmãos chíprios e cirenenses se tornarem pioneiros, anunciando o evangelho pela primeira vez a pagãos e fundando a igreja em Antioquia (At 11:20,21).
Assim, as narrativas de Atos nos exemplificam como o trabalho do Reino abrange toda a igreja, quando mostram todos os crentes sendo cheios do Espírito Santo (At 4:31), testemunhando (At 2:32) com toda a ousadia (At 4:29), todos os dias (At 5:42) e por toda parte (At 8:4). Pois cada um que crê em Jesus é uma pedra viva da casa espiritual de Deus, e faz parte da geração eleita, do sacerdócio real, da nação santa e do povo adquirido, para que anuncie as virtudes daquele que o chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz (1Pe 2:5-9), tendo o direito de contribuir para a edificação da igreja (1Co 14:26), para que todos aprendam e todos sejam consolados (1 Co 14:31).
Desta maneira, todos os crentes, que tal como no livro de Atos, receberam a promessa do Pai de terem a presença de Cristo mediante o Espírito Santo, podem se considerar responsáveis pela obra do Reino de Deus e importantes instrumentos da expansão do Evangelho, para que as igrejas sejam edificadas e se multipliquem, andando no temor do Senhor e na consolação do Espírito Santo.


A VITÓRIA DE PREGAR O EVANGELHO AOS DIFERENTES E DISTANTES DE NÓS
Cidade de Cesaréia, meio-dia. Pedro sobe ao terraço para orar. Enquanto o almoço estava sendo feito, ele tem uma visão de um lençol cheio de todos os tipos de animais e uma voz que dizia para ele comê-los. Pedro diz: -De jeito nenhum, Senhor! Eu nunca comi nenhuma coisa que a Lei considera suja ou impura! Mas a voz respondeu: -Não chame de impuro aquilo que Deus purificou. Na verdade Deus estava lhe mostrando que a nenhum homem considerasse vulgar ou impuro (At 10:28), pois logo depois o judeu Pedro seria conduzido a uma casa de romanos desejosos de ouvir palavras com as quais pudessem ser salvos (At 11:14).
Essa é a grande barreira das diferenças culturais e geográficas, um obstáculo que se encontra dentro dos próprios crentes. Primeiro pela nossa tendência de nos dirigir só a quem é parecido conosco, segundo pelo comodismo de não sair para pregar o evangelho a toda criatura.
Porém, o amor de Cristo tem o poder de constranger os crentes a se fazerem servos de todos, fracos para os fracos, tudo para todos, para, por todos os meios, chegar a salvar alguns (1Co 9:19-22). E então enfrentar desafios como o de Ananias, que foi mandado por Deus para receber Saulo (Paulo), o perseguidor da igreja, que ia de casa em casa, arrastando homens e mulheres e jogando-os na cadeia. Mas Ananias confiou no poder de Deus para transformar aquela vida, e a primeira coisa que fez quando encontrou Saulo foi chamar ele de irmão (At 9:17).
A maior motivação para difícil trabalho de pregar ao diferente está na certeza da vitória final do Evangelho. Vitória que já foi provada pela ressurreição e glorificação de Jesus, e também pelo derramamento do Espírito que nos capacita a sermos Suas testemunhas até aos confins da terra (At 1:8), crendo que toda a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar (Hc 2:14), que os limites da terra se lembrarão e se converterão ao Senhor, que todas as gerações das nações adorarão perante a face de Deus (Sl 22:17,18) e o nome do Senhor dos Exércitos será grande entre as nações (Ml 1:11).
E estes propósitos de Deus hão de se cumprir, mesmo que às vezes seja necessário que Sua igreja seja espalhada através de perseguições (At 8:3,4). Mantendo a fé, os crentes de Atos puderam contar com a obra prévia de Deus preparando os corações para ouvir a Palavra (At 16:14) e mesmo garantindo que Ele ainda tem muito povo (At 18:10). E até quando parecia que os ouvintes rejeitariam o Evangelho, Deus não deixou Sua Palavra sem frutos (At 17:32-34).

A VITÓRIA DE SOFRER EM NOME DE JESUS.
Cidade de Filipos, meia-noite. Paulo e Silas estão na cadeia, com o corpo dolorido dos açoites, mas ainda assim, louvando, dando desta forma testemunho aos outros presos. Deus intervêm, e um terremoto solta as algemas de todos, o que se torna ocasião para testemunhar também ao carcereiro, que é salvo junto com sua casa (At 16:16-34). Essa cena resume bem a essência do livro de Atos. A igreja sofrendo oposição, e mesmo assim dando testemunho com sua vida, recebendo sempre de Deus a liberdade, que nada mais é do que oportunidade, afim de trabalhar mais pelo Evangelho.
A barreira das perseguições foi uma das piores que os crentes no livro de Atos tiveram que enfrentar. Pela fé eles experimentaram escárnios (At 2:13) e açoites (At 5:40), e até cadeias (At 26:29) e prisões (At 12:3,4); estando em perigos na cidade (At 19:28,29), em perigos no mar (At 27:43,44), em perigo de morte, muitas vezes (At 5:33). Foram maltratados (At 21:30-32), apedrejados (At 7:59), mortos a fio de espada (At 12:2). Seus opositores os injuriaram (At 14:5), perseguiram (At 8:1), e mentindo, disseram todo o mal contra eles (At 6:13).
Mas eles se exultaram e se alegraram (At 5:41), por saberem ser grande o seu galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes deles (At 7:52). Sabiam que tinham sido enviados como ovelhas no meio de lobos (Mt 10:16), que todos os que quiserem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos (2Tm 3:12) e que por muitas tribulações nos importa entrar no Reino de Deus (At 14:22). Assim, da fraqueza tiraram forças pela fé, e não fizeram uma oração para que Deus acabasse com a perseguição, mas sim que desse a Seus servos maior ousadia (At 4:29).
Porque o Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus (At 7:56), reinará até que haja posto a todos os inimigos debaixo de Seus pés (1Co 15:25). Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou (2Co 5:15), de sorte que vivamos ou morramos, somos do Senhor (Rm 14:8) e em nada devemos ter a nossa vida por preciosa, contanto que cumpramos com alegria a nossa carreira e o ministério que recebemos do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus (At 20:24).

CONCLUSÃO
Tudo o que lemos no livro de Atos nos inspira a imitar a confiança que aqueles crentes tiveram em Deus, para superarmos, como eles, todas as barreiras que se levantarem hoje contra o Evangelho de Cristo.
O Senhor fez notória a Sua salvação, servi ao Senhor com alegria e apresentai-vos a Ele com canto. Cantai ao Senhor, bendizei o Seu nome; anunciai a Sua salvação de dia em dia. Anunciai entre as nações a Sua glória; entre todos os povos, as Suas maravilhas. Porque quem é Deus senão o Senhor? E quem é rochedo senão o nosso Deus? O Senhor está comigo; não temerei o que me pode fazer o homem. (Sl 98:2; 100:2; 96:1-3; Sl 18:31; 118:6).
Graças a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo (1Co 15:57).
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[1] Para maiores detalhes sobre esta maneira de entender o livro de Atos, ver as p. 14-37 da introdução de Frank Stagg - O livro de Atos dos Apóstolos. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1958. 397p.
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Publicado em Vivendo - Edição do Professor. Rio de Janeiro: JUERP.

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