Quer entender a Bíblia?

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Autoridade Pastoral


Dentre as comparações abaixo, quais você consideraria adequadas para descrever a relação entre um pastor e os membros da igreja que estão sob o seu pastoreio?

( ) a cabeça e o corpo;
( ) o pescoço e o corpo;
( ) o rei e seu povo;
( ) o príncipe e seus criados;
( ) o general e seu exército;
( ) o prefeito e a cidade;
( ) o empresário e seus funcionários;
( ) o motorista de ônibus e os passageiros;
( ) o jardineiro e as plantas;
( ) o diretor e a escola
( ) técnico de futebol e o time de jogadores;
( ) o capitão do time e o resto dos jogadores;
( ) o professor e os alunos;
( ) enfermeiro-chefe e demais enfermeiros;
( ) o irmão mais velho e os irmãos menores;
( ) o garçom do restaurante e os fregueses.


Eu não marcaria quase nenhuma das opções acima. Em algumas o pastor age como um substituto de Deus, em outras, como um intermediário e mediador. Em algumas os membros são passivos demais, em outras o pastor tem poder demais, e ainda outras, o pastor concentra tarefas demais.
A última, “garçon do restaurante”, exagera na subserviência do pastor aos outros, afinal, na igreja todos devem servir.
Somente a antepenúltima e a penúltima, “chefe dos enfermeiros” e “irmão mais velho”, se aproximam mais da imagem bíblica da relação entre pastor e pastoreados.
“Chefe dos enfermeiros”, porém, se fosse de um hospital onde todos são funcionários, todos estão doentes e todos cuidam de todos.
“Irmão mais velho”, se fosse quando os pais estão fora de casa, e ele tendo que se responsabilizar por seus irmãos menores. Sua tarefa é zelar para que se cumpram as ordens dos pais. Mas os irmãos menores sabem que a autoridade na casa é dos pais; se o irmão mais velho fizer ou chamar os outros para fazerem alguma coisa que os pais não gostariam, os irmãos menores prontamente devem rejeitar essa atitude.

Na verdade não consigo imaginar uma figura adequada na nossa sociedade porque o mandamento de Jesus para o líder inverte todo o nosso pensamento do que seja “liderança”:

Mas Jesus, chamando-os a si, disse-lhes: Sabeis que os que julgam ser príncipes dos gentios, deles se assenhoreiam, e os seus grandes usam de autoridade sobre elas; Mas entre vós não será assim; antes, qualquer que entre vós quiser ser grande, será vosso serviçal;E qualquer que dentre vós quiser ser o primeiro, será servo de todos. Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos (Mc 10:42-45).

Jesus diz com uma clareza cristalina: entre vós não será assim.
Ele está dizendo que a liderança na igreja será diferente da liderança no mundo. Terá que ser diferente, com um princípio OBRIGATORIAMENTE DIFERENTE.
Não será como o rei e seu povo, não será como o chefe e os funcionários, não será como o presidente e o país, não será como o empresário e os empregados, não será como o diretor da escola e os professores, não será como o técnico de futebol e o time, não será como o general e o exército.
As igrejas erram terrivelmente quando adotam um modelo de autoridade do mundo, se Jesus disse claramente que entre os Seus discípulos não será assim.
O que diz esta Palavra de Cristo é: “o maior não será senhor dos outros”, “o maior não usará de autoridade sobre os outros” (Mc 10:42).
Disse Jesus: NÃO SERÁ ASSIM.
O líder na igreja servirá aos outros. Será o servo dos servos. Não no sentido de que é o melhor servo, mas que é o que serve a todos. Ele não está no topo da pirâmide, ele está na base, sustentando os outros. É uma pirâmide invertida:





Dito isto, podemos refletir sobre:

a) O QUE A AUTORIDADE PASTORAL NÃO DEVE SER?

a.1. Não deve ser autoridade legislativa: Não tem direito o pastor de impor inúmeras regras e listas de proibições aos crentes, como se fosse um novo Moisés. O código de ética da igreja é a Bíblia, não devemos acrescentar coisas sobre ela.

a.2. Não deve ser autoridade abusiva:
O pastor não pode dar ordens específicas sobre a vida pessoal dos crentes, sobre as roupas, cabelos, aparência, horário de vida, emprego, escolha de namorados, criação dos filhos, etc. Sobre todas estas coisas o pastor pode e deve aconselhar, mas nunca dar ordens em nome de Deus.
Este problema ocorre quando as orientações deixam de feitas em termos de conselhos gerais ("o crente não deve usar símbolos de outras religiões") e começa-se a dar ordens específicas ("tira esse brinco!")

a.3. Não deve ser autoridade caprichosa:
Que exija que seja feita a sua vontade, que tudo seja do seu gosto pessoal, sobre a cor das paredes, o bolo da festa, a posição das cadeiras, etc. Não se estende a coisas superficiais e inócuas. Não devem ser os detalhes pequenos objeto de cobrança por parte do pastor. Pastor não é príncipe que deva ser agradado pela igreja, nem criança chorona que faça pirraça quando não é satisfeita.

a.4. Não deve ser autoridade acima da ética:
Inquestionável, que deva ser obedecida cegamente, sem exame da base bíblica.
Se o pastor estiver biblicamente errado, a igreja tem a obrigação de mostrar-lhe biblicamente seu erro. Se ele insistir em ir contra a Bíblia, devemos desobedecê-lo e prosseguir o processo bíblico da disciplina.
Alguém pensa que está acima do bem e do mal? Aos [presbíteros] que pecarem, repreende-os na presença de todos, para que também os outros tenham temor" (1Tm 5:20).
Muito mal tem causado a mentalidade de que "a responsabilidade é dele, vou obedecer assim mesmo". Na verdade, se omitir do bem é pecado de omissão (Tg 4:17). E é uma verdadeira ética da omissão, que tem triunfado nas nossas igrejas. Onde todos podem ser repreendidos, menos o pastor.
Assim temos afastado muitos do evangelho por não se poder esconder por muito tempo esta contradição.

a.5. Não deve ser uma autoridade imposta:
Não vem a autoridade pastoral do concílio que o ordenou, nem do culto de posse da igreja. Nem vem do seu diploma de teologia ou de outros estudos quaisquer que tenha feito. A autoridade pastoral não vem nem da sua convicção interior de chamado e orientação de Deus. “Ninguém toma para si esta honra”.
É a igreja local quem reconhece e chama alguém para ser pastor dela. É uma autoridade concedida pela igreja, para exercer uma tarefa, que pode ser retirada pela igreja quando esta julgar necessário.
A igreja segue a voz de Cristo, a partir do momento em que não reconhecer esta voz no pastor, deverá retirá-lo do cargo, do mesmo modo como o colocou.



b) SE NÃO É NADA DISSO, NO QUE SE BASEIA, ENTÃO, A AUTORIDADE PASTORAL?

b.1. A autoridade pastoral é conquistada pelo serviço que o pastor tem prestado a seus irmãos.
O salário do presbítero que se afadiga é a dupla honra (1Tm 5:17,18 - Nada a ver com dinheiro essa passagem!!! O que ela diz é: “o boi é digno de capim, o trabalhador é digno de salário, o presbítero é digno de honra”).
Analisemos o que Paulo diz em 1Co 16:16 - agora vos rogo, irmãos (sabeis que a família de Estéfanas é as primícias da Acaia, e que se tem dedicado ao ministério dos santos), que também vos sujeiteis aos tais, e a todo aquele que auxilia na obra e trabalha. Essa família não era composta dos pastores de Corinto, eram apenas os hospedeiros dos cultos da igreja, que aconteciam na casa deles.
Paulo nos diz para nos sujeitarmos a todo que trabalha pela obra da igreja: zeladores, introdutores, professores, pregadores, evangelistas, etc. além, claro, dos pastores. O sentido da sujeição cristã é colaborar com o trabalho dos crentes, que é, afinal, o trabalho de Deus através deles.
Por este texto, vemos que, na verdade, TODO CRENTE QUE SERVE E TRABALHA NA IGREJA MERECE A SUJEIÇÃO DOS SEUS IRMÃOS NO SEU TRABALHO.
Hb 13:17 diz que os crentes devem obedecer aos pastores porque [eles] velam por suas almas. É o dentro de trabalho de velar pelas almas que o pastor merece obediência. Este trabalho é o motivo e alvo da obediência. Os pastores não devem ser obedecido nas suas atitudes que não velarem pelas almas dos crentes.
Ez 34 fala extensamente sobre os pastores que não cumpriram seus deveres e por isso arruinaram a vida do povo de Deus, sendo rejeitados pelo Senhor. Nesse texto aprendemos que o verdadeiro pastor é aquele que cuida das ovelhas. Quem não cuida não é pastor de verdade, e não merece sujeição, pois não tem cumprido sua tarefa.

b.2. A autoridade pastoral é baseada na fé que o pastor demonstra.
A fé do Evangelho é digna de imitação e respeito, se for pura no pastor, e se ele a pratica na sua maneira de viver.
É o que Hebreus diz para imitarmos: Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver (Hb 13:7). Imitai a fé em Cristo. Imitai a confiança em Deus. Acompanhem o pastor na sua confiança e esperança em Deus.

b.3. A autoridade pastoral é baseada na maneira que o pastor vive.
Também por causa de Hb 13:7, devemos entender que a autoridade pastoral só tem sentido se for uma AUTORIDADE MORAL, conquistada pela coerência de vida cristã, pela obediência aos mandamentos de Deus e pela fidelidade aos princípios cristãos. Exemplo de vida cristã e obediência à Palavra de Deus.
E nisso é que temos a grande contradição da autoridade imposta. Pois se o pastor deve ser exemplo de obediência à Palavra de Deus, e a Palavra ordena aos crentes que sejam submissos uns aos outros, considerando os outros superiores a si mesmo (Ef 5:21; Fp 2:3), como pode ser exemplo de vida cristã o pastor que deseja que seus irmãos sejam submissos a ele, se ele não for submisso a seus irmãos também? Pois ele próprio estaria desobedecendo este mandamento.
Aliás, as passagens que falam da obediência dos crentes ao pastor em nenhum momento falam de autoridade ou poder do pastor sobre os crentes. Porque será? Resposta em Mt 28:18.

b.4. A autoridade pastoral é baseada na semelhança da vida do pastor com a vida de Cristo.
O pastor tem imitado a Cristo na mansidão? O pastor tem imitado a Cristo na humildade? O pastor tem imitado a Cristo na simplicidade material? O pastor tem imitado a Cristo na delegação de poderes? O pastor tem imitado a Cristo na compaixão pelas almas perdidas?
Sede meus imitadores como eu sou de Cristo (1Co 11:1). Ele deve ser seguido naquilo em que tem de parecido, ou concordante com Cristo, pois o alvo da imitação de todos, afinal, é Cristo.
O pastor não deve ser imitando nas coisas erradas que faz diferente do que Cristo faria, nisso não deve ser seguido.

Mas um pastor que seja parecido com Cristo nem precisa dar ordem alguma, mas os crentes fiéis o atendem prontamente pela consideração que ele conquistou, ao demonstrar um caráter semelhante a Cristo. Eles o seguem porque estão reconhecendo a vontade de Cristo, seu Verdadeiro Pastor, já que o pastor da igreja tem feito o que Cristo faria em seu lugar.


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