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segunda-feira, 9 de junho de 2008

Introdução à Disciplina na Igreja

O QUE É A DISCIPLINA DA IGREJA:
Quando aceitamos o convite da igreja de nos tornarmos discípulos de Jesus Cristo, nos submetemos a Ele como nosso Senhor. Porém nossa obediência a Cristo nunca é perfeita em nossa vida. Precisamos da disciplina de nossa igreja (nossos irmãos) para sermos ajudados a melhor obedecer a Cristo.
A disciplina consiste basicamente numa conversação fraterna entre os crentes que vise estimular o arrependimento dos pecados cometidos. É uma confissão de que precisamos de ajuda, para a nossa santidade pessoal, para a santidade da igreja e para a glória de Deus em nós.
Entendida desta forma, a disciplina é um dos meios ordenados por Deus para a nossa santificação.

OS MOTIVOS PARA A PRÁTICA DA DISCIPLINA NA IGREJA:
1 - Para que a santidade de Deus seja honrada. Santos sereis, porque eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo (Lv 19:2).
2 - Para evitar a disseminação do pecado. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa?(1Co 5:6b)
3 - Porque vivemos dentro de uma aliança de irmãos. Tenham os membros igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele (1Co 12:25b,26a).


ALGUNS ESCLARECIMENTOS SOBRE A DISCIPLINA:

1 - Há perigos e distorções na prática da disciplina, mas isso não deve nos impedí-la de praticá-la.
A disciplina foi ordenada na Palavra, e é boa para ensinar sobre a necessidade de santificação, sobre a seriedade do pecado e sobre a possibilidade sempre presente de perdão, libertação, reconciliação e restauração. Nenhum perigo da disciplina é maior que o perigo da letargia espiritual, e da falta de santidade nos crentes. É bom receber disciplina, tal como é bom para as crianças serem disciplinadas pelos pais, para nosso crescimento e edificação. Esta deve ser desejada, não evitada por nós.

2 – A autoridade de Cristo é que ordena a disciplina e o Espírito Santo foi dado à igreja também para guiá-la nessa prática.
O conhecido texto de Mt 18:20, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles, fala primeiramente das decisões que dois ou três crentes têm que tomar em nome de Cristo no processo de disciplina, no qual, Cristo garante, Ele se faz presente.
Por outro lado, Jo 20:22,23 também diz: Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes lhes são retidos, ou seja, o envio do Espírito Santo está ligado à capacitação e autorização da igreja para que lide com os pecados das pessoas, dentro da vivência do Evangelho.

3 - A disciplina é de todos para todos: todos os crentes devem disciplinar todos os crentes.
Em Mt 18:15-20, não vemos nenhum tipo de distinção entre os membros, nem em parte alguma do Novo Testamento. A única hierarquia que temos na igreja é a hierarquia numérica: a opinião de dois ou três irmãos é mais influente que a opinião de um só irmão; e a opinião de toda a igreja é mais influente que a opinião de dois ou três irmãos. Devemos portanto evitar estruturas de igreja que impeçam isso, por uma hierarquia que torne inatingível o pastor-presidente, ou o “super-apóstolo” no topo da pirâmide, mas sim ter uma estrutura igualitária. Mesmo os pastores devem se submeter à disciplina da igreja, porque todos disciplinam a todos.

4 – A atitude do crente e da igreja na disciplina é de curar, não de julgar. A melhor comparação do trabalho de disciplina não é com o trabalho de um juiz, nem o de um policial, ou promotor, ou jurado, ou carrasco. O crente que vai disciplinar outro atua como médico. O médico não julga, apenas se oferece para ajudar. O seu coração deve estar regado de amor pelo irmão. E no processo fica bem claro para o ofensor que enquanto ele está lutando interiormente contra o pecado, estamos lutando junto com ele.

5 - O objetivo da disciplina é simplesmente o arrependimento do disciplinado. Não é julgar, nem condenar, nem punir, nem castigar ou retaliar a pessoa pelo pecado. Nenhum pecado é castigado na disciplina cristã, a não ser o pecado da falta de arrependimento. Mesmo no último caso, o da exclusão, esta não acontece por causa do pecado cometido, mesmo que seja grave, mas por causa da insistência do membro em não se arrepender do seu pecado.

6 – DEVEMOS GUARDAR SEGREDO, e estamos PROIBIDOS de falar mal de nossos irmãos[1]. Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga a seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei; e, se tu julgas a lei, já não és observador da lei, mas juiz (Tg 4:11). Nem podemos fazer qualquer crítica a respeito deles, se não tivermos falado com ele sobre o assunto ainda. A chave de todo este processo é a CONFIDÊNCIA. Nenhuma palavra falamos a respeito dos pecados e erros de nosso irmão a não ser com ele em primeiro lugar.

Só falamos com outra pessoa sobre o erro de um irmão se:
1) Já cumprimos todo o processo do 1º Passo (“entre ti e ele só”).
2) Ele demonstrou irremediável falta de arrependimento.
3) Estamos falando para chamar a pessoa a ajudar a resolver o problema (para executar o 2º Passo).

O motivo principal de estarmos proibidos de falar mal de nossos irmãos é a própria mensagem do Evangelho: quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica! (Rm 8:33). É trágico que Paulo tenha escrito este hino de vitória contra os inimigos da Igreja, e o que mais vemos é os irmãos comportando-se como se eles fossem inimigos uns dos outros. Cristo riscou a cédula que era contra nós nas Suas ordenanças... e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz (Cl 2:14). Desde então nenhuma condenação há para quem está em Cristo Jesus (Rm 8:1).
Ousaremos desmentir esta Palavra? Cristo pagou todas as dívidas ou não? Se sim, porque ainda cobramos as dívidas dos outros? Porque não sofremos, antes, o dano (1Co 6:7)? O perdão dos pecados conquistado na Cruz não deve ser considerado só de mim para Deus, mas também que, por causa do sangue de Cristo, toda a culpa dos meus irmãos também deve ser anulada, não porque ele merece, mas porque Cristo merece, e Cristo conquistou o perdão dele na Cruz. Todo mal que meus irmãos fazem também foi pago na Cruz.
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[1] Uma exceção possível seria no caso em que nosso irmão comete um crime grave digno de ser denunciado às autoridades civis, ou que está ameaçando a vida de outras pessoas.
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Grande parte deste material (sobre os cinco passos da disciplina) foi inspirado / extraído de:
Hal Wynn. O “porquê” da disciplina bíblica; O “como” da disciplina bíblica. Pregações gravadas. (28/03/2008)
Jim Adams. Conselheiro Capaz. Ed. Fiel, 1977.
Jim Eliff & Daryl Wingered. Disciplina na Igreja. Ed. Fiel, 2006.
John Driver. Contra a Corrente. Ed. Cristã Unida, 1994.
Paul Freston. Culpa e Graça. Ed. ABU, 1994.

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